Aos 60, Quentin Tarantino prepara o seu canto do cisne

O icónico realizador de "Pulp Fiction" ou "Django Libertado" prometeu reformar-se do cinema aos 60 anos ou ao décimo filme. Faz 60 na próxima segunda, e poderá estar a trabalhar na sua despedida.

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Para os fãs de Quentin Tarantino, a alegria do lançamento de Era Uma Vez em Hollywood, em 2019, veio acompanhada da triste epifania de que este era o seu nono filme. Com a força de três das maiores estrelas da atualidade - Margot Robbie, Brad Pitt e Leonardo DiCaprio -, o filme trazia a sua escrita prodigiosa de assinatura, o tributo ao Cinema Clássico de Hollywood e até uma nova maturidade à sua arte, menos centrada na violência, mas também a promessa de que seria o seu penúltimo.

Há anos que Tarantino promete que não é a sua intenção fazer filmes até morrer. "Quero parar a certo ponto", disse à Playboy em 2012. "Realizadores não ficam melhores à medida que ficam mais velhos. Normalmente, os piores filmes são aqueles quatro no final. Não quero ter aquela comédia má na minha filmografia, aquele filme que faz as pessoas pensarem 'Oh, ele está 20 anos atrasado'. Não é bonito quando realizadores se tornam datados."

Nessa altura, com 49 anos e sete filmes (acabara de lançar Django Libertado, pelo qual receberia o seu segundo Oscar de Melhor Argumento Original), disse que se reformaria aos 60 anos ou ao décimo filme, promessa que, até à data, não retraiu (ainda que tenha dito que a ideia não estava "inscrita em pedra"). Na segunda-feira, 27 de março, completa 60 anos, ainda com nove filmes sob o seu nome. Não é muito para uma carreira de mais de 30 anos.

Afinal, Tarantino sempre preferiu a qualidade à quantidade, sendo o seu período mais prolífico o de início de carreira. Depois de um par de produções independentes, esteve envolvido, entre 1992 e 1997, em 10 filmes: os seus próprios Cães de Aluguer, Pulp Fiction (que o lançou ao estrelato e granjeou-lhe o primeiro Oscar) e Jackie Brown, a escrita de Aberto Até de Madrugada e Amor à Queima-Roupa, um segmento na antologia Quatro Quartos e a escrita de diversos argumentos não-creditados, incluindo o mais tarde adaptado Assassinos Natos, de Oliver Stone.

Não tocou em tantos filmes em todo o resto da sua carreira. Foram precisos mais eiss anos para completar Kill Bill, lançado em duas partes em 2003 e 2004, mas que Tarantino considera apenas um filme para efeitos de contagem da sua filmografia. Nos anos subsequentes, a antiga amizade com Robert Rodriguez levou-o a realizar um segmento de Sin City e a dividir com ele o double-bill Grindhouse (2007), uma homenagem aos B movies americanos de baixos valores de produção: Rodriguez realizou Planet Terror, e Tarantino Death Proof, geralmente tido como o seu pior filme. 

Tarantino com Diane Kruger e Eli Roth, estrelas de Sacanas sem Lei
Tarantino com Diane Kruger e Eli Roth, estrelas de Sacanas sem Lei DR
Com Sacanas sem Lei (2009), reinvenção histórica da derrota da Alemanha Nazi em que trabalhou intermitentemente durante 10 anos, reabilitou a sua avaliação crítica, e foi elevado a autor indiscutível de Hollywood. Nos anos seguintes, reduziu a sua produção, mas com cada novo lançamento era recebido com nova ovação uníssona: os westerns Django Libertado (2012) e Os Oito Odiados (2015), antes do seu mais recente filme, de 2019.

De lá para cá, no entanto, não ficou parado. Já tinha dado a entender que, mesmo depois da reforma do cinema, continuaria interessado em realizar séries ou encenar peças de teatro: em 2021, estreou-se na escrita literária com Era Uma Vez em Hollywood: Um Romance, uma expansão do universo do filme e, no ano seguinte, editou Cinema Speculation, coleção de ensaios sobre filmes americanos da sua infância.

Parece, ainda assim, ter chegado a hora do seu canto do cisne. Citando fontes anónimas, a americana The Hollywood Reporter revelou que Tarantino completou o argumento do seu último filme, com o título provisório The Movie Critic, e que está a preparar-se para começar a rodagem no outono deste ano. De acordo com as mesmas fontes, o filme passa-se em Los Angeles, no final dos anos 1970, e tem uma personagem feminina como protagonista.

Caso o tema se comprove, tudo aponta para que o filme seja uma versão ficcionada de (ou, pelo menos, inspirada em) Pauline Kael (1919-2001), influente e controversa crítica de cinema da New Yorker com opiniões contundentes e uma série de contendas com atores como Clint Eastwood, e que, na época em que o filme supostamente decorre, deixou a escrita por um breve período para ser consultora da Paramount Pictures.

Além de ser uma de poucas críticas de cinema de destaque na época, Kael é uma figura por quem Tarantino já expressou admiração - o seu mais recente livro de ensaios, disse, é inspirado na sua escrita - o que aumenta a probabilidade de o filme centrar-se nela. Tão cedo, no entanto, não saberemos como termina a filmografia do realizador: o projeto ainda não tem distribuidora confirmada, e The Movie Critic quase certamente não estará cá fora antes de 2024.

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