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O estranho caso do “espião” chinês amigo do príncipe André

Leonor Riso 16 de dezembro de 2024 às 19:24

Yang Tengbo foi proibido de entrar no Reino Unido em 2023 e este mês, perdeu o recurso que interpôs. Nega ser espião, mas as autoridades britânicas garantem ter provas do contrário.

O ano fecha com mais um embaraço para o príncipe André. No dia 12, um tribunal britânico revelou a identidade de um homem chinês proibido de entrar no Reino Unido por razões de segurança nacional: Yang Tengbo, 50 anos, "confidente próximo" de um dos irmãos mais novos do rei Carlos III.

REUTERS/Toby Melville/Pool/File Photo

A sua identidade foi revelada mediante concordância do próprio no tribunal junto do qual recorreu da proibição de entrada no Reino Unido. O caso foi rejeitado. "Não fiz nada de errado ou ilegal, e as preocupações levantadas contra mim pelo Ministério do Interior são ilógicas", garante Yang Tengbo, também conhecido como Christopher Yang. "A descrição divulgada sobre mim como 'espião' é completamente falsa."

O que se sabe do alegado espião? Na China, trabalhou como funcionário público até chegar, em 2002, como estudante ao Reino Unido. Foi neste último país que criou uma consultora, a Hampton Group International, que aconselhava empresários britânicos nas suas relações com a China. Também é o co-fundador do Pitch@Palace China, o ramo chinês da organização do príncipe André para apoiar empresários.

O veredicto do tribunal revela ainda que as provas no telemóvel de Yang Tengbo indicam que André o autorizou a criar uma iniciativa financeira internacional para chegar a potenciais parceiros e investidores na China. Em 2020, o príncipe convidou mesmo Yang Tengbo para a sua festa de 60 anos e, numa carta enviada nesse ano por Dominic Hampshire, assessor do príncipe André, este refere que Yang Tengbo "nunca deve subestimar a força da relação [com André]… Fora dos seus confidentes mais próximos, fica no topo de uma árvore em que muitas, muitas pessoas gostariam de estar".

A amizade floresceu quando André, também duque de York, estava sob pressão devido à sua relação com Jeffrey Epstein e alegações de que participou num encontro sexual com uma menor, Virginia Giuffre. Yang Tengbo também esteve em Downing Street como convidado de David Cameron, e foi fotografado com Theresa May, ambos antigos primeiros-ministros do Reino Unido.

A carta do assessor do duque de York foi encontrada entre os pertences de Yang Tengbo quando em novembro de 2021, foi travado pelas autoridades num aeroporto. Nessa altura, também entregou o seu telemóvel onde estavam mais provas da sua relação próxima com o irmão do rei. Contudo, só 15 meses depois é que as autoridades decidiram tomar ações mais drásticas: em fevereiro de 2023, Yang Tengbo foi retirado de um avião em Pequim com destino a Londres. Aí, soube que o Reino Unido o queria proibir de entrar, banimento que ocorreu no mês seguinte.

Noutro documento datado de julho de 2023, o Ministério do Interior frisou que tinha razões para acreditar que "estava envolvido, ou se tinha envolvido, em atividades dissimuladas e enganadoras a favor do Departamento de Trabalho da Frente Unida, integrado no aparelho estatal do Partido Comunista Chinês" e que Yang Tengbo "é suscetível de constituir uma ameaça à segurança nacional".

Yang Tengbo disse às autoridades que evita "envolver-se em política e que não tem ligações a ninguém na política da China". Tal foi rejeitado pelo Reino Unido, porque as provas no seu telemóvel mostram que estava "frequentemente ligado a elementos associados ao Estado chinês".

Após a sentença, o alegado espião rejeitou todas as acusações. "Sou um empresário independente eself-madee sempre quis criar parcerias e construir pontes entre o Ocidente e o Oriente. Dediquei a minha vida profissional no Reino Unido a construir ligações entre empresas chinesas e britânicas. As minhas atividades fizeram com que centenas de milhões de libras em investimento chegassem ao Reino Unido. Construí a minha vida privada no Reino Unido ao longo de duas décadas e amo o meu país como a minha segunda casa. Nunca faria nada contra os interesses do Reino Unido."

A China também negou as alegações – e o rei Carlos III já foi informado das ligações entre o "espião" e o irmão mais novo.

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