A Inteligência Artificial não é sustentável, só estamos a fingir que sim
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Vivemos num aqui-e-agora permanente, num ambiente digital que se infiltrou em todas as dimensões da vida e do trabalho. E, fascinados, desenvolvemos uma espécie de dissonância coletiva que atribui ao digital a solução para quase tudo.
Quando, há trinta anos, começámos a descobrir essa maravilha chamada internet, estávamos longe de imaginar o que viria a tornar-se: uma infraestrutura central do quotidiano e uma força modeladora da vida social. No início dos anos 90, as primeiras ligações comerciais permitiam usos básicos, o correio eletrónico, alguns serviços remotos. Os sites tinham um design básico. A seguir, vieram as ligações mais rápidas, primeiro o ADSL nos anos 2000 e, mais tarde, a fibra, que eliminou o compasso de espera entre clicar e, de facto, navegar. Em comparação com o dia de hoje, tudo era lento, limitado e experimental.
À medida que o acesso se popularizou, criou-se também uma nova cultura digital que começou a absorver parte significativa da nossa vida quotidiana. A massificação chega a meio dos anos 2000, o que significa que, historicamente, foi há muito pouco tempo. No entanto, entre os que tiveram de aprender esta nova linguagem, já adultos, e os que cresceram dentro dela, instalou-se um fosso geracional no qual uns acreditam saber tudo e outros nada sabem. A verdade é mais simples: ninguém sabe. A literacia mediática e digital não acompanhou o ritmo da tecnologia, e apenas uma minoria procurou compreender o contexto e o funcionamento destas ferramentas. A maioria limita-se a usá-las, sem grande consciência do seu potencial ou das suas implicações.
Durante anos repetimos a ideia (muito gasta) de que temos “o mundo na palma da mão”. O paradigma mudou profundamente. Vivemos num aqui-e-agora permanente, num ambiente digital que se infiltrou em todas as dimensões da vida e do trabalho. E, fascinados, desenvolvemos uma espécie de dissonância coletiva que atribui ao digital a solução para quase tudo. Não é a origem de todos os males mas não anda muito longe disso. Como qualquer ferramenta digital ou tecnologia, tem vantagens e desvantagens, mas deixámo-nos embalar por uma confiança acrítica que nos leva a adoptar sem pensar. Uma espécie de euforia que suspende o discernimento e favorece uma relação preguiçosa com o mundo.
A inteligência artificial (AI) segue exatamente o mesmo padrão. Pode ser a nossa maior aliada, mas também a nossa maior desgraça. O Pior? Ainda não sabemos muito bem qual dos caminhos estamos a percorrer. Atiramo-nos de cabeça para este novo contexto porque a promessa do facilitismo é irresistível. Eu também cedi.
Um estudo recente, desenvolvido por uma empresa do sector em parceria com a CIP (Confederação Empresarial de Portugal) e a DSPA (Data Science Portuguese Association), revela que a maioria das pessoas já integrou ferramentas de IA no quotidiano, mas sem compreender verdadeiramente o que está a usar. A utilização é superficial e descoordenada; a maioria nunca recebeu formação ou, quando recebeu, foi introdutória e insuficiente. Impõe-se a pergunta: sabemos sequer usar aquilo que usamos?
Tal como muitos não distinguem “internet” de “online”, não sabem rever definições de privacidade ou manter o telefone seguro, também acreditam que ferramentas como o ChatGPT servem para tudo: de receitas a respostas para emails ou trabalhos escolares. Mas o que acontece aos dados que entregamos? Como garantir que a informação não está errada, enviesada ou simplesmente inventada? Como perceber se a resposta procura agradar ou se é objetivamente produzida? E que fontes estão, de facto, por detrás do que nos é apresentado?
E depois há o resto: o consumo energético e hídrico colossal dos centros de dados que suportam estes sistemas, as infraestruturas necessárias para treinar e manter modelos de IA e o impacto ambiental real, e pouco discutido, desta economia digital que exige cada vez mais recursos naturais.
Estamos a reciclar informação num ciclo quase infinito: escrever, publicar, reinterpretar via IA, voltar a publicar, como se tudo fosse matéria indistinta pronta a ser reprocessada. No meio disto, manter pensamento crítico parece um luxo. Será assim tão difícil pensar?
A Inteligência Artificial não é sustentável, só estamos a fingir que sim
Vivemos num aqui-e-agora permanente, num ambiente digital que se infiltrou em todas as dimensões da vida e do trabalho. E, fascinados, desenvolvemos uma espécie de dissonância coletiva que atribui ao digital a solução para quase tudo.
Cliques e emoções substituíram rigor e independência. Talvez o legado de Pinto Balsemão possa lembrar que ética, critério e responsabilidade são os alicerces de uma sociedade sustentável e de uma esfera pública saudável.
No feudalismo medieval, o feudo era a unidade básica: uma porção de terra concedida por um senhor a um vassalo, em troca de lealdade e serviço. A terra determinava o poder.
Esquecemo-nos muitas vezes de que, para usarmos ferramentas de inteligência artificial, precisamos, na generalidade das situações e plataformas, de ser capazes de produzir um conjunto de instruções detalhadamente objetivas para conduzir o processo.
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Vivemos num aqui-e-agora permanente, num ambiente digital que se infiltrou em todas as dimensões da vida e do trabalho. E, fascinados, desenvolvemos uma espécie de dissonância coletiva que atribui ao digital a solução para quase tudo.
Vladimir Putin alcançou o objectivo estratégico de dissociar a defesa europeia da intervenção militar norte-americana ambicionado pelos comunistas soviéticos.