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É a Inteligência Artificial que recruta no admirável mundo novo do emprego

Alexandre R. Malhado 14 de setembro de 2025 às 10:01

Recrutamento através de IA tem crescido na UE a ritmo galopante. Em Portugal, empresa sueca Teamtailor entrou no mercado com quase 100 clientes.

A procura de emprego é uma história tão antiga quanto a civilização. Uma empresa precisa de alguém de confiança para desempenhar uma determinada função, com um determinado perfil profissional e pessoal, enquanto o candidato procura certas condições salariais e internas. E assim se criaram departamentos de recursos humanos e empresas de captação de talentos, que há décadas avaliam os melhores candidatos. Contudo, tudo tem mudado nos últimos anos – e o crivo do recrutamento tem sido a Inteligência Artificial.
IA revoluciona recrutamento em Portugal com Teamtailor e outras empresas
Entre 2023 e 2030, projeta-se uma taxa de crescimento anual composta de 6.1% para empresas do setor de recrutamento de IA a nível global, segundo dados da Society for Human Resources Management, uma associação profissional norte-americana de recursos humanos. Em Portugal, já existem empresas de referência no setor a apostar neste mercado. “Em Portugal, já contamos com quase 100 clientes, fruto de um crescimento exponencial nos últimos 10 meses”, conta à SÁBADO Daniela Real Santos, sales manager da empresa sueca Teamtailor. E no mundo empresarial, é uma inevitabilidade: segundo dados do Eurostat, 13.48% de todas as empresas europeias já recorrem à IA nos seus processos, uma percentagem que cresce substancialmente se olharmos só para as de grande dimensão (41.17%). Em Portugal, o 21.º País da UE com maior uso de IA no tecido empresarial, onde quase 9% das empresas usam IA, a tendência é de crescimento. Como é que a IA funciona no mundo do recrutamento? Inúmeras empresas, como a Teamtailor, têm desenvolvido softwares de recrutamento tudo-em-um, dotado de um sistema de acompanhamento de candidatos (ATS) para analisar currículos em busca de competências e palavras-chave. No caso da empresa sueca, usa o Co-pilot, sistema de inteligência artificial da Microsoft, para simplificar processos e analisar automaticamente todos os currículos que entram na base de dados. É assim o modus operandi: “Gera um resumo e destaca as competências mais destacadas colocando em frente ao recrutador. Dessa forma todas as empresas vêm todos os CVs e o resumo dos mesmos”, descreve Daniela Real Santos. E do lado do candidato, sublinha “informações relevantes sobre a empresa” — como cultura, valores, missão e equipa. “O processo de recrutamento é uma escolha mútua: não é apenas a empresa que escolhe o candidato, mas também o candidato que escolhe a empresa.” A importância do toque humano E quando o currículo cai num buraco negro? Uma das principais preocupações dos candidatos, em particular da geração Z, que acabaram de entrar no mercado de trabalho, é sentir que a falta de toque humano nos processos de recrutamento – e que isso seja meio caminho andado para a rejeição. É isso que mostra um novo estudo da consultora Magma, em parceria com a Confederação Empresarial de Portugal (CIP), divulgada em setembro: com receio de se sentirem excluídos, a nova geração de profissionais valoriza transparência e mão humana nestas novas experiências digitais. Segundo o estudo, existe uma perceção vigente na geração Z de que estas ferramentas de apoio ao recrutamento são usadas como um substituto do julgamento humano, faltando o fator humano empático no processo. O “equilíbrio” é uma preocupação crescente nas empresas de ATS. “Embora a IA esteja presente em muitas áreas do software, não substitui o toque humano nem a capacidade de discernimento”, garante a representante da Teamtailor. “Deve ser vista como uma ferramenta de apoio que liberta tempo e energia para que os profissionais se tornem mais ágeis, estratégicos e eficientes, em vez de gastarem até 70% do seu esforço em tarefas administrativas.”
Daniela Real Santos da Teamtailor fala sobre o uso de IA no recrutamento em Portugal Teamtailor
Até no momento da rejeição: “Através da funcionalidade reject reasons (razões de rejeição, em inglês), que permite registar e comunicar de forma clara os motivos de rejeição. Esta comunicação pode ser feita por e-mail, automático ou personalizado, com possibilidade de adaptar os motivos — como falta de qualificações, incompatibilidade cultural ou expectativas salariais — garantindo clareza e respeito no contacto com o candidato. Importa sublinhar que as decisões não são tomadas por algoritmos preditivos, mas sim por pessoas, sendo sempre registado quem rejeitou e porquê.”
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