Secções
Entrar

O Benfica poderá ganhar à vontade no Porto? Em 94 anos, só aconteceu duas vezes

Carlos Torres 06 de abril de 2025 às 13:03

Em 90 anos de campeonato, a única vez que o Benfica venceu de goleada no terreno do FC Porto foi em 1974/75 (3-0). E houve outra vitória folgada na Taça de Portugal. Com as equipas em fases distintas (as águias seguem mesmo com oito vitórias consecutivas), como será este domingo?

Entre os adeptos do FC Porto, o descrédito é grande. Basta fazer uma mini-sondagem num café da Baixa da cidade ou ver os comentários que inundam as redes sociais em páginas ligadas ao clube ou nos sites dos jornais desportivos para se perceber que praticamente ninguém acredita em ser campeão – são nove pontos de distância para os dois rivais lisboetas, a sete jornadas do fim, e até já o presidente André Villas-Boas admitiu ser "muito difícil" o título. E são muitos os que duvidam mesmo se os dragões irão terminar em 3º lugar, à frente do Sp. Braga.

EPA/RODRIGO ANTUNES

"Já vejo futebol há mais de 50 anos e esta é a pior equipa do FC Porto de que me lembro", anotou o escritor Miguel Sousa Tavares, conhecido adepto dos portistas, numa recente crónica no jornal Record. À SÁBADO, António Lemos, antigo avançado que jogou nos dragões quatro anos na década de 70, afirmou, depois da fraca exibição em Braga, que "mete pena" ver esta equipa, que tem "uma qualidade muito fraca".

Na sua opinião, o FC Porto "andou para trás no tempo mais de 50 anos, até àquela época em que ficou em 9º lugar, a sua pior classificação de sempre" [em 1969/70].

Lemos considera mesmo: "O FC Porto teve ali 19 anos em que não ganhava nada, nas décadas de 50 e 60, mas até nessa altura, como no meu tempo [em janeiro de 1971, o FC Porto venceu o Benfica por 4-0, com ele a marcar todos os golos], tínhamos boas equipas e andávamos sempre na luta, não ficávamos muito atrás do Sporting e do Benfica, mesmo com o Eusébio".

Com tamanho desalento entre os adptos portistas, e com os do Benfica, pelo contrário, confiantes (afinal, as águias seguem com oito vitórias consecutivas no campeonato, e há cinco jogos que marcam pelo menos três golos), o que acontecerá no clássico deste domingo?

Será que o Benfica, que para muitos adeptos tem um dos melhores plantéis dos últimos anos, sendo de destacar a qualidade e experiência de Di María, Pavlidis, Kokçu, Akturkoglu, Bruma, Belotti, Otamendi ou Aursnes (enquanto o FC Porto poderá contar apenas com Pepê e Fábio Vieira e ainda os inexperientes Samu e Rodrigo Mora) irá vencer facilmente no estádio do Dragão?

Afinal, o FC Porto, nos jogos com os dois principais rivais esta época, mostrou estar sempre uns furos abaixo, como aconteceu em Alvalade (derrota por 2-0) e no estádio da Luz, em que a goleada sofrida (4-1) foi a pior dos últimos 60 anos.

Se olharmos para a fala de qualidade deste FC Porto, os adeptos do Benfica podem estar confiantes numa vitória e até num resultado gordo. E podem mesmo sonhar numa goleada, algo que em 94 anos de confrontos oficiais (o primeiro foi na final do Campeonato de Portugal, em junho de 1931) apenas aconteceu duas vezes. Os dois maiores triunfos dos encarnados em casa dos azuis e brancos surgiram há 50 anos, e com pouco mais de oito meses de diferença.

O primeiro verificou-se a 2 de junho de 1974, nas meias-finais da Taça de Portugal. No estádio das Antas, a equipa portista, que tinha figuras como Tibi, Rodolfo, Júlio, Cubillas e Oliveira, perdeu por 3-0 com o Benfica, sendo os golos de Nené (dois) e de Eusébio. A 16 de fevereiro de 1975, o mesmo resultado, a contar para a 22ª jornada do campeonato, com os golos a serem marcados por Vítor Martins, Moinhos e Toni.

A década de 70 foi mesmo a melhor de sempre dos encarnados em casa do FC Porto, contabilizando seis triunfos nas Antas. Essas vitórias começaram em 1970 (abril), com uma vitória por 2-1 (golos de Simões e Artur Jorge), na penúltima jornada do campeonato – o tal que o FC Porto terminou em 9º lugar.

Depois, em 1971/72, novo triunfo das águias no Porto, por 3-1, para o campeonato, num jogo em que os dragões até chegaram ao intervalo a ganhar, com um golo de Abel. Mas na segunda parte, Eusébio (duas vezes) e Artur Jorge, deram a volta.

Seguiram-se as já referidas vitórias por 3-0 e, em 1975/76 e 1976/77, mais dois triunfos do Benfica (3-2 e 1-0, respetivamente). O FC Porto teve outra década bastante penosa nos confrontos caseiros com as águias: a de 1940. Aí, os encarnados somaram quatro triunfos, sendo um deles por 4-2, em abril de 1943.

Essa foi mesmo a primeira vitória de sempre do Benfica no campo do FC Porto em jogos oficiais, 12 anos depois de os dois clubes se começarem a defrontar. E nas duas primeiras vezes, em partidas do Campeonato de Portugal (prova que depois iria dar origem à Taça de Portugal), o Benfica saiu com derrotas pesadas: 3-0 em junho de 1932 e 8-0 em maio de 1933.

O Benfica apenas por uma vez marcou mais de três golos em casa do FC Porto. Foi nesse triunfo de 4-2 em 1943, com golos de Manuel da Costa (dois, ambos de penálti, e ainda de Pratas e Nelo). Depois, houve nove ocasiões em que os encarnados marcaram três golos no campo dos portistas, mas só quatro deram vitória – houve duas vitórias do FC Porto por 4-3, uma por 5-3 e ainda dois empates 3-3. A última vez que o Benfica marcou três golos aos portistas no seu terreno foi já há mais de 30 anos (no empate, 3-3, em 1993/94).

Já o FC Porto, também raramente ganhou com uma grande margem no campo do rival Benfica. A exceção foi a incrível goleada de 1996/97, com a equipa treinada por António Oliveira a vencer por 5-0 (em setembro de 1996) no estádio da Luz, em jogo da segunda mão da supertaça portuguesa, com golos de Artur, Edmilson, Jorge Costa, Wetl e Drulovic.

Depois, houve ainda um jogo em que os dragões marcaram quatro golos, vencendo por 4-2 (novembro de 1986), também para a Supertaça, numa partida em que Futre pintou a manta (bisou, sendo os outros dois golos de Madjer e Gomes). Quanto ao campeonato, as vitórias portistas na Luz foram sempre pela margem mínima ou por dois golos.

Em relação ao Benfica, tirando essas duas décadas (40 e 70) em que somou várias vitórias no campo dos portistas, os encarnados tiveram sempre muitas dificuldades para ali triunfar. Mesmo com grandes equipas. Basta ver que Eusébio, nas 15 épocas (1960-1975) em que jogou pelas águias, apenas ganhou no Porto cinco vezes (em 16 jogos).

O Benfica teve mesmo um período de grande jejum de triunfos no campo dos portistas, que durou 15 anos (1990/91 a 2005/06). Em comum nessas duas partidas, os encarnados ganharam por 2-0 com bis de dois avançados: no primeiro foi César Brito a bisar, no segundo foi a vez de Nuno Gomes.

Em casa, ao longo da história o FC Porto tem sido um osso duro de roer para os benfiquistas. Mesmo em fases de declínio. Aliás, na última época, já o FC Porto estava em quebra (acabou o campeonato a 18 pontos do campeão Sporting e a 8 do vice-líder Benfica, só assegurando o 3º lugar com o triunfo por 1-0 sobre o Braga na última jornada) e mesmo assim a equipa de Sérgio Conceição goleou no estádio do Dragão o Benfica, por 5-0.

Desde a década de 90, o Benfica tem apenas seis triunfos no terreno dos dragões, e quatro deles foram por 2-0. Houve ainda duas vitórias pela margem mínima (1-0 recentemente, em 2022/23, era Roger Schmidt o treinador e marcou Rafa Silva; e 2-1 em 2019, marcaram João Félix e Rafa e estava no banco Bruno Lage, o atual treinador do Benfica.

O atual FC Porto está na mó de baixo e em reconstrução (após o fim de um longo ciclo com Pinto da Costa, presidente durante 42 anos), seguindo já com o terceiro treinador esta época. Isso tem-se visto com os últimos resultados (no ano de 2025, leva seis derrotas, cinco empates e cinco vitórias). E se é verdade que ainda não perdeu em casa para o campeonato esta época, também é certo que esteve dois meses (e cinco jogos) sem vencer no Dragão, com quatro empates e um desaire (contra o Olympiacos, para a Liga Europa) entre janeiro e março. Esse jejum foi quebrado a 15 de março, com o 2-0 sobre o Aves SAD.

E agora, frente ao Benfica, iremos ver o ressurgir de um FC Porto ferido, capaz de fazer das tripas coração (como aconteceu tantas vezes ao longo da história), ou a confirmação de uma grande diferença de forças, como aconteceu no 4-1 da Luz, na primeira volta, em parte explicada pela pujança financeira dos lisboetas e a penúria (e quase falência) dos nortenhos? Respostas este domingo, dia 6, a partir das 20h30.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela