Doces e crianças são indissociáveis, mas há que romper esse elo porque os primeiros fazem mal às paredes do intestino. O médico explica os perigos no seu novo livro, o 15.º do currículo, prefaciado por Cristiano Ronaldo. O lançamento acontece na próxima terça-feira (3 de dezembro), na livraria Buchholz, em Lisboa.
Doces e crianças são indissociáveis, mas há que romper esse elo porque os primeiros fazem mal às paredes do intestino. O médico explica os perigos no seu novo livro, o 15.º do currículo, prefaciado por Cristiano Ronaldo. O lançamento acontece na próxima terça-feira (3 de dezembro), na livraria Buchholz, em Lisboa.
Aos 76 anos, e com 50 de prática clínica, o médico Manuel Pinto Coelho estreia-se na escrita de um livro para os mais novos. O título é elucidativo, Eu Escolho Viver com Saúde! (Oficina do Livro, chancela da Leya), mas o autor não dá sermões nem discursos maçudos. Acredita que as crianças só lá vão com modelos e para tal pediu dois prefácios a referências do desporto: Cristiano Ronaldo, o futebolista que dispensa apresentações, e Filipa Martins, ginasta que alcançou a melhor classificação de sempre na ginástica artística portuguesa.
Sérgio Lemos/SÁBADO
"Ser o melhor do mundo, seja no que for, depende de ti. Trata bem o teu organismo e aprecia o teu corpo a desenvolver-se de uma forma saudável", começa por dizer Cristiano Ronaldo. Manuel Pinto Coelho acrescenta a importância das melhores opções. Os rebuçados e chupas não o são, de todo. Porque o açúcar é aditivo e pode, mais tarde, provocar obesidade e diabetes. Tudo explicado numa linguagem acessível, com ilustrações de Patrícia Furtado. O lançamento está marcado para a próxima terça-feira, 3 de dezembro, às 18h30, na Livraria Buchholz, em Lisboa.
É o 15.º livro que escreve, o primeiro para crianças. Porquê?
Há algum tempo que penso em escrever um livro para os miúdos não terem de procurar uma bata branca mais tarde, quando ficarem doentes. Tenho duas miúdas – a Sofia, de 6 anos, e a Lara, de 8 – e vejo a dificuldade que está a ser ensiná-las a aguentarem-se fora de casa. Mesmo que lá em casa oiçam o recadinho todo, depois vão para a escola e é completamente diferente. Todos comem glúten, pão, massas, não há critério nenhum. As crianças precisam mais de modelos para seguir.
Por isso, pediu a Cristiano Ronaldo para escrever o prefácio?
Aconteceu porque sou um homem de fé e acredito sempre que é possível que as coisas boas aconteçam. E tive uma sorte do outro mundo de conseguir que ele pusesse ali umas palavras, as mais adequadas. Qualquer coisa dita por ele tem um peso superior a outra pessoa. E dizendo: "Vocês podem ser como eu, podem ser campeões também, se fizerem por isso." As crianças vão lá mais com modelos do que com palavras ou críticas como "não comas isto ou aquilo." Foi Fernando Pessoa que disse: "Nenhum livro para crianças deve ser escrito para crianças." Sempre tive esta ideia: um dia que escreva livros para crianças tenho de ter em linha de conta os extraordinários ensinamentos de Fernando Pessoa.
Começapor escrever: "Temos mais de 300 ossos, alguns acabam por se fundir, dando origem aos 206 que compõem o esqueleto do adulto." E tem a ilustração de uma criança a carregar uma mochila gigante. Que risco representa?
A mochila pesada dá cabo da coluna. O livro tem uma ilustradora notável, Patrícia Furtado: fez uma capa do mais apelativo que há e lá dentro umas ilustrações para tornar o livro mais acessível. Escrevo com alguma delicadeza, porque estou a dirigir-me a pessoas com mais neurónios do que nós, mas com um banco de dados menos apetrechado: as crianças.
O livro ajudará a mudar hábitos, como o da mochila pesada?
Acho que sim. Não são só os médicos que padecem de misoneísmo, a dificuldade de encaixar coisas novas e escapar das antigas desatualizadas. Se aparecer um filho, catraio, com umas ideias novas que ouviu dizer na escola, ou que leu num livro, o pai ou a mãe podem achar graça e ouvi-lo com mais atenção. E até pode ser o filho que ensine o pai. A esperança é que sejam os filhos que ensinem os pais a fazerem as coisas de maneira a não os deixarem adoecer.
Como é que adoecem?
Mais de 90% das doenças começam com a inflamação da parede do intestino e a resistência à insulina. É o desenvolvimento destas questões que põe as pessoas com doenças autoimunes, neurodegenerativas, ou com a síndrome metabólica. Se os miúdos souberem que o alimento mais inflamatório que existe é o açúcar, vão pensar duas vezes. Aquilo que comem vai parar ao instinto, aos 7,5 metros de órgão. Se não inflamarem as paredes do intestino, vão resistir às infeções e andar mais felizes. Porque 95% da serotonina, o neurotransmissor da boa disposição, está na parede do intestino, como diz António Damásio [neurocientista]. É importante que os pais percebam que um intestino mais cuidado permite resistir melhor aos agentes que o querem agredir.
Aquilo que comem vai parar ao instinto, aos 7,5 metros de órgão. Se não inflamarem as paredes do intestino, vão resistir às infeções e andar mais felizes"
Manuel Pinto Coelho, médico
Mas muitas vezes o doce funciona como prémio para as crianças. Porquê?
Se um miúdo em casa é presenteado com um chocolate, por alguma boa ação, os pais estão a cometer um erro. Estão a preparar um pré-diabético, ou obeso mais tarde, porque não há nada mais viciante do que o açúcar. Há dias, a minha filha Lara foi a um aniversário e regressou a casa toda contente com dois sacos: um com chocolates, outro com bombons e chupas. Tinham dado lá no sítio onde a amiga fez a festa. Disse-lhe que não é assim que vai ter saúde.
Nesta equação, qual a importância das mitocôndrias (constituintes das células)?
Quando o Cristiano Ronaldo diz "atenção ao alimento" e eu depois desenvolvo e falo do rei intestino e da importância gigante das mitocôndrias – a casa das máquinas das células –, quero salientar a possibilidade de darem energia. As mitocôndrias preferem a gordura como fonte de energia, mas só a utilizam na ausência do açúcar. Deve ser explicado à criança, assim que sabe ler, que aquilo que come vai influenciar decisivamente a saúde das suas mitocôndrias. Assim vai tratar de outra maneira a sua casa das máquinas e o seu intestino.
Mas o super-herói do livro é o SI, sistema imunitário. O que tem a ver com rebuçados?
Faz para o ano 10 anos que eu escrevi o Chegar Novo a Velho, em que referi o papel gigante que o intestino tem. Hoje já está mais ou menos banalizada a importância do intestino, mas fui dos primeiros a falar do assunto: 70% a 80% do sistema imunitário está no intestino. O que tem a ver com o rebuçado? Porque aquilo que comem vai parar ao intestino.
D.R.
O que são as quatro saúdes?
Tudo começa com a saúde física. Sem a saúde física não há saúde mental, sem a saúde mental não há saúde espiritual, sem a saúde espiritual não há saúde social. Só tendo as quatro saúdes é que alguém se pode considerar saudável. A pedagogia dos pais é determinante, ou de quem exerça esse papel, os encarregados de educação, ou até um amigo melhor informado, para explicar que esta coisa não é assim muito difícil. Tem de fazer duas ou três coisas bem feitas e o resto vem por acréscimo.
No final do livro há palavras cruzadas, relacionadas com a roda dos alimentos e o organismo. São da sua autoria?
Foram feitas em colaboração, sozinho não conseguiria fazê-las. Foi a Leya que me deu uma preciosa ajuda. As crianças podem achar graça.
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.