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Ministro apanhado com 30 toneladas de arroz disposto a colaborar

11 de abril de 2019 às 16:03

A Polícia Judiciária (PJ) da Guiné-Bissau tentou hoje deter o ministro da Agricultura no âmbito do caso do arroz doado pela China. Foi impedida por seguranças do governante.

O advogado do ministro da Agricultura da Guiné-Bissau disse hoje que o seu constituinte está disposto a colaborar com a justiça e lamentou a forma "brutal e despótica" como a Polícia Judiciária tentou deter Nicolau dos Santos.

"O ministro está disposto a colaborar com a justiça, porque o que se pretende é a busca da verdade material. Agora a forma desnecessária, brutal e despótica adotada pela PJ é que me choca", afirmou o advogado Emílio Mendes.

Na opinião de Emílio Mendes, não era necessário o recurso "à violência para levar o homem à força".

"O ministro está disposto a colaborar com a justiça na busca da verdade material. O ministro vai prestar toda a sua colaboração naquilo que for necessário dentro do quadro legal", salientou, quando questionado pelos jornalistas sobre se o ministro se iria apresentar nas instalações da Polícia Judiciária.

A Polícia Judiciária (PJ) da Guiné-Bissau tentou hoje deter o ministro da Agricultura no âmbito do caso do arroz doado pela China, num momento marcado por alguma tensão, tendo sido impedida pelos seguranças do governante.

O ministro Nicolau dos Santos foi ouvido esta manhã por elementos da PJ durante mais de duas horas, no seu gabinete no ministério, tendo a polícia dado ordem de detenção.

Perante a ordem policial, seguranças do governante tentaram impedir a detenção e arrastaram o ministro para uma outra sala, onde se barricaram.

Nicolau dos Santos tentou resistir à iniciativa dos seus seguranças, dizendo: "Eu vou, eu vou".

Registaram-se confrontos entre elementos da PJ e seguranças do ministério, e um jornalista guineense foi agredido.

"Tudo decorreu normalmente, o ministro prestou as declarações que tinha de prestar" e manifestoiu disponibilidade parsa "juntar todos os documentos que provam os factos por ele alegados e quando já estávamos a prepararmo-nos para sair chegam de forma repentina uns agentes da PJ, armados e uniformizados, com uma ordem de detenção", disse Emílio Mendes.

O advogado explicou que disse aos agentes da PJ que o ministro tinha sido ouvido e "não tinha recebido nenhum despacho" a declará-lo suspeito e que tinha prestado colaboração, por isso, não estava a entender as razões para a sua detenção.

"Tentaram a todo o custo recorrendo à violência para o retirar, chegando a arrombar a porta. O ministro estava no seu gabinete e acharam que o ministro estava a tentar subtrair a diligência, o que não era verdade, eu disse que ia falar com o ministro para ver os termos e condições em que se podia apresentar à PJ, porque na verdade está acima da lei", afirmou o advogado, que considerou a ordem de detenção ilegal.

A PJ, que suspeita que o arroz esteja a ser utilizado para fins lucrativos, acabou por abandonar o Palácio do Governo ao final da manhã, e o ministro também saiu entretanto do ministério.

A Lusa tentou obter mais informações junto da PJ, mas sem sucesso.

Segundo fonte da PJ, a diligência de hoje estava relacionada com o processo "Arroz do Povo", relativo a arroz doado pela China e que alegadamente estaria a ser preparado para ser vendido no mercado.

No início desta semana, a PJ apreendeu 36 toneladas de arroz numa quinta do ministro da Agricultura.

Até agora, a operação desencadeada pela PJ guineense no início deste mês já levou à apreensão de pelo menos 136 toneladas daquele alimento, base alimentar dos guineenses.

Além da apreensão feita na segunda-feira na quinta do ministro da Agricultura, a PJ já tinha apreendido outras tantas toneladas de arroz em armazéns em Bafatá alegadamente propriedade da empresa Cuba Lda, cujo dono é Botche Candé, antigo ministro do Interior do país.

Na semana passada, foram detidas três pessoas no âmbito desta operação.

Em declarações à imprensa, o inspetor da PJ responsável pela operação, Fernando Jorge, disse que o arroz doado pela China estava a ser preparado para ser vendido no mercado.

"Só queremos mostrar a nossa determinação e dizer que esta investigação vai até ao fim. A China doou 104 contentores de arroz e agora vamos perceber a dinâmica de distribuição desse arroz", disse.

Na quinta-feira, após a primeira apreensão de arroz ter sido tornada pública, o ministro da Agricultura esclareceu que os armazéns onde se encontrava o arroz apreendido em Bafatá foram alugados pelo Governo e que o donativo doado pela China não tinha sido desviado.

Num comunicado divulgado à imprensa no mesmo dia, o primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes, que se encontrava em Washington, pediu à PJ para "prosseguir o inquérito visando situar as responsabilidades no descaminho verificado na distribuição do arroz doado pela República Popular da China".

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