Como a revolta dos mercenários russos ganhou força nas últimas horas
A cronologia das últimas horas ajuda a perceber o que está a acontecer na Rússia com os paramilitares do grupo Wagner a marchar rumo a Moscovo, depois de terem deixado a Ucrânia onde combatiam ao lado do exército russo.
Os mercenários do grupo Wagner estão a avançar em relação à capital russa, depois de esta madrugada terem conquistado a cidade russa de Rostov. Estão jáa menos de 300 km de Moscovo, onde a população está a ser sensibilizada para ficar em casa. A coluna militar está a ser atacada por forças oficiais russas por via aérea, mas parece estar a ser insuficiente para travar o avanço.
Recordamos a cronologia dos acontecimentos das últimas 24 horas para entender o que se passa em território russo.
Sexta-feira
Num vídeo,o líder do grupo Wagner, Yevgeny Progozhin, aumentar as tensões com as chefias militares russas e pela primeira vez rejeita as justificações dadas pelo presidente Putin para o início da "operação militar especial" na Ucrânia. Depois numa série de audios que foram divulgados no canal do Telegram, Progozhin diz ainda que o "mal" dos líderes militares russos "têm de ser parado" e que os seus militares da grupo Wagner vão iniciar "uma marcha pela justiça" contra as forças militares russas.
O Serviço Federal de Segurança russo (FSB) respondeu a estas mensagens abrindo um processo criminal contra Prigozhin, argumentando que ele estava a apelar a um motim armado. O vice-comandante das Rússia na guerra da Ucrânia, o general Sergei Surovikin, apelou ao grupo que desista da contestação às chefias militares e que regresse às suas bases.
Sábado
No arranque da madrugada, o líder da milícia anuncia que cruzaram a fronteira da Ucrânia para a Rússia e que estão prontos para ir "até ao fim" contra as forças armadas russas. Os paramilitares entraram na cidade de Rostov e garantem ter tomado o comando militar que aí se encontrava sem disparar uma bala.
Por esta altura, os EUA dizem estar a acompanhar a situação e que irão consultar os parceiros e aliados.
O próprio governado da região de Rostov apela aos cidadãos que fiquem em casa, enquanto admite que o grupo tomou a cidade. O Ministério da Defesa russo emite um comunicado onde apela mais uma vez aos mercenários que abandonem o seu líder, argumentando que eles foram "enganados e arrastados para uma aventura criminal".
Putin, ao início da manhã, faz uma declaração ao país onde apela ao esmagar da revolta e classifica a ação do grupo Wagner de motim armado. Acusou ainda Prigozhin, sem nunca dizer o seu nome, de "traição" e "facada nas costas".
Putin recebe o apoio da milícia tchetchena para pôr fim à revolta. Ramzan Kadyrov oferece mesmo o uso de métodos duros, se necessário.
Entretanto, fora das fronteiras russas, governos como o britânico, francês, alemão e italiano emitem comunicados onde referem estar a acompanhar a situação. Comunicados semelhantes, sempre referindo um "problema interno" da Rússia, são depois emitidos por mais governos ao longo do dia.
Helicópetros russos abrem fogo sobre a coluna militar do grupo Wagner que se dirige para Moscovo, mas sem grande sucesso no atrasar da marcha.
Ao final da manhã, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky reage aos eventos dizendo que "a fraqueza da Rússia é óbvia".
O avião particular de Putin também descolou do Kremlin à hora de almoço. Mas o porta-voz Dmitry Peskov garantiu que Putin estava no seu escritório a trabalhar.
Já do lado dos serviços secretos estrangeiros da Rússia, o SVR, a mensagem é de que o plano de Prigozhin de destabilizar a sociedade e começar uma guerra civil falhou. Porém, as imagens que chegam de Moscovo mostram soldados a montar armas em posições de defesa da capital, bem como a preparação de um bloqueio da autoestrada por onde se movem os elementos do grupo Wagner até Moscovo.
O Kremlin também indicou que a Turquia estaria do lado do governo no calar da revolta, mas um comunicado oficial do governo de Erdogan refere que este apelou a Putin para agir "com bom senso".
O presidente russo assinou uma lei que permite detenções de 30 dias para quem violar a lei marcial, nos locais onde esta foi imposta. Foi oferecida uma amnistia aos militares do grupo Wagner que se rendam e o Ministério dos Negócios Estrangeiros emitiu um comunicado onde avisa os países ocidentais para não usarem a rebelião interna para "alcançar objetivos russofóbicos".
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