"Tudo vem de França", ouvimos certa vez de um sommelier sobre técnicas, processos e estilos de vinificação moderna. Ainda que não estritamente factual, há na frase uma verdade metafórica sobre a influência que a tradição vitivinícola do país tem no mundo, ou não tivéssemos (mesmo aqui, num dos países com maior cultura vínica do mundo) um rol de expressões francesas a que nos apegamos: dégorgement, terroir, sommelier, bâtonnage, sur lie e até rosé.
Entre os que se propõem a saber verdadeiramente sobre vinho, as castas, regiões e estilos franceses permanecem um rito de passagem obrigatório - as somas, subtrações, multiplicações e divisões que se exije dominar antes das equações, do cálculo e da álgebra. É claro que não está escrito em lado nenhum que não se pode beber vinho sem saber sobre a Borgonha, champagne ou o Loire, mas é garantido que a sua cultura vínica - mesmo em relação aos vinhos portugueses - ficará mais rica.
Passa-se que os aspirantes a enólogos e escanções geralmente adquirem o seu conhecimento com recurso a grandes vinhos, ao ritmo de dezenas e centenas de euros por garrafa, o que, para um aprendiz leigo, dificilmente estará em cima da mesa. Felizmente, já se encontram em algumas grandes superfícies portuguesas alguns vinhos de França que cabem no bolso do amador comum, e que, não sendo melhores por serem franceses, têm certamente o potencial de proporcionar uma experiência diferente do habitual.
Chamam-se Pierre Chanau, e se os comprar na esperança de degustar a nata da nata francesa, desengane-se - até porque estão geralmente na marca dos €5 a €15. Apesar de todo o seu caráter singelo, estão ainda assim representadas algumas das mais icónicas regiões francesas, abrindo uma fresta para uma versão comercial dos seus estilos mais conhecidos: a potência dos Cabernet Sauvignons de Bordéus, a acidez viva dos Rieslings da Alsácia ou a elegância do Grenache de Châteauneuf-du-Pape.
Um bom ponto de partida é o seu Côtes du Rhône, primo menos nobre do Châteauneuf-du-Pape que também tem a Grenache como principal uva tinta, e que, na marca dos €4, é um vinho simples, fresco e frutado, mas que não abdica de algum corpo, podendo ser bebido, como manda a tradição francesa, com uma boa variedade de pratos entre o peixe e a carne. A partir daí, o céu é o limite.
"Um vinho para o fim de semana" é uma rubrica semanal em que lhe sugerimos, todos os sábados, uma referência para provar ao longo do fim de semana - uma rubrica a cargo do jornalista da SÁBADO Pedro Henrique Miranda.