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NATO celebra 75 anos. Qual o futuro da Aliança?

Luana Augusto 09 de julho de 2024 às 10:57

Líderes dos estados-membros reúnem-se a partir desta terça-feira em Washington, nos EUA. Em vez de celebrar, medem-se os desafios à continuidade e força da Aliança.

A cimeira da NATO desta terça-feira, em Washington, deveria ser de celebração. Os líderes dos estados-membros, incluindo o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, celebram o 75º aniversário da aliança, enquanto prometem aprofundar o apoio à Ucrânia, mas encontram-se perante vários desafios: o possível regresso do antigo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao poder e a ascensão da extrema-direita em ambos os lados do Atlântico. 

REUTERS/Ints Kalnins

Ao longo de três dias de reuniões, que se iniciam esta terça-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e os líderes ocidentais defenderão que a NATO e a ordem pós-Segunda Guerra Mundial têm bons anos pela frente e recordarão a história que os uniu em torno do combate ao comunismo, mas fora dos corredores do Centro de Convenções, em Washington, o enredo será menos otimista.

"A teoria da Casa Branca era que [a cimeira da NATO] mostraria os grandes pontos fortes de Biden, ou seja, que ele consegue tudo", disse à agência de notícias Reuters, Daniel Fried, antigo diplomata principal do Departamento de Estado dos EUA para a Europa. "Mas o debate derrubou tudo. A política vai ofuscar isso", afirmou numa referência àmá prestação de Biden no debate com Donald Trump, de 27 de junho.

Trump 2.0 

Nos últimos anos, a administração Biden tem trabalhado para reconstruir os laços transatlânticos, ao renovar relações com parceiros e ao sinalizar um forte apoio à NATO. Mas com a possibilidade de um segundo mandato de Donald Trump, os alarmes, entre muitos dos 32 países membros, têm soado dadas as suas constantes críticas à Aliança. 

O republicano já indicou que não defenderia os membros da NATO que incumprissem a meta de gastos com a Defesa, que corresponde a 2% do PIB, e que encorajaria a Rússia a atacar esses estados-membros. Ao mesmo tempo, também questionou o montante de ajuda fornecida à Ucrânia, desde a invasão russa, em fevereiro de 2022.

Agora, com a cimeira a ter lugar poucos dias antes da convenção republicana, que nomeará Trump como candidato presidencial do partido, os responsáveis da NATO planeiam mostrar aos norte-americanos que os seus membros estão a aumentar os gastos com a Defesa. 

"Os europeus terão de ser corajosos e celebrar a NATO, celebrar o facto de terem conseguido que 23 dos 32 membros alcançassem ou ultrapassassem a meta de gastos de 2% este ano", disse Joern Fleck, diretor sénior da Europa Centro no Conselho Atlântico à Reuters. 

Apesar das preocupações, alguns diplomatas apontaram que durante os quatro anos em que Donald Trump esteve no poder (2017 a 2021), não se verificou o fim da NATO. "Acho que podemos encontrar maneiras de trabalhar com um Trump 2.0, como trabalhamos com o 1.0. A abordagem é diferente de trabalhar com Biden, isso é evidente", acrescentou Joern Fleck. 

Líderes europeus em apuros 

Ainda assim, os desafios não ficam por aqui. Parecem até multiplicar-se. A cimeira de Washington ocorre a meio de uma turbulência política em França, onde a vitória do partido de extrema-direita de Marine Le Pen nas eleições europeias levou o presidente francês, Emmanuel Macron, a dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas, que acabaram na segunda volta a dar a maioria às coligações de esquerda e o segundo lugar ao partido de Macron, relegando a Convergência Nacional para o terceiro posto.

Porém, agora há a incerteza de que coligações podem dar lugar a um governo. "Uma França a baloiçar ao vento seria um problema em tempos de paz", escreveu a colunista Sylvie Kauffmann no jornal francês Le Monde. 

Na Alemanha, outro poderoso aliado da NATO - o chanceler Olaf Scholz - está em apuros, assolado por desafios económicos e uma a extrema-direita em ascenção. Segundo a revista alemã Der Spiegel, Scholz admitiu estar nervoso com a situação em França e disse que enviava mensagens a Macron diariamente.
"Estamos a discutir a situação, que é verdadeiramente deprimente", disse.

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