Escândalo de criptomoeda deixa Javier Milei a braços com a justiça
O presidente argentino está a ser investigado pela justiça depois de promover uma criptomoeda que valorizou muito depois do seu apoio e depois caiu a pique. Oposição pede destituição.
Javier Milei, o presidente argentino, está no olho do furacão de uma cripto-polémica no seu país depois de ter divulgado uma criptomoeda mesmo antes de esta ter entrado em colapso. A justiça argentina está a investigar e a oposição pede a sua destituição. Milei reconhece ter cometido um erro, mas compara o que aconteceu a jogar num casino e assegura que aceitará o desfecho da justiça.
Usando as suas redes sociais, Milei promoveu uma criptomoeda que afirmava que ia ajudar a fazer a Argentina crescer. Mas afinal tratava-se de um alegado esquema e Milei vê-se assim envolvido no maior escândalo desde que assumiu a presidência em dezembro de 2023, estando mesmo a ser investigado pela justiça argentina. A oposição pede a sua destituição.
Na passada sexta-feira, dia 14, Milei destacou um site que ia, alegadamente, apoiar pequenas e médias empresas argentinas e ajudar a economia do país a crescer. Esse site apontava para a criptomoeda $Libra como um ativo valioso. Depois do apoio mostrado por Milei, a criptomoeda chegou a valer 4,5 mil milhões de dólares (96 cêntimos de dólar por cada moeda). Poucas horas depois caiu para os 300 milhões. Por volta da 1h00 da madrugada, Milei retirou a sua publicação e deixou uma nova mensagem no X a informar que deixava de apoiar a empresa depois de "conhecer os detalhes do projeto".
Este não é o primeiro esquema fraudulento que utiliza uma celebridade como alavanca para o lançamento e valorização de uma criptomoeda. O esquema é simples: é criada uma criptomoeda sem valor facial (uma memecoin) e pede-se a alguém famoso que a promova. Tomando por base a credibilidade na figura, muitos seguidores vão investir na dita moeda, gastando milhões. Os detentores/criadores da moeda vendem então todo o seu portfólio e abandonam a moeda, fazendo com que esta passe a valer perto de zero. No mundo dos mercados e das ações estes esquemas são conhecidos como "pumps and dumps" e nas criptomoedas o termo é "rug pull" (puxar o tapete).
Num comunicado divulgado na rede social X no sábado, a presidência argentina explicou que, em outubro de 2024, Milei teve uma reunião com representantes do Protocolo KIP na Argentina, tendo tido conhecimento da vontade da empresa para financiar projetos privados através de um projeto chamado "Viva a Liberdade" que recorria a criptomoedas. Foi na sequência dessa reunião que no dia 30 de janeiro o presidente da Argentina se encontrou na Casa Rosada com Hayden Mark Davis, apontado como o responsável pela $Libra e parceiro do Protocolo KIP.
Milei tentou distanciar-se da polémica e comparou o investimento nesta $Libra como jogar num casino: "Se formos ao casino e perdermos dinheiro, qual é a queixa se soubermos que o jogo tem essas caraterísticas", questionou o presidente, desvalorizando o seu apoio ao projeto. Para o presidente argentino, não se tratou de uma ação de promoção da criptomoeda, mas sim de mera divulgação na sua conta pessoal na rede social X. "A lição que retiro disto é que tenho de ter mais filtros. Não pode ser tão fácil chegarem até mim", concluiu.
Oposição pede destituição
Uma organização de defesa dos direitos dos cidadãos argentinos estima em cerca de 40 mil pessoas os lesados neste caso e foi aberto um inquérito na justiça argentina.
Muitos opositores têm apontado para a formação de Milei enquanto economista, referindo que o atual líder argentino devia ter tido mais atenção aos sinais de alerta. Logo no sábado o Unión por la Patria, partido de centro-esquerda, anunciou que ia avançar com um pedido de destituição contra Milei. A ex-presidente Cristina Kirchner acusou o seu sucessor de ser um "golpista de criptomoedas".
A justiça federal argentina já se pronunciou sobre o caso, tendo nomeado esta segunda-feira a juíza María Servini para a investigação, para apurar se Milei cometeu associação criminosa, fraude e violação dos deveres de funcionário público, entre outros crimes. "Denunciamos que Milei fez parte de uma associação criminosa que organizou uma fraude com a criptomoeda $LIBRA, que afetou simultaneamente mais de 40 mil pessoas, com perdas superiores a 4 mil milhões de dólares [3,8 mil milhões de euros]", refere uma das ações de advogados contra o presidente argentino.
O caso está a ser comparado ao de Donald Trump que lançou uma criptomoeda três dias antes de assumir a presidência dos Estados Unidos. A moeda tem vindo a perder valor desde então. Mas a diferença era que Trump não estava ainda na Casa Branca quando promoveu essa criptomoeda e não se registou um caso de "rug pull", já que a queda tem sido gradual e não tão repentina.
Milei foi eleito como presidente da Argentina em dezembro de 2023 com a promessa de recuperar a economia do país. Desde então fez cair a inflação através de vários cortes no Estado. Conseguiu ainda um superavit orçamental e colocar a economia argentina a crescer. Os dados oficiais apontam para um aumento da pobreza, mas isso não beliscou a popularidade de Milei. E parece que este escândalo também não o vai fazer.
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