Tokuryū: o novo modelo de organização criminosa que está a tomar conta do Japão
São maioritariamente jovens que de forma anónima se associam para cometer crimes que vão de assaltos a assassinatos. Com uma organização mais fluída do que a máfia tradicional japonesa e contratações através das redes sociais são um desafio para as autoridades.
Com a popularidade e os membros da máfia japonesa - Yakuza - em queda, uma nova ameaça está a surgir para a segurança do Japão. Os Tokuryu já levaram a cabo milhares de crimes e mais de 10.000 elementos foram detidos entre setembro de 2021 e fevereiro de 2023.
Ao contrário da Yakuza, que tem uma estrutura hierárquica e códigos de condutas rigorosos, os Tokuryu, não tem uma estrutura organizacional, em comum partilham o facto de as suas atividades se estenderem até para o estrangeiro. Composto maioritariamente por jovens - que atuam de forma anónima -, os crimes passam de pequenos roubos e fraudes a assaltos e assassinatos.
A maior parte das pessoas detidas têm sido recrutadas para um yami-baito – um trabalho ocasional obscuro. Vários relataram à polícia que foram recrutados pelo Instagram e que sofreram ameaças contra si e as suas famílias de forma a garantir que continuavam a obedecer às ordens.
O novo fenómeno
Em maio de 2023, três jovens com idades compreendidas entre os 16 e os 19 anos foram recrutados através da internet para um assalto. Entraram os três mascarados numa relojoaria de luxo, em Tóquio, onde roubaram 74 relógios no valor de cerca de 300 milhões de ienes (cerca de 1,7 milhões de euros). Os três e o condutor da fuga foram detidos poucas horas depois.
Um dos arguidos, de 18 anos de idade, foi condenado a quatro anos e meio de prisão, em setembro do ano passado, após ter-se declarado culpado. Outros dois membros, ambos com 19 anos, foram condenados também a quatro anos e meio de prisão em outubro. Já o quarto membro, de 16 anos, foi enviado para o centro juvenil.
Um oficial da polícia de Tóquio mencionou ao jornal japonês Gendai Media que: "Por detrás dos jovens não estava um grupo Yakuza, mas sim uma rede de fraude composta por membros de grupos de crime organizado e quase-gangsters da região de Kanto [perto de Tóquio]."
Os esforços para identificar o principal culpado nestes casos são um desafio para as autoridades japonesas, uma vez que os suspeitos alegadamente contratados para levar a cabo o crime parecem não ter qualquer ligação entre eles ou com a pessoa fonte das instruções.
Aumento da violência
Desde o surgimento deste grupo, tem havido aumentos das pessoas detidas. De acordo com a Agência Nacional da Polícia, mais de 10 mil pessoas detidas entre setembro de 2021 e fevereiro de 2023 estão classificadas como pertencentes ao grupo Tokuryu.
Os crimes violentos são raros no Japão, mas este grupo acaba por ser responsável por dezenas de assaltos ocorridos por todo o país entre 2021 e 2023, um dos quais acabou por resultar na morte de uma mulher de 90 anos.
Alguns assaltos estão a ser atribuídos a um grupo japonês que opera a partir das Filipinas, apelidado de "Luffy" (uma popular personagem de manga e imagem que um dos líderes usa nas aplicações de mensagens). Além dos assaltos, o grupo está ainda ligado a fraudes telefónicas e extrorção de empresários japoneses em Manila. Já mais de 30 dos seus membros foram extraditados para o Japão e alguns estão detidos nas Filipinas. Também foram encontrados grupos a operar no Camboja, Tailândia e Vietname, locais onde se sabe que os Yakuza também tinham negócios.
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