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"PodeLia seL o Cebolinha": PGR do Brasil pede inquérito contra ministro por racismo sobre chineses

15 de abril de 2020 às 07:50

No início do mês, o ministro da Educação brasileiro, Abraham Weintraub, partilhou nas redes sociais uma imagem com a personagem Cebolinha da banda desenhada "Turma da Mónica" para sugerir que a pandemia do novo coronavírus faz parte de um "plano infalível" da China para dominar o mundo.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) do Brasil pediu, na terça-feira, ao Supremo Tribunal Federal a abertura de um inquérito contra o ministro da Educação, Abraham Weintraub, por alegado racismo contra chineses.

O vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques, que assinou o pedido de abertura do inquérito, defendeu que a conduta do governante se enquadra, em tese, em crime racial, "por praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional", cuja pena vai de um a três anos de prisão e multa.

Em causa está uma mensagem partilhada por Weintraub no início do mês, na rede social Twitter, em que usou a personagem Cebolinha da banda desenhada "Turma da Mónica" para sugerir que a pandemia do novo coronavírus faz parte de um "plano infalível" da China para dominar o mundo.

"Geopoliticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?", escreveu Weintraub, em 04 de abril, na sua conta no Twitter.

Cebolinha, uma das personagens infantis mais populares do Brasil, tem problemas de dicção e troca a letra "r" pela letra "l" ao falar, uma substituição que também é associada aos chineses.

O ministro acabou por apagar a mensagem.

Contudo, as autoridades chinesas exigiram uma retratação do Brasil após o comentário do ministro, que o país asiático descreveu como "fortemente racista" e que disse causar "influências negativas" nas relações entre os dois países.

Num comunicado oficial, também publicado no Twitter, a embaixada da China sustentou que o governante brasileiro, "ignorando a posição defendida pelo lado chinês em vários esforços, fez declarações difamatórias contra o país nas redes sociais e estigmatizou Pequim ao associá-lo à origem da covid-19".

"Deliberadamente elaboradas, essas declarações são totalmente absurdas e desprezíveis, têm um selo fortemente racista e objetivos indizíveis e causaram influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais", acrescentou a nota da embaixada chinesa.

No pedido de instauração de inquérito, a PGR solicitou ainda autorização para "obtenção dos dados referentes ao acesso que possibilitou a prática supostamente delituosa", como número do Protocolo da Internet (IP), de forma a comprovar o autor da publicação.

Esta é a primeira investigação aberta pela PGR contra um ministro do atual Governo brasileiro, presidido por Jair Bolsonaro, desde que Augusto Aras foi indicado como procurador-geral do Brasil, em setembro último.

Já no final de março, Eduardo Bolsonaro, deputado e filho do Presidente do Brasil, acusou a China de ter gerado a atual crise mundial de saúde ao esconder informações sobre a disseminação do novo coronavírus, que causa a doença respiratória covid-19.

Na ocasião, o embaixador chinês expressou "repúdio" e "indignação" pelas declarações de Eduardo Bolsonaro e exigiu desculpas, mas nem ele nem o Ministério das Relações Exteriores do Brasil se retrataram oficialmente.

O Brasil registou 204 mortes devido ao novo coronavírus nas últimas 24 horas, um novo recorde diário, que elevou para 1.532 o número de óbitos. O país conta ainda 25.262 infetados desde o início da pandemia, informou na terça-feira o executivo.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 124 mil mortos e infetou quase dois milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, sendo atualmente os Estados Unidos o país com maior número de mortos (25.239) e de infetados, com quase 600 mil casos confirmados.

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