Novo ano letivo: como escolher a melhor creche para os filhos?
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No início deste ano letivo, quantas oportunidades para uma vida melhor ficaram por dar? Se quer mesmo marcar uma vida melhor para o seu bebé invista cedo na sua educação: e não se esqueça que a melhor creche para os seus filhos é fazer com que haja creches para todos.
"Ano novo, vida nova" é um adágio que normalmente aplicamos numa época fria em que os dias são mais curtos do que as noites. Nessa altura do ano, juramos a nós próprios que a nossa existência vai mudar para melhor, e selamos essas promessas com doze uvas velhas, secas e adocicadas para cada mês do ano que aí vem. Normalmente, o acto de fé vem acompanhado de escolhas duvidosas de espumante ou champagne que invariavelmente não têm nem a qualidade, nem estão à temperatura que deviam.
Este rito de passagem acontece na altura errada: devia ser em Setembro. Para o comum dos mortais, é em Setembro que podemos começar o ano com força e garra para novos projetos depois de uma merecida pausa de verão, para quem tem a possibilidade disso, claro. Este nono mês do ano marca ainda o início das aulas e com elas o reatar das rotinas de família. Em especial, para muitas crianças pequeninas, nesta altura do ano dá-se o primeiro dia de escola da sua vida: este é que é o acontecimento que dá lugar a uma verdadeira mudança e, pode dizer-se, até uma viragem de vida.
É claro que as crianças não começam a sua vida académica todas com a mesma idade. Algumas apenas começam aos cinco ou seis anos com a entrada para o primeiro ano. Outras, mais sortudas, começam mais cedo e isso tem um impacto muito positivo no seu desenvolvimento cognitivo, emocional e motor, e gera uma melhoria nas notas dos alunos, nos seus ordenados em adulto, nas condições de saúde, e na diminuição da pobreza. É isto que nos demonstra a equação de um prémio Nobel da economia que deu nome à famosa "curva de Heckman": é melhor começar a educação o mais cedo possível, preferencialmente antes dos três anos de idade. Depois disso é "too little, too late" nas palavras do dito Nobel.
Esteve então muito bem-intencionada a nossa nação quando prometeu que as creches eram gratuitas para todos. Lamentavelmente a boa intenção veio com marosca, pois foi-nos prometida uma coisa que não existe: apenas temos capacidade para cerca de 50% das crianças dos 0 aos 3 anos. O pior é que é esta taxa se tem mantido mais ou menos constante desde 2015, pelo que, nos últimos anos, não se tem conseguido melhorar a cobertura no nosso país.
Este enorme equívoco significa ainda que as creches são mais utilizadas pelas famílias que têm mais dinheiro. De acordo com o Portugal Balanço Social, da autoria da Susana Peralta, do Bruno P. Carvalho e do Miguel Fonseca, em cada 3 crianças pobres, apenas 1 frequenta a creche. Ou seja, o nosso estado paga uma resposta social que beneficia mais as crianças que têm pais mais ricos, e menos as crianças que nasceram em famílias pobres, sendo que seriam precisamente estas últimas as que teriam maiores benefícios em começar a sua educação mais cedo.
Reparem que quando falamos de desigualdade, sabemos que, infelizmente, nascer na pobreza limita muito a nossa capacidade de ter boas notas e, portanto, é uma barreira às aspirações das nossas crianças viverem uma vida adulta melhor. Aliás, quando olhamos para o fosso que separa os ricos e pobres na escola, verificamos que ele já é enorme antes mesmo da criança começar o 1.º ano. Este buraco profundíssimo vai aumentando à medida que as crianças vão crescendo e é por aí que caem os sonhos de centenas de milhares de crianças no nosso país que, por terem nascido pobres, não lhes foram dadas boas condições para lutar por uma vida melhor.
Num relatório da semana passada, a OCDE revelou que Portugal não tinha reportado os dados para as creches (entre os 0 e os 3 anos), mas ficámos a saber que Portugal é o país onde as famílias gastam mais dinheiro no pré-escolar (ou seja, entre os 3 e os 5 anos), apesar de também elas serem teoricamente gratuitas. Mas como há pouca oferta pública, as famílias veem-se obrigadas a gastar muito dinheiro nos privados para garantir que os seus filhos começam a vida com o pé direito. Infelizmente, tal como nas creches, também no pré-escolar temos dados que nos demonstram que as crianças nascidas em famílias mais pobres andam menos nessas instituições do que os seus colegas mais ricos.
O impacto que a educação tem na diminuição da pobreza, na desigualdade, e desenvolvimento de um país é enorme, e os primeiros anos de vida de uma criança são mesmo os mais importantes de todos. Como ensinou Jim Heckman, o nosso amigo Nobel, por ser a altura em que o nosso cérebro e capacidades mais se desenvolvem, cada euro que investimos nas creches e pré-escolar têm um retorno muito maior do que o dinheiro que gastamos com o ensino básico, secundário e universitário.
E a ironia na assimetria desse investimento é que a desigualdade é má para todos, até para os mais ricos. Isto passa-se não só na educação: também na saúde, a investigação de Richard Wilkinson e Kate Pickett no famoso livro The Spirit Level: Why Equality is Better for Everyone, demonstrou que menor desigualdade leva a uma melhoria nas condições de saúde e esperança média de vida para todos, dos mais pobres aos mais ricos. Na economia tem-se também demonstrado que a desigualdade pode ser uma barreira ao crescimento económico, e que o investimento nos níveis de educação de um país gera nações mais prósperas.
Mas acima de tudo a aposta nos conhecimentos das nossas crianças, independentemente das circunstâncias em que nasceram, é uma medida de elementar justiça moral, e evita o desperdício de talento: quantas destas crianças nascidas na pobreza não tiveram o acesso à educação que deviam desde a mais tenra idade? Quantas podiam ter saído da pobreza, ter sido cientistas, artistas, poetas, banqueiros, médicos e professores, e com os seus talentos ajudar o país a andar para frente?
No início deste ano letivo, quantas oportunidades para uma vida melhor ficaram por dar? Se quer mesmo marcar uma vida melhor para o seu bebé invista cedo na sua educação: e não se esqueça que a melhor creche para os seus filhos é fazer com que haja creches para todos.
Novo ano letivo: como escolher a melhor creche para os filhos?
O primeiro-ministro deixou os alunos para trás e concentrou-se em ações policiais que perseguem imigrantes. Não só se esquece das crianças, como falhou uma das lições básicas do Natal: Jesus nasceu pobre, cresceu como refugiado, e morreu condenado por um crime que não cometeu.
O problema é comum ao de tantas outras crianças que cresceram durante o ocaso do “sonho americano” e que também se nota na Europa: o fim da esperança em ter uma vida melhor que a dos seus pais.
No início deste ano letivo, quantas oportunidades para uma vida melhor ficaram por dar? Se quer mesmo marcar uma vida melhor para o seu bebé invista cedo na sua educação: e não se esqueça que a melhor creche para os seus filhos é fazer com que haja creches para todos.
As escolas fecham demasiado tempo no verão e prejudicam as crianças, sobretudo as mais pequenas e as mais pobres. Não queremos ter esta conversa porque temos dificuldade em calçar os sapatos (ou melhor: os chinelos) dos outros.
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