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Panama Papers: como reagiu o mundo ao escândalo

05 de abril de 2016 às 07:57

A China censurou comentários nas redes sociais, a Rússia acusa os EUA de estarem na origem das invenções sobre Putin, o primeiro-ministro islandês assegura que não se demite. Em todo o mundo, ninguém pode ficar indiferente aos Panama Papers

É considerada a maior investigação jornalística da história. O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação juntou cerca de 11,5 milhões de documentos ligados a quase quatro décadas de actividade da sociedade de advogados Mossack Fonseca, especializada na gestão de capitais e de património, com informação sobre mais de 214 mil empresas offshore, em mais de 200 países e territórios.

Os dados já revelados destacam os nomes de 140 políticos de todo o mundo, entre eles 12 antigos e actuais líderes mundiais. A partir dos Panama Papers, a investigação refere que milhares de empresas foram criadas em paraísos fiscais para centenas de pessoas administrarem o seu património. Entre elas estão o rei da Arábia Saudita, elementos próximos do Presidente russo Vladimir Putin, o antigo presidente da UEFA, Michel Platini, a irmã do rei Juan Carlos e tia do rei Felipe VI de Espanha, Pilar de Borbón, e o futebolista argentino Messi, entre outros.

Em Portugal, são 244 as empresas portuguesas suspeitas de envolvimento no escândalo dos Panama Papers. Segundo o editor do The Irish Times, que criou um mapa interactivo sobre o caso, estarão envolvidos 255 accionistas, 34 beneficiários e 23 clientes. O Ministério Público português já anunciou que está a analisar os documentos divulgados do Panama Papers "e se daí resultarem factos que configurem crime, não deixará de abrir inquérito."


O caso abalou o mundo inteiro e durante o dia personalidades, governos e organismos comentaram aquele que promete ser um dos casos mais mediáticos do século, em quase todos os países. Conheça algumas das principais reacções.

Islândia: O primeiro-ministro, David Gunnlaugsson, garantiu que não se demite, apesar de ter sido revelado que tem bens dissimulados num paraíso fiscal. "Não considerei demitir-me devido a isso e não me demitirei devido a isso", disse à cadeia televisiva Stöd 2. A oposição de esquerda exigiu o seu afastamento e, ainda na segunda-feira, milhares de pessoas saíram para as ruas para pedirem a demissão do chefe de Governo.

Ucrânia: O presidente, Petro Poroshenko, cuja investigação revelou ter registado uma empresa num paraíso fiscal no auge da guerra com os separatistas pró-russos, garantiu que respeitou integralmente a lei. "Sou talvez o primeiro alto responsável na Ucrânia que encara as questões relacionadas com declarações de rendimentos, pagamento de impostos e conflitos de interesses com seriedade e profundidade e em total cumprimento da lei ucraniana e internacional", disse na sua página no Facebook. A Procuradoria-Geral da Ucrânia garantiu que analisou as informações divulgadas e não encontrou "nenhum indício de crime".

Rússia: Invenções e falsificações para destabilizar a Rússia. Foi assim que Moscovo reagiu ao Panama Papers, em cuja investigação constam vários colaboradores e amigos do presidente russo, apesar do nome de Putin não consta da lista. "Embora o presidente Putin não figure de facto [na investigação], é claro que o alvo principal é Putin, a Rússia, o nosso país, a nossa estabilidade e as próximas eleições. Trata-se de desestabilizar o país", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. O porta-voz disse ainda que a investigação foi realizada por ex-membros da CIA ou do Departamento de Estado norte-americano: "Conhecemos esta denominada comunidade jornalística."

 

Reino Unido: O porta-voz de David Cameron recusou-se a comentar o possível esquema de Ian Cameron, pai do primeiro-ministro britânico falecido em 2010 e director do fundo Blairmore Holdings Inc, para escapar ao pagamento de impostos. Ao The Guardian, o porta-voz disse que se tratava de "uma questão de foro privado" e lembrou que o chefe do governo desencadeou "diversas acções agressivas para controlo da evasão fiscal".

Argentina e Brasil: Os partidos de oposição ao presidente argentino, Maurício Macri, exigem explicações do chefe de estado depois deste aparecer como director da firma Fleg Trading Ltd., que estaria registada nas Bahamas e que tinha a participação de pai e do irmão. "No que me diz respeito, foi uma operação legal feita por outra pessoa, constituindo uma sociedade offshore para investir no Brasil", disse em declarações ao programa Voz y Voto da televisão de Córdoba. No Brasil, as autoridades já anunciaram que vão investigar as informações reveladas pela investigação jornalística. Segundo O Estado de São Paulo, são referidos políticos de sete partidos, nenhum deles do PT de Dilma Rousseff.


Estados Unidos: A Casa Branca não quis fazer nenhum comentário específico ao caso mas, através do porta-voz Josh Earnest, defendeu uma maior "transparência nas transacções financeiras" de maneira a eliminar a corrupção.


China: Segundo a BBC, a China censurou todas as referências ao caso Panama Papers feitas nas redes sociais, apagando os posts dos utilizadores.
Pessoas próximas de altos dirigentes chineses, incluindo do presidente Xi Jinping e do ex-primeiro-ministro Li Peng, esconderam fortunas em paraísos ficais através de empresas de fachada, segundo a investigação.

 

Alemanha: O Governo alemão considerou que os Panama Papers reforçam a necessidade de avançar no combate à evasão fiscal. "Levamos muito a sério o conteúdo destas revelações", disse o porta-voz do ministério das Finanças, Martin Jäger. Na conferência de imprensa, o mesmo representante do executivo de Berlim revelou que o ministro Schauble vai propor na cimeira da Primavera do FMI e do Banco Mundial medidas para combater estas práticas ilícitas. Ainda assim, nem este porta-voz, nem o porta-voz do Governo, Steffen Seibert, falaram sobre o que pode acontecer às personalidades ou políticos alemães possivelmente implicados no escândalo.

França: O presidente francês, François Hollande, garantiu que vão ser abertos inquéritos em França e agradeceu aos denunciantes. "Todas as afirmações que forem entregues resultarão em inquéritos dos serviços fiscais e em processos judiciais", garantiu. O presidente disse ainda que estas revelações vão originar "receitas fiscais por parte de quem tem defraudado". O chefe de estado francês defendeu também que os denunciantes devem "ser protegidos" porque "correm riscos" ao fazer um trabalho útil para a comunidade internacional.

Comissão Europeia: A porta-voz do executivo comunitário para a Fiscalidade, Vanessa Mock, reagiu em nome dos organismos europeus ao escândalo. Bruxelas reiterou o seu compromisso com a luta contra a fraude e a evasão fiscais, sublinhando que actuará se for necessário. Mock recordou ainda que a legislação comunitária obriga à troca de informações entre os bancos sobre operações fiscais em todo o mundo.

Espanha: A procuradoria da Audiência Nacional abriu uma diligência de investigação para "determinar a existência de alegadas actividades com delito de branqueamento de capitais que possam ter sido cometidas através da fima Mossack-Fonseca do Panamá". Segundo o Ministério Público, como se trata de delitos eventualmente cometidos no estrangeiro só a Audiência Nacional os pode investigar.

 

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