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Morreu Ben Ferencz, o último procurador do julgamento de Nuremberga

Ana Bela Ferreira 10 de abril de 2023 às 08:12

Advogado tinha 103 anos e morreu pacificamente durante o sono, segundo a família.

Morreu o último procurador do julgamento de Nuremberga, que levou à justiça os crimes nazis cometidos durante a Segunda Guerra Mundial. Benjamin Ferencz tinha 103 e morreu na sexta-feira à noite, numa residência para idosos em Boyton Beach, na Flórida.

Reuters TV via REUTERS

Nascido na Roménia a 11 de março de 1920, Ferencz chegou com a família aos EUA quando tinha 10 meses. Estudou direito em Harvard e sempre foi um forte defensor do direito internacional. Graças a ele foram conseguidas várias condenações a oficiais alemães que dirigiram esquadrões da morte durante a guerra. 

O advogado tinha apenas 27 anos quando participou no julgamento de Nuremberga, em 1947. Depois de participar no julgamento mais famoso da história, que condenou os principais obreiros do Holocausto que provocou a morte de seis milhões de judeus, Ben Ferencz passou a defender a criação de um tribunal internacional penal, o que veio a acontecer apenas em 2002.

Em Nuremberga, Ferencz tornou-se o líder da acusação pelos EUA no julgamento de 22 oficiais que dirigiam um esquadrão da morte paramilitar conhecido como Einsatzgruppen, integrado nas SS nazis. Estas brigadas da morte levaram a cabo mortes em massa de judeus, mas também de ciganos e outros grupos da população, maioritariamente civis. Estima-se que fossem culpados pela morte de mais de um milhão de pessoas.

"É com tristeza e esperança que aqui revelamos o massacre deliberado de mais de um milhão de homens, mulheres e crianças inocentes e indefesos. Este foi o trágico cumprimento de um programa de intolerância e arrogância. A vingança não é o nosso objectivo, nem procuramos uma mera retribuição justa. Pedimos a este tribunal que defenda pela ação penal internacional o direito do homem a viver em paz e dignidade, independentemente da sua raça ou credo. O caso que apresentamos é um apelo da humanidade à lei", afirmou Ferencz então na sua declaração inicial do julgamento.

Os acusados foram todos condenados e 13 deles foram mesmo condenados à morte.

Depois de terminado o julgamento de Nuremberga, Ferencz trabalhou para conseguir compensações para as vítimas e sobreviventes do Holocausto. Após a criação do Tribunal Penal Internacional, o advogado participou, aos 91 anos, nas alegações finais do caso contra o senhor da guerra congolês Thomas Lubanga Dyilo.

"Hoje perdemos um líder na luta pela justiça em nome das vítimas de genocídio e crimes relacionados. Lamentamos a morte de Ben Ferencz - o último procurador dos crimes de guerra de Nuremberga. Aos 27 anos, sem experiência anterior, ele assegurou sentenças para 22 nazis", sublinhou, no Twitter o Museu do Holocausto dos EUA.

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