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Abramovich transferiu milhões para Putin através de testas-de-ferro

Diogo Barreto 15 de novembro de 2023 às 17:58

O oligarca português e outros multimilionários russos usavam o Chipre para esconder dinheiro e financiar o regime de Vladimir Putin.

Roman Abramovich, o russo-português multimilionário, transferiu ações de uma empresa de publicidade russa para duas outras detidas por "amigos próximos" do presidente Vladimir Putin, revela uma novainvestigação jornalística. Esses dois amigos servem como testas-de-ferro do líder russo, segundo o consórcio jornalístico.

Ao longo dos anos, o empresário naturalizado português tem vindo a negar ser próximo do presidente russo e chegou mesmo a processar uma jornalista que apontava para essas ligações financeiras entre os dois no livroOs Homens de Putin. Mas a investigação levada a cabo pelaCyprus Confidentiale citada pelo The Bureau of Investigative Journalism e a BBC Newsnight apontam para ligações de Abramovich a um negócio no valor de 40 milhões de dólares (aproximadamente 36 milhões de euros) e que envolve dois homens considerados como "testas-de-ferro de Putin". A Cyprus Confidential é uma colaboração entre mais de 250 jornalistas e 65 meios de comunicação em todo o mundo. A investigação agora divulgada mostra que vários oligarcas russos usaram o Chipre para movimentar dinheiro para Putin e para o regime russo.

Segundo o The Bureau of Investigative Journalism, os documentos agora divulgados mostram que em 2003, "poucas semanas depois de ter comprado o Chelsea", o empresário Roman Abramovich comprou 25% de participação numa empresa russa de televisão e publicidade chamada Video International. Por essa quota, Abramovich pagou 260 mil dólares (aproximadamente 239 mil euros) o que é considerado "ridículo" por Vladimir Milov, antigo vice-ministro da Energia russo, já que a empresa chegou a ter o monopólio da publicidade televisiva russa. "Essa participação rendia claramente muito mais, por muitas ordens de grandeza", disse Milov, citado pelo Bureau. Segundo o agora opositor a Putin, na altura em que foi comprada, a empresa valia cerca de 2 mil milhões de dólares (25% deste valor é cerca de 500 milhões de euros, ou seja, o dobro do que foi pago por Abramovich).

Quanto à ligação aos "testas-de-ferro de Putin", essa surge em 2010, quando as duas empresas cipriotas através das quais Abramovich comprou a participação na Video International, já tinham arrecadado 30 milhões de dólares (27 milhões de euros) em dividendos. Nessa altura, decidiram vender as ações da Video International a duas outras entidades, por 40 milhões de doláres (36 milhões de euros).

Uma dessas entidades era a Med Media Network, pertencente ao violoncelista, amigo de infância de Putin e padrinho da filha do presidente russo, Sergei Roldugin. "Roldugin serve claramente para encobrir a propriedade pessoal de Putin. Este tipo é absolutamente uma figura nominal, porque não percebe nada de negócios, finanças, transações internacionais, etc.", garantiu Milov, citado pela BBC. A outra entidade a quem foi vendida a participação foi a Namiral Trading, cujos documentos judiciais a ligam a Alexander Pekov, descrito pelo governo britânico como "amigo próximo de Putin".

Chipre como paraíso

A investigação Chipre Confidencial, liderada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, revela que muitos russos têm usado o Chipre - Estado-membro da União Europeia desde 2004 - como parte da rede de investimentosoffshore.

Segundo a investigação, 96 russos, alvos de sanções, foram clientes de empresas cipriotas. Dois terços dos multimilionários russos identificados pelaForbessurgem nos documentos da investigação como clientes das mesmas empresas, entre as quais o ramo no Chipre da consultora PwC, que ajudou oligarcas russos a escapar às sanções europeias.

Roman Abramovich tem negado sempre qualquer tipo de relação financeira com Vladimir Putin e o regime russo. Em dezembro de 2021, o antigo dono do Chelsea e a jornalista Catherine Belton chegaram a um acordo extrajudicial para que fosse referido na obraOs Homens de Putin que não ficou provado que Abramovich tenha comprado o clube britânico a mando do presidente russo, além de passar a citar tanto o porta-voz do empresário como do clube.

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