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PCP: Candidatura de Centeno não altera pressupostos da legislatura

30 de novembro de 2017 às 19:20

Ministro das Finanças é um dos quatro candidatos à presidência do Eurogrupo.

O dirigente comunista Ângelo Alves garantiu esta quinta-feira que a candidatura do ministro das Finanças à presidência do Eurogrupo não irá 'beliscar' o horizonte de cumprimento da actual legislatura, embora sublinhando as divergências com o PS em termos europeus.

"Esta candidatura não altera os pressupostos com que iniciámos esta legislatura, no âmbito da posição conjunta. Há acordo relativamente determinadas matérias bem definidas e que a realidade está a demonstrar que foram muito positivas para o desenvolvimento da situação e da vida dos portugueses", disse o membro da comissão política do Comité Central do PCP, em conferência de imprensa, na sede nacional do partido, em Lisboa.

Mário Centeno é um dos quatro candidatos à presidência do Eurogrupo, anunciou hoje o Conselho da União Europeia, confirmando, mais cedo que o previsto, a lista de pretendentes à sucessão do socialista holandês Jeroen Dijsselbloem.

"Há outras matérias em que há desacordo [com o PS], que se mantém e é de fundo. Esse desacordo terá de ser resolvido não só pelas forças políticas, mas pela sociedade portuguesa em geral porque este caminho de submissão à União Europeia não irá permitir a resolução de problemas estruturais com que o país se continua a debater", continuou Ângelo Alves, responsável comunista pelas áreas da integração europeia, assuntos internacionais e política externa.

O PCP é um dos três partidos, juntamente com BE e PEV, com os quais foram assumidas posições conjuntas com o PS, em Novembro de 2015, para viabilizar o atual Governo minoritário socialista, dirigido por António Costa.

"A eventual designação [de Centeno] não irá alterar as opções e critérios que têm prevalecido nas políticas da União Europeia e que a realidade tem demonstrado que são nocivas e prejudiciais ao interesse nacional. O que é necessário e positivo para Portugal é a rutura com as políticas e imposições da União Europeia", continuou Ângelo Alves.

Para o dirigente comunista, "a questão não passa pela disponibilidade de agenda, mas pelas opções políticas de fundo", uma vez que o actual ministro teria mais compromissos europeus caso fosse eleito.

"O PS, infelizmente, ainda não compreendeu que para o país avançar mais e a vida dos trabalhadores ser marcada por maior justiça, prosperidade e confiança no futuro, é necessário enfrentar algumas das linhas políticas, critérios e opções da União Europeia", lamentou.

O membro do Comité Central do PCP lembrou que "a história recente demonstra que não é a eleição de um português ou a assunção de determinadas responsabilidades, sobretudo no edifício de poder da União Europeia que é, automaticamente, um garante da defesa do interesse, pelo contrário", lembrando o caso do social-democrata Durão Barroso, como presidente da Comissão Europeia.

"Este órgão [Eurogrupo] é uma configuração específica do Conselho [Europeu], que tem um determinado equilíbrio de poder. A Alemanha tem sete vezes maior poder. A eleição de um ministro das Finanças português não irá pôr em causa esse poder", condenou, antevendo o "aprofundamento do seu neoliberal e da atual União Económica e Monetária".

Segundo o PCP, apenas "três factores" determinarão a situação política portuguesa: a "correlação institucional de forças", o "conteúdo das políticas" e o "desenvolvimento da luta do povo português pelos seus direitos".

"O PCP sabia bem das diferenças profundas entre PS e PCP nessas matérias [europeias] e é por isso que não constam da posição conjunta. O resto, será a realidade a ditar. A realidade irá ajudar alguns a compreender que é necessário terminar com a submissão cega às políticas e imposições da UE e olhar com confiança para o futuro do país", concluiu.

Questionado sobre se Centeno poderia vir a ser um mero Dijsselbloem a falar português, Ângelo Alves ironizou, garantindo, ter como seguro que, em caso da eleição do ministro português, pelo menos, não se vai ouvir o mesmo "a fazer declarações sobre características do povo português", escusando-se a repetir o que o ainda líder do Eurogrupo sugeriu sobre os portugueses e as supostas despesas excessivas com "vinho e mulheres".

"Essas declarações reflectem uma postura, uma visão, por parte das instituições da União Europeia, relativamente aos países do Sul da Europa, com menos poder, mais dificuldades e menor desenvolvimento, com Portugal", disse.

Mário Centeno, 50 anos, natural de Olhão, Algarve, é um quadro do Banco de Portugal e ministro das Finanças desde 26 de Novembro de 2015.

Além Centeno, apresentaram candidaturas Pierre Gramegna (Luxemburgo), Peter Kazimir (Eslováquia) e Dana Reizniece-Ozola (Letónia).

A eleição do novo presidente do Eurogrupo decorre na segunda-feira, através de uma votação por maioria simples, indicou o Conselho da União Europeia, acrescentando que "o vencedor será anunciado aos ministros no final da votação e apresentado na conferência de imprensa do Eurogrupo, imediatamente a seguir".

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