A nova série da RTP1, criada por Márcio Laranjeira, acompanha quatro vítimas de violência doméstica que encontram refúgio e força numa casa onde tudo recomeça devagar.
Estreia esta segunda-feira, 27, e abre-nos a porta de uma casa onde se tenta recompor aquilo que a violência doméstica quebrou: a intimidade, a autonomia, o sentido de segurança. Casa-Abrigo, a nova minissérie da RTP – e RTP Play –, acompanha, ao longo de seis episódios, Vera, Madalena, Conceição e Gabriela, quatro mulheres que, acolhidas numa casa-abrigo, partilham feridas, memórias e pequenas vitórias enquanto procuram recuperar o lugar que lhes foi tirado. Os episódios são exibidos na RTP1 às segundas-feiras, às 22h30, e estão disponíveis na íntegra na RTP Play.
Assinada por Márcio Laranjeira no guião e realização, Casa-Abrigo dedica-se em cada episódio a uma das mulheres, com um elo comum a todas: Joana, a psicóloga que as acompanha. Espelhada na realidade, a minissérie traduz as pequenas rotinas, os silêncios partilhados e as conversas difíceis, e revela como a convivência num espaço de proteção pode tornar visíveis estratégias de sobrevivência e também as dificuldades de reinventar uma vida. O primeiro episódio será dedicado a Vera.
Maria João Pinho, Leonor Silveira, Filomena Gigante e Rita Cabaço dão corpo às quatro protagonistas, enquanto Ana Sofia Martins interpreta a psicóloga Joana. Os dois primeiros episódios do projeto foram exibidos na secção Rizoma do festival de cinema e audiovisual IndieLisboa, em maio deste ano.
Filomena Gigante, Maria João Pinho e Rita Cabaço são Conceição, Vera e GabrielaRTP Divulgação
O elenco inclui também, ainda que num papel secundário, o ator Carloto Cotta, que está a responder em tribunal por nove crimes de violência contra mulheres, incluindo violação, sequestro, coação sexual e ameaça agravada a uma mulher.
"Eu acho que é extremamente incómoda esta situação [relacionada com o ator Carloto Cotta]", referiu Márcio Laranjeira à Agência Lusa. "Incomoda bastante e ainda por cima, porque a série, de repente, pode correr o risco de ser cancelada, digamos. Ao cancelar esta série estamos a cancelar testemunho das vítimas”, vincou.
Na génese, Casa-Abrigo passou por uma fase de investigação e contacto com a realidade. Márcio Laranjeira visitou várias casas-abrigo e recolheu testemunhos que alimentaram a escrita, numa colaboração que incluiu organizações que trabalham com vítimas, como a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).
Márcio Laranjeira recolheu testemunhos reais que serviram de base à escritaRTP Divulgação
A minissérie funciona também, por isso, como um dispositivo de visibilidade ao levar para a ficção testemunhos inspirados na realidade, mostrando-nos o quotidiano da violência e as rotinas de recuperação, bem como a importância de serviços de apoio que muitas vezes vivem à margem da atenção pública. Em Portugal, desde o início deste ano, segundo dados do Portal da Violência Doméstica, já morreram 11 mulheres vítimas de violência doméstica.
"Uma série para ver esta semana" é uma rubrica semanal em que lhe sugerimos, todas as segundas-feiras, uma série para ver ao longo dos próximos dias - uma rubrica a cargo do jornalista da SÁBADO Tiago Neto.