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Livro que conta história de Obama grátis com a SÁBADO

Carlos Torres 23 de fevereiro de 2021 às 11:33

A autobiografia foi escrita na década de 90, antes de ele ser Presidente dos EUA, e conta a infância de Barack Obama no Havai e na Indonésia, assim como as origens familiares (o pai nasceu no Quénia). Os três volumes vão ser distribuídos gratuitamente com as revistas SÁBADO de 25 de fevereiro e 4 e 11 de março.

Barack Obama tinha 6 anos quando aterrou na Indonésia. Lolo, que se tinha casado com a sua mãe, esperava-os no aeroporto de Jacarta, para os levar para casa, nos arredores da cidade. No pátio das traseiras, lembra, havia um pequeno zoo: um macaco, um cão, galinhas, patos, duas aves do paraíso, uma catatua branca e duas crias de crocodilo. "Havia três, mas o maior fugiu por um buraco na cerca. Meteu-se num campo de arroz e comeu um dos patos do homem. Tivemos de ir caçá-lo à luz das lanternas", contou Lolo a Barack, que em miúdo era conhecido por Bar ou Barry.

Este é um dos episódios mais curiosos do primeiro volume de Sonhos do Meu Pai – A História da Minha Família, que tem 200 páginas e sai gratuitamente com a SÁBADO no dia 25 de fevereiro. Obama escreveu a autobiografia no início da década de 90, quando foi eleito o primeiro presidente afro-americano da Harvard Law Review (seria professor de Direito Constitucional em Chicago em 1992 e viria a ter cargos políticos a partir de 1997 – e tornou-se Presidente dos EUA em 2009).

A SÁBADO vai publicar a autobiografia completa em três volumes, que poderá receber gratuitamente com as edições de 25 de fevereiro e 4 e 11 de março. Nela, Obama conta as origens familiares multiétnicas (que incluem a tribo queniana dos luo, emigrantes escoceses e índios cherokee), a infância e a juventude atribuladas (nasceu no Hawai, mudou-se para a Indonésia, voltou ao Hawai para viver com os avós, esteve na Universidade em Los Angeles e Nova Iorque e planeava ir viver com o pai em África, mas entretanto ele morreu).

Na Indonésia (onde esteve dos 6 aos 10 anos), Barry aprendeu a falar a língua ao fim de 6 meses, conviveu com agricultores pobres que tomavam banho no rio, sentiu a dor causada pelas vergastas de bambu dos professores – e ia com Lolo comer gafanhotos
assados e carne de cão, de cobra e de tigre.

Barack mostra talento para a escrita. O livro arranca com ele, com 21 anos, a viver em East Harlem, Nova Iorque, a dividir com um colega "um apartamento pequeno, com soalho inclinado", a trocar gracejos em espanhol com os vizinhos e a falar dos Knicks com os rapazes da zona. Numa manhã, recebe uma chama- da: "Barry, é a tia Jane... de Nairóbi. Ouve, o teu pai morreu num desastre de automóvel. Por favor, telefona para o teu tio de Boston e diz-lhe."

O pai era "um mito". Só o conhecia – desde que ele decidira sair do Hawai e regressara ao Quénia, em 1963, quando ele tinha 3 anos – pelas histórias contadas pela mãe e pelos avós. Como aquela em que quase atirara um homem do Miradouro de Pali porque ele lhe deixara cair o cachimbo preferido de uma falésia.

O pai, também Barack, que significa "abençoado" em árabe (o avô era muçulmano), cresceu a pastorear cabras numa tribo da aldeia de Alego, no Quénia. Mas destacou-se na escola colonial britânica, ganhou uma bolsa para estudar em Nairóbi e depois foi um dos eleitos para ir para uma universidade dos EUA. Em 1959, com 23 anos, foi o primeiro aluno africano da Universidade do Hawai, e foi aí que conheceu, num curso de língua russa, Ann, a mãe de Obama, uma branca oriunda do Kansas.

Os avós maternos de Obama, Gramps e Toot, cresceram em duas cidades rurais separadas por 30 km (Augusta e Eldorado), rodeadas por "quintas com celeiros e boiões de maçãs e tomates maduros". Casaram-se pouco antes do ataque a Pearl Harbor e o avô esteve em França integrado no exército de Patton. Depois da II Guerra Mundial, o avô trabalhava como vendedor de mobília, primeiro no Texas, depois em Seatlle – e mudaram-se para o Hawai quando o gerente da empresa decidiu abrir uma sucursal em Honolulu.

Erva e um risco de coca
As questões raciais estão sempre presentes, como o episódio em que a mãe sofreu bullying por brincar com uma criança negra, numa escola do Texas. Mas na infância Barack não teve grandes problemas, rodeado dos amigos multiétnicos do avô, como o nipo-americano que tinha um supermercado e lhe dava rebuçados; ou o português a quem o avô vendera uns sofás e que os levou à pesca ao arpão.

Após regressar da Indonésia, com 10 anos, foi para a Punahou Academy, e na adolescência sentiu mais o racismo, como evidencia o amigo Ray, aos 15 anos, quando falam do facto de "não haver raparigas negras por aqui". Ray respondera: "Estamos sempre a jogar no campo do homem branco. Se o diretor da escola, ou o treinador, ou um professor quisesse cuspir-nos na cara, podia fazê-lo, porque ele tinha poder e nós não."

Na fase final do liceu, sentia que seria impossível mudar o mundo – e teria vontade para isso? "Aprendera a não me importar. A erva ajudara-me, e a bebida; às vezes, um risco de coca, quando havia dinheiro para isso."

A mãe mostrou preocupação quando um dos amigos foi preso por posse de droga: "Não achas que estás a ser um pouco descuidado em relação ao futuro? Não podes ficar sentado como um nababo, à espera da sorte."

Não ficou. Entrou na universidade em Los Angeles e foi aí que, com 19 anos, fez o primeiro discurso, pedindo a suspensão do investimento na África do Sul face ao apartheid. "Este é um combate que nos toca a todos. É uma escolha entre dignidade e servidão. Entre o bem e o mal."

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