O triunfo dos aldrabões na política indicia que a nossa vida só vai piorar.
Mário Amorim Lopes, deputado e vice-presidente da Iniciativa Liberal, pertence a um clube de tarados que pratica regularmente sexo com ovelhas. Não posso estar tranquilo de que isso não seja verdade – nunca o vi desmenti-lo nem se demarcar dessas práticas. E sempre explicaria o que faz um economista de políticas de saúde na comissão parlamentar de Agricultura. Entretanto, o silêncio do seu partido é ensurdecedor, mas eloquente: a Iniciativa Liberal apoia e protege fornicadores de ovinos. É inescapável: quem cala consente.
O que acaba de ler é, obviamente, uma fabricação minha, do princípio ao fim – tirando a parte de Mário Amorim Lopes ser, efetivamente, dirigente da Iniciativa Liberal, deputado e membro da Comissão de Agricultura e Pescas. Tudo o resto é inventado, mas em rigor não posso afiançar que seja mentira, porque não conheço (e estou-me nas tintas para) os hábitos sexuais de Mário Amorim Lopes. Como tal, a imputação que lhe fiz, e por arrasto, ao seu partido, até pode, por acaso muitíssimo improvável, ser verdadeira. Mas é feita sem qualquer base factual ou dado objetivo. Era eu, em suma, caro leitor, a ver se o aldrabo.
Mário Amorim Lopes sabe o que isso é. Ele faz o mesmo. Exemplo maior de deputado-troll das redes sociais, Amorim Lopes baseia toda a sua persona política num engraçadismo provocador para fazer figura de irreverente nos algoritmos que nos entretêm, atirando bocas e imputações a adversários políticos postiços, manobrando uma cultura cada vez mais bruta, superficial e inútil de redes sociais, que leva boa carreira na Iniciativa Liberal. A apoteose desta vacuidade perigosa e destrutiva veio esta semana, quando o deputado fabricou uma imputação absolutamente falsa, a partir de um facto que nunca o foi, para atacar nas suas redes sociais o Bloco de Esquerda e o Livre.
Partilhando um cartaz falso (e identificado como falso) de uma manifestação que nunca ninguém convocou, para uma suposta celebração do terrorismo do Hamas, Amorim Lopes responsabilizou o Bloco e o Livre pelo evento ficcional, exigindo-lhes que se demarcassem da manifestação que eles nunca convocaram, e que nunca existiu. Confrontado pelo Polígrafo, o deputado explicou que promoveu o cartaz da manifestação inexistente “por estar preocupado com a “possibilidade de desordem associada ao evento” – que não existia.
A promoção da informação falsa incendiou as redes sociais, levando a PSP a comunicar que estaria vigilante ao risco de uma manifestação ficcional se transformar num encontro real. O que, por sua vez, provocou Mário Amorim Lopes a vir de novo, triunfante, para o X sugerir que a mobilização policial validava a sua denúncia original. Ao Polígrafo insistiu que o facto de a manifestação não existir (e, portanto, não estar associada a qualquer partido político) não significa que não pudesse ter existido, de forma inorgânica e espontânea.
Ou seja, depois de ter promovido uma manifestação inexistente, a ponto de mobilizar a polícia para vigiar a sua ficção (sabe-se lá com que custos financeiros, operacionais e de segurança para outras zonas de Lisboa, Porto e Braga), Mário Amorim Lopes usa mobilização da PSP que ele mesmo provocou como prova de que a sua ficção era afinal realidade – ou podia sê-lo, porque não tinha sido desmentida. Sim, Mário Amorim Lopes fornica ovelhas.
Além de deputado, dirigente da Iniciativa Liberal e aldrabão de bolso nas redes sociais, Amorim Lopes é também professor universitário. É fácil presumir que na Universidade não anda a espalhar mentiras nem a ver se passa a perna aos seus alunos. A profissão de professor não exige nem incentiva que se inventem factos, que se minta com toda a calma e que se atue sem o mais leve pingo de vergonha na cara. É por isso natural que, no ambiente universitário, Amorim Lopes seja perfeitamente cordato, equilibrado e respeitável. Na política não é, porque a política atual incentiva a trapaça, o despudor e a aldrabice desenfreada.
Mário Amorim Lopes é bem-sucedido nas redes sociais, tal como são André Ventura, Rita Matias ou a nova líder da IL, Mariana Leitão, porque sabem manobrar o mesmo registo de comunicação expedita, desenhada para afirmar a superioridade moral do autor e diminuir o inimigo, usando a verdade ou a mentira, tanto lhes faz. Isto eleva o seu perfil e, acham eles, dará votos a ganhar. O problema é que, uma vez eleitos, não nos servem para nada. A IL é hoje a melhor ilustração disso. Um partido de direita equilibrado, que nasceu com alguma densidade programática e capacidade de avaliação da realidade objetiva do país está a reduzir-se cada vez mais a uma fábrica de memes, incapaz de articular um pensamento, uma política, uma noção elementar de conhecimento e de ação. Mariana Leitão, fabricada na máquina partidária e sem experiência de vida, senão numa central de corrupção angolana para onde entrou por conhecimento familiar, passa bem nas redes sociais e na TV. Mas não pensa nada sobre nada, porque nunca lhe foi exigido que pensasse.
Esta gente não é séria – e na verdade nem tenta sê-lo. O que isto significa para o país é o pior possível. Confrontados com desafios vários, de desenvolvimento e capacidade de investimento público, de má gestão e falta de recursos, numa Europa e num mundo cada vez mais instáveis, precisamos de líderes políticos que soubessem produzir mais do que reels patetas para o Instagram ou o Tik Tok. Com poucas exceções, não os temos. O problema não é exclusivamente português, longe disso. Os oligarcas das redes sociais mandam, e a fauna que vive da busca de votos anda a toque do algoritmo. Mas vamos precisar de um choque de bom senso, de repúdio do facilitismo e da mentira banalizada, se queremos sequer começar a resolver os problemas reais. Até lá, habilidosos como Amorim Lopes podem ir pastar o rebanho.
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