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Alemanha vai mesmo a eleições. "Extrema-direita vai crescer"

Luana Augusto 16 de dezembro de 2024 às 07:00

Eleições antecipadas estão marcadas para 23 de fevereiro. Só 207 dos 733 deputados alemães expressaram confiança no governo de Scholz.

O parlamento alemão votou esta segunda-feira (16) uma moção de confiança ao governo de Olaf Scholz. O parlamento alemão votou contra a mesma, o que abre caminho a eleições antecipadas a 23 de fevereiro. Só 207 dos 733 deputados alemães expressaram confiança no governo, ao passo que 394 a retiraram. "A moção passou", afirmou o presidente do parlamento, Baerbel Bas. 

REUTERS/Liesa Johannssen

Era o cenário mais expectável para o país e à SÁBADO, o politólogo José Filipe Pinto acrescenta que a extrema-direita irá crescer. 

"Há questões que são altamente previsíveis. A primeira é a vitória da CDU (partido conservador), a segunda é a derrota do SPD (partido de centro-direita de Olaf Scholz) e a terceira é o aumento do populismo identitário para a Alternativa da Alemanha (partido de extrema-direita)", começou por explicar à SÁBADO o politólogo. "Se isto não se verificar será um terramoto político." 

Com a saída do partido FDP (Partido Democrático Liberal) da coligação governamental, no início de novembro, o governo de Olaf Scholz deixou de ter a maioria no Bundestag (Parlamento). Isso fez com que o chanceler alemão se visse obrigado a apresentar uma moção de confiança. Espera-se agora que o seu partido - o SPD - saia a perder destas eleições.

As sondagens indicam que os conservadores, liderados por Friedrich Merz, estão no caminho certo para vencer as eleições, devendo obter 21% dos votos. Segue-se a Alternativa para a Alemanha com 18% e o SPD de Olaf Scholz com 17%. Já os Verdes deverão obter 13% dos votos.  

Porém, apesar de a CDU ser apontada como vencedora, a sua vitória deixaria uma questão. "Com quem é que a CDU iria governar?", questionou José Filipe Pinto. 

Segundo o politólogo, caso os conservadores vençam as eleições de fevereiro, será "muito difícil" fazerem uma coligação com outros partidos. A solução seria, assim, unir-se aos Verdes ou aos Liberais - mas estes teriam obrigatoriamente que ultrapassar os 5% de intenção de votos. 

"Ainda não se sabe qual será o desfecho para a Alemanha. Temos que ver primeiro o que vai acontecer com os Verdes e os Liberais", explica José Filipe Pinto. "Mas a Alemanha já teve uma experiência de bloco central em que se juntou a CDU e o SPD. Isso nem sequer é saudável para a democracia e é preciso que o governo tenha uma posição credível." 

Credível, isto porque ambos os partidos não se entendem em diversas matérias, como é o caso da imigração. 

Por que vai a Alemanha a eleições antecipadas?

A demissão, por parte de Olaf Scholz, do ministro das Finanças, que fazia parte da sua coligação, foi o que levou à votação da moção de confiança. Ambos apresentavam divergências em questões como o apoio à Ucrânia e em políticas económicas do atual executivo alemão. 

Na altura, Scholz disse até à imprensa que Christian Lindner tinha quebrado a sua confiança "demasiadas vezes", acrescentando que "já não havia uma base de confiança para uma maior cooperação", uma vez que "o presidente do FDP estava mais preocupado com a sua própria clientela e com a sobrevivência do seu próprio partido". 

Quanto a esta demissão, José Filipe Pinto saúdou a "coerência" do chanceler alemão. "Olaf Scholz demitiu o ministro que era líder de um dos partidos da coligação e quando o fez soube que estaria a provocar a queda do governo e que teria que apresentar uma moção de confiança que seria rejeitada. Ele fez isso porque ele não concordava com a política daquele ministro. Agiu, por isso, em coerência com os seus ideais." 

A Alemanha não vai a votos por moção de confiança desde 2005, quando o então chanceler, Gerhard Schröder, pediu uma e perdeu. A eleição que se seguiu seria vencida por Angela Merkel. 

Notícia atualizada às 15h46 de 16 de dezembro, com o chumbo da moção de confiança. 

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