Taylor Swift está num momento único da sua vida: está feliz. Até este momento havia uma ideia recorrente relativamente aos discos de Taylor Swift que era de que ela os compunha e gravava porque queria expor as suas feridas (e vingar-se dos causadores dessas mesmas feridas) e mostrar que era dona do seu próprio destino apesar das adversidades. Mas aos 35 anos, noiva de um homem com atributos físicos pujantes (já lá iremos), dona da sua própria música e com mais dinheiro do que provavelmente seria capaz de gastar em vinte vidas - apesar das inúmeras viagens que faz de jato privado -, parece que Taylor Swift já não tem mais desamores para contar. Mas há vinganças que continua a procurar.
Neste que é o seu décimo segundo disco de originais (além de quatro discos que regravou entre 2021 e 2023), Taylor Swift decidiu seguir num novo caminho, deixando para trás os produtores que a têm acompanhado nos últimos anos, Jack Antonoff e Aaron Dessner. Para The Life of a Showgirl chamou o produtor Max Martin que já trabalhou com Katy Perry, Maroon 5 e The Weeknd, e Shellback (dupla que ajudou à produção de 1989) e o resultado é um disco que escasseia em ideias, optando por uma via indie rock sem grandes extravagâncias.
A digressão mundial Eras Tour - que passou por Lisboa nos dias 24 e 25 de maio de 2024 - foi a primeira na história a ultrapassar a marca de mil milhões de dólares de receita - aproximadamente 850 milhões de euros -, com 2,4 milhões de bilhetes vendidos num só dia e uma receita total estimada em mais de 1,7 mil milhões de euros ao longo de 21 meses. Segundo a revista Forbes, Swift chegou a ganhar entre 8,5 e 11 milhões de euros por noite. E este disco estava a ser anunciado como uma espécie de "volta de vitória" de uma mulher que atingiu tudo. Mas não foi bem isso que saiu.
A cantora-compositora que se irritou com Damon Albarn e que até deixou de gostar das canções do músico por este ter sugerido que não era Swift que as escrevia parece estar com vontade de deixar para trás a imagem de "girl next door" e mostrar-se mais audaz. Em "Father Figure" assegura: "Eu estou habilitada a fazer negócios com o diabo porque a minha pila é maior" ("I can make deals with the devil because my dick's bigger"). É uma canção em que Swift se faz passar por um mafioso com todo o poder na mão e uma das melhores do disco, tanto musicalmente como tematicamente. Já a canção "Wood" é uma ode ao órgão sexual de um parceiro (compara o pénis dele a uma sequoia e a uma varinha mágica) e muitos utilizadores das redes sociais dizem que é uma tentativa de se aproximar da sexualização associada a Sabrina Carpenter (que participa na canção título que fecha o disco) e que tem dado bons resultados.
Mas o que em Carpenter parece encaixar, o tom lascivo e atitude libidinosa, em Swift soa a inusitado. Talvez esteja relacionado com a forma como é difícil pensar que a mesma artista que escreveu "Tu serás o príncipe e eu a princesa / É uma história de amor, amor, diz apenas que sim" ("You'll be the prince and I'll be the princess it's a love story, baby, just say yes") foi a mesma que escreveu "Uma sequoia, não é difícil ver / Que o seu amor foi a chave que abriu as minhas coxas" ("Redwood tree, it ain't hard to see His love was th? key that opened my thighs")
Uma das canções que tem dado mais que falar na Internet, principalmente no X, é "Actually Romantic", uma canção que os fãs estão a interpretar como uma crítica a Charli XCX. Críticas a outros músicos não é uma novidade na discografia de Swift: em 2017 atacou Kanye West e Kim Kardashian e os ex-namorados nunca foram poupados, incluindo Matty Healy, colega de banda do marido de Charli XCX. Muitos swifties estão a interpretar "Actually Romantic" como uma resposta à canção "sympathy is a knife", tema no qual Charli XCX expõe a sua fragilidade e inseguranças por se comparar constantemente com artistas maiores e mais bem sucedidas ("Há uma rapariga que ativa as minhas inseguranças / Não sei se é real ou se sou eu a ir-me abaixo" - "This one girl taps my insecurities / Don't know if it's real or if I'm spiraling"). Swift terá acusado o toque e respondeu: "Um chihuahua de brincar a partir de uma mala pequenina / É essa a dor que infliges" ("Like a toy chihuahua barking at me from a tiny purse / That's how much it hurts").
The Life of a Showgirl é o disco que nasceu da Eras Tour e o primeiro desde que Taylor Swift está noiva. É também o disco com a receção mais morna na carreira de Swift. Estará o título de maior estrela da pop disponível para ser tomado?
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