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Sérvia deverá ir a eleições em abril após demissão de primeiro-ministro

Gabriela Ângelo 29 de janeiro de 2025 às 14:49

Queda de Milos Vucevic destabiliza governo do presidente Aleksandar Vucic, alvo de protestos desde a queda de um telhado numa estação ferroviária em novembro. Morreram 15 pessoas.

Aleksandar Vucic, o presidente da Sérvia, colocou a hipótese de avançar com eleições em abril depois de o seu primeiro-ministro ter apresentado a demissão na terça-feira, 28 de janeiro. Apesar da demissão os protestos contra o seu governo, originados pela queda em novembro de um telhado de uma estação ferroviária em Novi Sad, não cessaram. 

Darko Vojinovic/AP

A demissão de Milos Vucevic destabilizou o governo de Vucic, aponta a agência noticiosa Reuters, e fez com que a oposição pedisse a formação de um governo interino. O presidente sérvio disse durante um discurso televisivo que iria ponderar sobre o próximo passo durante os próximos dez dias. "As novas eleições poderiam realizar-se em abril. Um governo interino está fora de questão."

No dia 1 de novembro de 2024, o telhado da recentemente renovada estação de comboio de Novi Sad caiu, matando 15 pessoas. No dia seguinte, o Movimento Estudantil da universidade da mesma cidade que conta com cerca de 50 mil estudantes, organizou protestos para exigir explicações e a abertura de um inquérito sobre os responsáveis pela supervisão do projeto de construção, pedindo ainda a demissão do ministro da Construção dos Transportes e das Infraestruturas e o ministro do Comércio. 

O Governo procurou satisfazer as exigências dos estudantes com a desclassificação de documentos sobre a queda da estrutura na estação, que ocorreu pouco depois de ter sido renovada por um consórcio liderado pela China.

Os manifestantes acreditam que o colapso foi causado por corrupção e por cortes significativos na construção. Treze pessoas foram acusadas pelo desastre, incluindo o antigo ministro dos Transportes da Sérvia, Goran Vesic, que se demitiu dias depois do colapso. Negou ter culpa, mas anunciou que ia "fazer o seu melhor" para responsabilizar os políticos envolvidos, incluindo colegas do próprio partido. O ministro do Comércio, Tomislav Momirovic, também se demitiu pouco tempo depois. 

No entanto, o governo de Vucic continuou a lidar com a pressão, tanto que o primeiro-ministro, Miloš Vucevic, apresentou também a sua demissão numa conferência de imprensa terça-feira. "Estou muito orgulhoso do que alcançámos nos últimos nove meses, mas o que aconteceu em Novi Sad colocou uma nuvem negra sob o governo", reconheceu, acrescentando ainda que o país "parece ter ficado preso neste acidente". O presidente da câmara de Novi Sad demitiu-se pouco depois. 

Depois de um número recorde de 100.000 pessoas terem comparecido no protesto estudantil em Belgrado, a 22 de dezembro, Vucic ameaçou-as, dizendo que as forças especiais da Sérvia iriam "atirá-las de um lado para o outro em 6-7 segundos". Mas a ameaça foi ridicularizada e, até à data, o Presidente ainda não tentou utilizar as forças de segurança para acabar com os protestos.

Ainda não é claro se a demissão do primeiro-ministro irá apaziguar as tensões. De segunda para terça-feira os estudantes, acompanhados de professores, agricultores e residentes, realizaram um bloqueio ao principal nó rodoviário de Belgrado, a Autokomanda, demonstrando o seu descontentamento com o governo e em particular com o presidente. Quatro estudantes terão sido atacados durante a noite por um grupo pró-governo.

O aparecimento de agricultores e tractores serviu como eco dos protestos em massa e da marcha sobre Belgrado que acabaram por derrubar o regime do antecessor de Vucic, Slobodan Miloševic, em 2000. Os protestos surgiram após as eleições locais terem desvendado resultados fraudulentos, exigindo que Slobodan Miloševic concedesse a vitória à oposição. 

A Sérvia candidatou-se à adesão à União Europeia em 2009, mas o seu alinhamento com a Rússia e as dúvidas sobre o seu empenho na manutenção da democracia têm impedido a sua adesão.

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