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Planeta atingiu com corais primeiro ponto sem retorno

Lusa 13 de outubro de 2025 às 00:08

Relatório conclui que os recifes de coral de águas quentes, dos quais dependem quase mil milhões de pessoas e um quarto de toda a vida marinha, estão a ultrapassar o ponto de inflexão e está a acontecer uma mortandade generalizada.

O mundo atingiu com os corais o primeiro de muitos pontos de inflexão do sistema terrestre, que causarão danos catastróficos, indica um relatório divulgado esta segunda-feira, realizado por 160 cientistas de 23 países.
Sirachai Arunrugstichai/Getty
O relatório, feito pela Universidade de Exeter, Inglaterra, e parceiros, conclui que os recifes de coral de águas quentes, dos quais dependem quase mil milhões de pessoas e um quarto de toda a vida marinha, estão a ultrapassar o ponto de inflexão e está a acontecer uma mortandade generalizada. Os pontos de inflexão são limiares críticos do sistema terrestre que, quando ultrapassados, podem levar a mudanças abruptas e irreversíveis. Segundo a ONU, essa mudança pode alimentar-se a si própria e o sistema só encontra estabilidade décadas ou séculos depois. Em comunicado, a universidade diz que o mundo enfrenta agora uma "nova realidade", após atingir "um dos muitos pontos de inflexão" que causarão danos catastróficos, a menos que a humanidade tome medidas urgentes. A um mês da próxima cimeira da ONU sobre o clima (COP30), no Brasil, o segundo "Global Tipping Points Report" (Relatório Global de Pontos de Inflexão) diz que, sem essas medidas, os recifes estão perdidos. E avisa que o mundo está à beira de mais pontos de inflexão, com riscos devastadores para pessoas e para o planeta: o degelo, o colapso das correntes oceânicas e o declínio da floresta amazónica. Os cientistas concluem que o aumento da temperatura que desencadearia a morte generalizada da Amazónia é menor do que se esperava, com um limite inferior estimado em 1,5°C. Mais de cem milhões de pessoas dependem da Amazónia. No colapso das correntes oceânicas destaca-se a circulação meridional do atlântico (AMOC), que transporta águas quentes do sul para o norte, o que ajuda a regular o clima na Europa. Se a AMOC entrar em colapso, levará a invernos mais rigorosos na Europa, a perturbações na alternância entre estações seca e chuvosa na África Ocidental e na Índia, e à redução da produtividade agrícola em grande parte do mundo. Com o aquecimento global prestes a ultrapassar os 1,5°C em relação à época pré-industrial, os 160 cientistas de 87 instituições avisam que é preciso minimizar o aumento de temperatura para que se evite ultrapassar mais pontos de viragem, situações que acordos internacionais não conseguem combater. As ações para desencadear "pontos de inflexão positivos", como o uso de tecnologias verdes, "oferecem agora o único caminho credível para um futuro seguro, justo e sustentável", refere o relatório. Os investigadores estão a trabalhar com a presidência brasileira da COP30 para garantir que os pontos de viragem estão na agenda da cimeira. "Estamos a aproximar-nos rapidamente de múltiplos pontos de inflexão do sistema terrestre que podem transformar o nosso mundo, com consequências devastadoras para as pessoas e para a natureza. Isto exige ações imediatas e sem precedentes por parte dos líderes na COP30 e dos decisores políticos de todo o mundo", diz no documento Tim Lenton, da Universidade de Exeter. O responsável assinala que, dois anos passados sobre o primeiro relatório, houve melhorias em áreas como a energia solar e eólica, a adoção de veículos elétricos e as atitudes sociais, com a preocupação com as alterações climáticas a crescer a nível mundial, mas é preciso mudar mais e mais rapidamente. Também citado no comunicado da Universidade, Mike Barrett, coautor do relatório, classifica as conclusões do relatório como "incrivelmente alarmantes". "O facto de os recifes de coral de águas quentes estarem a ultrapassar o seu ponto de inflexão térmica é uma tragédia para a natureza e para as pessoas que dependem deles para alimentação e rendimento. Esta situação sombria deve servir de alerta para o facto de que, a menos que ajamos decisivamente agora, também perderemos a floresta amazónica, as camadas de gelo e as correntes oceânicas vitais". Esse cenário, alerta, seria "verdadeiramente catastrófico para toda a humanidade". Os autores defendem que os países devem na COP30 entender a extensão da crise climática e natural e demonstrar coragem política nas soluções, que passam pela redução de emissões e o alargamento da remoção de carbono.
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