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França. Gisèle Pelicot denuncia "cobardia" dos acusados

Diogo Barreto 20 de novembro de 2024 às 18:43

"Vieram satisfazer os seus desejos sexuais e, só depois, disseram a si próprios que havia algo de errado naquele quarto", lamentou a mulher.

No último dia do julgamento para os mais de 50 homens que violaram Gisèle Pelicot, a vítima denunciou a cobardia dos acusados e de toda uma "sociedade que banaliza a violação". O ex-marido admitiu ter explorado a mulher para satisfazer uma "fantasia egoísta".

REUTERS/ZZIIGG

Terminou esta terça-feira, 19 de novembro, o julgamento do processo de violação de Pelicot, a mulher que foi violada por dezenas de homens ao longo de uma década. Na sessão final, Pelicot afirmou: "Desde o início deste julgamento ouvi muitas coisas que não deviam ser ditas e que são inaceitáveis". A queixosa citou várias das desculpas que foram apresentadas pelos arguidos durante o julgamento, criticando aqueles que não admitiram que simplesmente a tinham violado. "Eles violaram-me. Ouvi um senhor dizer que 'um dedo não é uma violação'. Ele devia questionar-se a si próprio", denunciou. "Vieram satisfazer os seus desejos sexuais e, só depois, disseram a si próprios que havia algo de errado naquele quarto", lamentou. 

Durante o julgamento, muitos dos arguidos negaram ter violado a mulher, alegando que acreditavam que ela estava consciente das relações sexuais, ou que era uma fantasia do casal. Pelicot reconheceu que alguns dos arguidos admitiram a violação e pediram desculpa, mas apelou a que todos fossem condenados apesar do arrependimento. "Vou ter de viver toda a vida com o facto destes homens me terem violado", sublinhou a francesa.

Dominique Pelicot, o ex-marido, admitiu, neste último dia de julgamento, que drogou, violou e convidou homens a violar a sua mulher porque tinha a "fantasia" de "dominar uma mulher insubmissa" e que era uma fantasia "puramente egoísta". "Se acabei por fazer o que fiz através de pessoas que aceitaram voluntariamente o que eu estava a propor, foi para subjugar uma mulher insubmissa. Era a minha fantasia egoísta, sem [vontade de] lhe causar dor", afirmou. 

O homem invocou a violação de que terá sido alvo na infância e a violação em que foi obrigado a participar na adolescência. "Isso criou uma fissura", disse.

A filha do casal, Caroline Darian, acusou o pai de ter abusado dela tendo este negado categoricamente qualquer ato incestuoso com os seus filhos e netos. No entanto, publicou fotografias da filha nua, enquanto esta dormia. "Não estou a tentar convencê-la. Não me lembro de lhe ter tirado fotografias. Se o tivesse feito, di-lo-ia. Vou dizê-lo na cara, nunca lhe toquei", afirmou. "Francamente, Caroline, eu nunca te fiz nada", acrescentou. "Mentes, mentes, não tens coragem de dizer a verdade, nem mesmo sobre a tua ex-mulher", respondeu a filha.

As alegações finais do Ministério Público e de Dominique Pelicot começaram esta quarta-feira e deverão ser ouvidas na próxima segunda-feira, 25 de novembro. As alegações finais dos outros 50 arguidos deverão ser ouvidas até 13 de dezembro. O veredito do processo de violação de Mazan está previsto para 20 de dezembro.

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