O desafio do fim das relações é conseguir encontrar uma maneira de não deitar por terra tudo o que custou tanto a construir; um território virgem onde se possa mediar a paz, e fazer um acordo sobre o futuro. Às vezes não resta nada, e o luto desses amores que queimaram tudo à volta é o mais triste de todos.
QUANDO EU ERA pequenino achava que a idade dos meus pais era uma coisa feita de muitos números, e do dobro em problemas. Era uma coisa que estava tão lá ao longe, onde já havia cabelos brancos e ombros que ficavam pesados com os problemas dos dias. Imaginava o que seria ter a idade deles, viver nessa terra tão longínqua, mas sempre com a distância de segurança que a infância me dava. Eles iam andando à frente para ver de que males haveria eu de fugir, que armas teria de preparar, e que medos devia eu manter ou mandar embora. Eu no tapete da sala a ser muitas personagens diferentes numa quinta da Playmobil, e os pés deles a passarem de um lado para o outro, umas vezes devagar, outras vezes apressados, a resolverem coisas que me pareciam demasiado complicadas para o meu tamanho. Eles estavam muito longe em anos, mas muito perto no amor que tinham por mim; era o amor que fazia esse corta-mato. Os pais só passam a ter uma idade certa quando os vemos ao lado dos amigos deles. Lembro-me da primeira vez que percebi que eles não iriam estar cá para sempre. A angústia de nos tirarem a imortalidade dos pais é uma dor que nunca mais se esquece. Eu descansado a achar que eles iam viver até eu ser muito velhinho, até um dia eu não me lembrar sequer que tinha pais. Eles desapareciam de dentro de mim numa daquelas doenças da cabeça que roubam tudo o que se viveu, e em que se fica pequenino outra vez sem saber com o que contar. Hoje que tenho a idade que eles um dia tiveram quando eu era pequenino, dou-me pior com a ideia de um dia eles já não estarem cá.
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O regresso de Ventura ao modo agressivo não é um episódio. É pensado e planeado e é o trilho de sobrevivência e eventual crescimento numa travessia que pode ser mais longa do que o antecipado. E que o desejado. Por isso, vai invocar muitos salazares até lá.
É muito evidente que hoje, em 2025, há mais terraplanistas, sim, pessoas que acreditam que a Terra é plana e não redonda, do que em 1925, por exemplo, ou bem lá para trás. O que os terraplanistas estão a fazer é basicamente dizer: eu não concordo com o facto de a terra ser redonda.