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Geórgia: Investigador defende que UE deve intervir politicamente perante protestos

Lusa 05 de dezembro de 2024 às 08:07

Para Carlos Gaspar a UE tem a deve "evitar a escalada da violência e assegurar a repetição das eleições" legislativas.

O investigador do Instituto de Relações Internacionais Carlos Gaspar defendeu esta quinta-feira, 05, que a União Europeia deve intervir na crise atual da Geórgia, onde, há uma semana, milhares de manifestantes protestam contra a suspensão das negociações de adesão ao bloco.

REUTERS/Irakli Gedenidze

"Os manifestantes são a favor da integração europeia da Geórgia e contra a sua reintegração no 'império' russo" e, nesse sentido, "a União Europeia tem a obrigação de intervir política e diplomaticamente" defendeu, em declarações à Lusa.

A intervenção considerou, deve "evitar a escalada da violência e assegurar a repetição das eleições" legislativas, que deram a vitória ao partido mais próximo da Rússia, Sonho Georgiano, apesar de várias acusações de fraude.

A situação, adiantou ainda o investigador, mostra a "fragilidade do governo pró-russo", até porque as próprias instituições políticas estão divididas: o "levantamento popular contra a fraude eleitoral tem o apoio da Presidente da República".

A Geórgia tem protagonizado, nas últimas semanas, um braço de ferro entre o Ocidente e a Rússia, com milhares de pessoas a saírem, noite após noite, para as ruas para protestar. Primeiro por causa dos resultados das eleições legislativas e agora pela decisão do Governo de suspender as negociações para adesão à União Europeia.

O partido atualmente no poder, o Sonho Georgiano, que era inicialmente pró-Ocidente, assumiu, em 2021, uma posição cada vez mais pró-Moscovo e, em agosto passado, adotou uma lei muito parecida com a legislação russa sobre agentes estrangeiros, que serve basicamente para sancionar todos os opositores ao regime.

No mês seguinte, aprovou a Lei sobre Valores da Família e Proteção de Menores, que proíbe a propaganda de relações não tradicionais, casamentos entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de crianças por casais homossexuais.

Estas reformas legislativas confirmaram a Bruxelas que o Sonho Georgiano decidiu aproximar-se de Moscovo, mesmo pondo em causa o outro sonho georgiano: o de entrar para o clube dos 27.

A lei não foi promulgada pela Presidente, a europeísta Salomé Zurabishvili, mas o parlamento confirmou-a e acabou por entrar em vigor, deixando todas as peças do xadrez em alerta.

Ainda antes das eleições, já milhares de pessoas se manifestavam nas ruas empunhando cartazes a pedir a adesão à União europeia, enquanto o Sonho Georgiano publicava vídeos nas redes sociais com imagens da destruição na Ucrânia, numa insinuação ao que a Geórgia podia esperar se continuasse rumo ao Ocidente.

O braço de ferro "explodiu" finalmente a 26 de outubro, dia das eleições legislativas quando, após confrontos e atos violentos, a oposição pró-europeia reivindicou vitória, mas a televisão estatal anunciou oficialmente a vitória do Sonho Georgiano.

Entre acusações de fraude, denúncias de pressões russas por observadores internacionais e pedidos de investigações independentes, milhares de pessoas protestavam contra a vitória de partido pró-russo, envolvendo-se em confrontos com a polícia.

Um mês depois das eleições, a 28 de novembro, o primeiro-ministro decidiu suspender as negociações com a UE até ao final de 2028 e os protestos exacerbaram-se radicalmente.

Durante várias noites, foram feitos bloqueios, ameaças e centenas de detidos até que o Governo acabou por declarar os protestos ilegais, reprimindo-os com uma violência que levou a UE a admitir aplicar sanções ao país.

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