25 horas a criticar Trump. Este foi o discurso mais longo do Senado americano
O democrata Cory Booker ultrapassou a meta de maior discurso feito no Senado, e fê-lo citando figuras proeminentes da política norte-americana e ativistas pelos direitos civis.
Cory Booker, um senador democrata pelo estado de Nova Jérsia começou o seu discurso às 19h de segunda-feira, prometendo falar enquanto fosse "fisicamente capaz". Esta demonstração durou para lá do pôr do sol de terça-feira, até às 20h05, superando por 46 minutos o discurso de Strom Thurmond referente a um projeto de lei de direitos civis em 1957.
Durante estas 25 horas, Booker atacou os cortes feitos pela administração Trump em agências federais e a repressão da imigração, assim como os planos de cortar o financiamento da Medicaid e de outros programas de saúde e de educação. Apesar da Casa Branca já ter negado o corte da Medicaid, o presidente e os seus aliados, nomeadamente o multimilionário, Elon Musk, têm vindo a atacar este apoio assim como o Medicare e outras formas de ajuda social, afirmando ser um desperdício, uma fraude e um abuso.
Booker afirmou ainda que os Estados Unidos tinham chegado a um "momento moral" e que era necessário uma posição contra o governo de Trump, que ele disse ter levado o país para um momento de "crise", apesar de estar apenas há dois meses no cargo. "Isto não é direita ou esquerda, é certo ou errado", disse Booker na tarde de terça-feira. "Este não é um momento partidário. É um momento moral. Qual é a vossa posição?"
Ao longo do seu discurso, o senador recorreu à história americana para comparar o momento vivido agora sob o segundo mandato de Donald Trump com o movimento dos direitos civis e a luta pelo sufrágio feminino. Citou ainda os discursos de John Lewis, uma figura lendária da luta pelos direitos civis durante a década de 60, e John McCain, o senador republicano do Arizona que entrou em conflito com o seu próprio partido para defender o Obamacare em 2017.
Por volta das 16h20 de terça-feira, Booker ultrapassou o discurso de 21 horas e 19 minutos do senador Ted Cruz de 2013 sobre o Affordable Care Act de Barack Obama, e umas horas depois, ouviu-se aplausos no hemiciclo quando ultrapassou o de Thurmond, um apoiante da segregação racial.
"Odiá-lo é errado, e talvez o meu ego tenha ficado demasiado preso ao facto de que, se eu estivesse aqui, talvez, apenas talvez, pudesse bater este recorde do homem que tentou impedir os direitos que eu defendo", disse Booker. "Mas não estou aqui por causa do discurso dele. Estou aqui apesar do seu discurso. Estou aqui porque, por muito poderoso que ele fosse, as pessoas foram mais poderosas".
Há semanas que estava a planear fazer este discurso e aos jornalistas contou que se tinha preparado fazendo um jejum durante vários dias, inclusive, não tinha comido nada desde sexta-feira e não tinha bebido água desde domingo à noite. Sem pausas para ir à casa de banho, mas com pausas para receber questões dos seus colegas democratas, Booker baseou o seu discurso em apontamentos colocados num dossier, acenando de vez em quando uma cópia da constituição dos EUA. "Em vez de descobrir como ir à casa de banho", disse, ‘acabei por, infelizmente, me desidratar’. Durante o discurso recorda que começou a ter "cãibras a sério".
Terminou este discurso de 25 horas citando os pedidos e as ações de John Lewis durante a sua luta pelos direitos civis, "ele disse-nos para sairmos e causarmos bons problemas, problemas necessários, para redimir a alma da nossa nação. Quero que redimam o sonho. Sejamos corajosos na América".
Desde então, a Casa Branca já rejeitou o discurso de Booker. Um porta-voz do presidente, Harrison Fields, disse que o senador estava à procura de um momento "Eu sou Spartacus".
Referindo-se a um comentário feito por Booker quando ameaçou divulgar documentos confidenciais sobre o candidato ao Supremo Tribunal, Brett Kavanaugh, durante a sua audiência de confirmação. Na altura foi ridicularizado e eventualmente ficou viral na internet. No entanto, no Capitólio, o senador de Nova Jérsia foi aplaudido pelos seus colegas e funcionários, que celebraram com ele, esta nova meta de 25 horas.
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