Andrei Sakharov: de pai da bomba de hidrogénio a defensor dos direitos humanos
Esta quarta-feira o Parlamento Europeu entrega o prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento de 2022 ao povo ucraniano pela sua resistência contra a invasão russa. Mas quem foi o homem que dá nome à mais alta distinção da defesa dos direitos humanos do Parlamento Europeu?
Físico russo, Andrei Dmitrievich Sakharov começou por ficar célebre por ter sido o pai da bomba de hidrogénio soviética, depois de 1945. Mas trinta anos depois, em 1975, estava a receber o Nobel da Paz, depois de um intenso trabalho na defesa dos direitos humanos e das vítimas de julgamentos políticos.
É ele que dá nome ao prémio anual atribuído pelo Parlamento Europeu (PE) em defesa da Liberdade de Pensamento - os prémios Sakharov. Esta quarta-feira será a cerimónia de entrega do galardão de 2022 atribuídoao "corajoso povo da Ucrânia". Uma cerimónia que pode acompanhar em direito nosite da SÁBADO a partir das 11h.
Na cerimónia estarão a presidente do PE, Roberta Metsola, e representantes do povo ucraniano. Representantes esses que, no entender do Parlamento, melhor simbolizaram este ano o exemplo de Andrei Sakharov.
É que o físico russo depois de desenvolver uma das bombas mais letais de sempre começou a preocupar-se com as consequências do seu trabalho para o futuro da humanidade. A partir daí começou a sensibilizar para os perigos da corrida ao armamento nuclear, tendo conseguido a assinatura do tratado de proibição de ensaios nucleares, em 1963.
Depois de ter recebido diversas condecorações do governo soviético, Sakharov passou a ser um crítico do regime e, em 1970, fundou um comité para defender os direitos humanos e as vítimas de julgamentos políticos. Em 1975 receberia o Prémio Nobel da Paz, em reconhecimento pelo seu trabalho. Impedido de sair da União Soviética, foi a sua mulher que esteve na cerimónia em sua representação.
Acabaria exilado com a sua mulher durante sete anos na zona de Gorki (atual Nishnij Novgorod), depois de lhe terem sido retirados todos os títulos honoríficos. Só por uma vez teve oportunidade de falar com outra pessoa que não a mulher durante esse período - um amigo que os visitou e com quem foi permitido que falassem na rua. "A minha mulher e eu vivemos isolados durante sete anos. Não podíamos sequer falar com os outros. Uma única vez um amigo veio procurar-nos e tivemos a permissão de conversar com ele na rua. Foi um milagre podermos falar com ele abertamente. Era um colega da universidade. Nós estávamos completamente isolados das pessoas", referiu Sakharov aquando do seu regresso a Moscovo, em 1986.
Foi ainda durante o exílio que ficou a saber que o Parlamento Europeu pretendia criar um prémio para a liberdade de consciência com o seu nome. Sakharov viu nesta distinção um incentivo para todos os que se dedicam à luta pelo respeito pelos direitos humanos. A ideia de criar este prémio surgiu pela primeira vez no debate no plenário, em 1984, quando se debatia a situação em que se encontrava o dissidente soviético.
O seu propósito era o de reconhecer o desenvolvimento das relações Leste-Oeste, a liberdade de debate e a defesa dos direitos humanos. "Sakharov era o cidadão europeu que personificava a liberdade de pensamento e de expressão e que tinha decidido, devido às suas convicções e consciência, renunciar a todas as vantagens materiais e honras que lhe tinham sido atribuídas", defendeu na época o eurodeputado francês Jean-François Deniau.
A moção para a criação do prémio foi votada e aprovada por larga maioria a 13 de dezembro de 1985.
Oprimeiro prémio foi entregue em 1988, quando Sakharov já se tinha tornado um defensor das reformas de Gorbatchov, o líder que o tinha libertado do exílio. Em março de 1989, o físico seria eleito para o Congresso dos Deputados do Povo. Morreu a 14 de dezembro de 1989, aos 68 anos, após uma paragem cardíaca.
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