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Travis King, o soldado dos EUA que fugiu para a Coreia... do Norte

Andreia Antunes com Leonor Riso 19 de julho de 2023 às 20:50

O soldado norte-americano esteve detido na Coreia do Sul durante dois meses, antes de atravessar a fronteira. A situação lança Washington numa nova crise com Pyongyang.

O soldado americano que fugiu para a Coreia do Norte, identificado como Travis King, juntou-se a uma excursão de visita à aldeia de Panmunjom quando atravessou a Linha de Demarcação Militar que separa as duas Coreias, segundo as autoridades norte-americanas. O motivo ainda é desconhecido. 

Travis King (de camisa preta e chapéu preto) Sarah Leslie/Handout via REUTERS

Travis tinha sido escoltado até o aeroporto de Icheon, perto de Seul, para regressar aos Estados Unidos. Quando chegou à porta de embarque abordou um funcionário da American Airlines, e afirmou que o seu passaporte tinha desaparecido. O funcionário acompanhou-o até à zona das partidas onde se separou da sua escolta.

O soldado decide então sair do terminal e embarcou numa excursão à Zona Desmilitarizada, entre as Coreias. Após a excursão chegar ao destino, o soldado correu para a Coreia do Norte.

"Tudo aconteceu muito rapidamente", referiu Sarah Leslie à Reuters, que estava na Área de Segurança Conjunta da Zona Desmilitarizada com outros 40 turistas que estavam a passear e a tirar fotografias nos momentos que antecederam a corrida de King para a Coreia do Norte.

As forças armadas norte-americanas tentavam, esta quarta-feira, determinar o destino de King, depois de, segundo as autoridades, ter atravessado voluntariamente e sem autorização a fronteira da Coreia do Norte, o que lança Washington numa nova crise de relações com aquele estado.

Travis King esteve detido dois meses na Coreia do Sul. Em setembro de 2022, o soldado tinha começado a ser investigado por suspeitas de agressão a um cidadão coreano num clube noturno em Seul.

Em fevereiro deste ano, o soldado foi multado em 5 milhões de won (3521 euros) após ter "pontapeado repetidamente" a porta de um carro da polícia, causando centenas de euros em estragos. Travis não colaborou quando foi detido pela polícia local e estava a gritar palavrões sobre os coreanos e o exército coreano.

Segundo informações locais, o jovem foi libertado a 10 de junho, depois de ter cumprido dois meses de prisão sob a acusação de agressão. Após ser libertado, foi colocado sob observação militar por cerca de uma semana na Coreia do Sul.

Travis King cruzou a Coreia do Norte na terça-feira "intencionalmente e sem autorização", disse o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin. "Acreditamos que ele está sob custódia [norte-coreana] e por isso estamos a acompanhar de perto e a investigar a situação, e a trabalhar para notificar os familiares mais próximos do soldado", refere Austin numa reunião.

O Comando das Nações Unidas, que supervisiona a segurança na zona fronteiriça, comunicou através de uma linha direta com os norte-coreanos sobre o soldado norte-americano. Os militares dos Estados Unidos estão "a trabalhar com os nossos homólogos do Exército Popular da Coreia do Norte para resolver este incidente", referiu o coronel Isaac Taylor, porta-voz das Forças dos Estados Unidos na Coreia. "Nós comunicamos com os norte-coreanos todos os dias, faz tudo parte do acordo de armistício", acrescenta.

O incidente ocorreu no momento em que altos funcionários sul-coreanos e norte-americanos realizavam a primeira ronda de conversações sobre o reforço da coordenação em caso de guerra nuclear com a Coreia do Norte. E num momento de maior tensão entre as Coreias, com a chegada de um submarino de mísseis balísticos com armas nucleares dos Estados Unidos, seguida de um teste de lançamento de dois mísseis balísticos ao mar, na quarta-feira, pela Coreia do Norte.

Não se sabe ao certo quanto tempo as autoridades norte-coreanas vão reter o soldado, mas um antigo diplomata norte-coreano que desertou para o Sul disse que King pode ser um instrumento de propaganda para a Coreia do Norte e uma perda de prestígio para os Estados Unidos.

Outro entendimento tem Tae Yong-ho, deputado da Coreia do Sul. "Tendo em conta os casos anteriores de militares norte-americanos que foram para o Norte, deter um soldado americano é provavelmente uma dor de cabeça não muito rentável para o Norte a longo prazo."

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