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Oceanos: Sobe para 36 número de países com moratórias à exploração em mar profundo

Lusa 10 de junho de 2025 às 10:11

No início da conferência (que decorre em Nice, França), 33 países, incluindo Portugal, tinham estabelecido moratórias à exploração do mar profundo e hoje já se juntaram Chipre, as Ilhas Marshall e a Letónia.

A terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano entra esta terça-feira no segundo dia com mais países a aprovarem moratórias à mineração em mar profundo, subindo para 36, medida pedida por cientistas que reclamam a necessidade de mais estudos.

AP Photo/Annika Hammerschlag

No início da conferência (que decorre em Nice, França), 33 países, incluindo Portugal, tinham estabelecido moratórias à exploração do mar profundo e hoje já se juntaram Chipre, as Ilhas Marshall e a Letónia.

Um progresso assinalado em comunicado por Megan Randles, da Greenpeace: "Aqui em Nice podemos sentir que a ameaça iminente da mineração em alto mar e o recente comportamento imprudente da indústria são vistos por muitos Estados como inaceitáveis".

Questionado pela Lusa sobre os impactos da atividade extrativa em mar profundo -- entre 3.000 a 4.000 metros de profundidade - o administrador e coordenador científico da Fundação Oceano Azul, Emanuel Gonçalves, disse que "apoia fortemente esta moratória" uma vez que "já se sabe que pode ter um impacto desastroso" no funcionamento desses ecossistemas.

Além do impacto de revolver o fundo marinho, onde há uma grande deposição do carbono do planeta, Emanuel Gonçalves questionou se o tipo de minerais que se procuram, para a tecnologia que existe atualmente, "se serão os materiais necessários, se os recursos que existem em terra não serão suficientes".

Da Universidade da Califórnia Santa Bárbara, Diva Amon veio à conferência e disse à Lusa estar "muito preocupada", sublinhando que "há muitos riscos ambientais com a extração no mar profundo, desde logo porque o mar profundo não regenera num curto espaço de tempo, pode demorar anos, milhares de anos para que estes ecossistemas retornem ao que eram antes".

"Como se isto não fosse problemático já de si, nós apenas começámos a descobrir estas zonas agora e estamos a aprender o que lá vive e como se vive e isso significa que precisamos de muito mais estudos e mais ciência", frisou.

A cientista norte-americana considerou dramático que os EUA, que não são signatários da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, tenham declarado a intenção de avançar com a exploração do mar profundo indo também contra a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, da ONU, que está a trabalhar com os vários países sobre esta matéria.

Também para o presidente da associação ambientalista Zero, Francisco Ferreira, "a pressão está a ser cada vez maior, quer em terra quer no mar", referindo-se à produção de computadores e baterias.

Francisco Ferreira considerou que "há uma questão geopolítica complicada entre China, a Europa, os Estados Unidos, Ucrânia e África, um mercado que é dominado pela China. [...] A busca de minerais para utilização de equipamentos eletrónicos é absolutamente devastadora para os oceanos".

"Já temos um conjunto de ameaças e esta é mais uma forte e dramática", considerou.

Uma opinião corroborada pelo diretor-geral da organização WWF, Kirsten Schuijt, que disse que deve haver "uma pausa na mineração em águas profundas até que a ciência esteja pronta para garantir a proteção eficaz do ambiente marinho".

O oceano é fundamental para estabilizar o clima da Terra e sustentar a vida. Gera 50% do oxigénio que respiramos, absorve cerca de 30% das emissões de dióxido de carbono e captura mais de 90% do excesso de calor causado por essas emissões.

A Conferência da ONU decorre até sexta-feira junto ao porto de Nice e reúne delegações de mais de 100 países e 40 agências internacionais, bem como a comunidade científica e organizações ambientais.

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