Brigitte e Emmanuel nada têm a ganhar com este processo que empestará ainda mais a atmosfera tóxica que rodeia o presidente, condenado às agruras políticas de um deplorável fim de mandato
Poderia ser um quadro de vaudeville, mas tem algo de absurdamente sério e insensato o processo do casal presidencial francês contra uma desvairada de extrema-direita norte-americana que corre no Supremo Tribunal do Delaware.
A septuagenária Brigitte Macron – três vezes mãe, sete vezes avó – e seu marido, apresentaram queixa por difamação contra Candece Owens, em Julho de 2025.
Owens, empresária de teorias da conspiração, oriunda de uma família negra nova-iorquina, tem propagado nas suas plataformas desde Março de 2024 que Brigitte Marie-Claude Trogneux – conforme consta da certidão de nascimento – é uma transgénero. Brigitte fora um homem com o nome Jean-Michel Trogneux.
Jean-Michel, nascido em 1945, é aliás um dos irmãos ainda vivos de Brigitte, e ambos processaram por difamação, em Paris, Natacha Rey, «jornalista autodidacta independente», e a «médium» Amandine Roy, por difundirem no YouTube, em 2021, o boato de que Brigitte seria na verdade um homem.
A «médium» e a «autodidacta» foram condenadas em Setembro de 2024 por difamação, mas acabaram ilibadas em tribunal de segunda instância em Julho deste ano, levando Brigitte e Jean-Michel a recorrer para o Supremo (Cour de cassation).
O boato, corrente desde a eleição de Macron, em Maio de 2017, é semelhante a rumores envolvendo Hillary Clinton, Kamala Harris ou a antiga primeira-ministra neozelandesa Jacinda Ardern a que vão acrescendo denúncias de incesto e pedofilia.
Owens, nascida em 1989, entrou nas lides da infâmia e abuso em 2015, depois de ter abandonado um curso de jornalismo e tornou-se uma das propagandistas de teorias conspirativas mais conspícua nos Estados Unidos, contando com 6,9 milhões de subscritores em X, cerca 6 milhões no Instagram e outros 4,7 milhões em YouTube.
Os Macron alegam que a empresária persiste na sua «campanha de difamação» para «ganhar notoriedade e dinheiro», exigindo retractação e indemnização a determinar.
O maná publicitário é bem-vindo para Owens conhecida por atribuir os atentados da Al Qaeda de 2001 à CIA ou denunciar como uma «mentira completa» a alunagem, em 1969, da Apollo 11.
Ultimamente insinua que Israel pode estar por detrás do assassínio, numa universidade do Utah, do propagandista MAGA Charlie Kirk, a 10 de Setembro.
Ao optarem por se enfiar no esterco, aos Macron não bastará provar, nos termos da lei norte-americana, que as afirmações de Owens são falsas.
O casal presidencial terá, ainda, de fazer prova da má-fé, da intenção de Owens os prejudicar ao promover a calúnia que, ademais, lhes terá causado prejuízos económicos.
A repercussão nos Estados Unidos dos boatos, causando «substanciais prejuízos reputacionais» justificam ainda a queixa.
Os queixosos apresentarão, segundo o seu advogado Thomas Clare, provas fotográficas e científicas de que Brigitte é uma mulher.
Dos amores de Brigitte e Emmanuel sabe-se que se apaixonaram, em 1993, era ela professora de francês no Lycée La Providence, um colégio privado jesuíta em Amiens, e ele aluno prometedor nos seus dezasseis anos.
A diferença de idades – ela nascida em Abril de 1953, ele em Dezembro de 1977 – entre a professora casada desde 1974 com André-Louis Auzière, funcionário do banco Crédit du Nord (falecido em 2019), mãe de duas raparigas e um rapaz, não obstou ao romance algo escandaloso com o aluno.
A católica não-praticante e o agnóstico, que se fizera baptizar católico aos 12 anos, acabaram por se casar em 2007, pouco mais de um ano depois de ter sido decretado o divórcio da professora, não havendo descendentes do matrimónio.
Brigitte e Emmanuel nada têm a ganhar com este processo que empestará ainda mais a atmosfera tóxica que rodeia o presidente, condenado às agruras políticas de um deplorável fim de mandato.
O relevo que lhe darão os media institucionais agravará o efeito perverso dos boatos e calúnias, típico daquilo que Umberto Eco denominou «a invasão dos imbecis».
Advertia o erudito italiano, ao receber mais um doutoramento honoris causa, dessa feita, em Junho de 2015, na Universidade de Turim, que «os meios sociais deram direito de palavra a legiões de imbecis que antes só falavam no bar depois de uma taça de vinho sem prejudicar a colectividade».
Já não os mandam calar e reconhecem-lhes agora um direito à palavra comparável a um Prémio Nobel, lamentava o saudoso Eco.
Vindas do bar, saídas da tasca, as tiradas dos imbecis contaminam o ar que se respira.
Tentar obter uma condenação exemplar de uma desvairada oportunista é reconhecer-lhe importância desmedida.
É bem possível que tudo se arraste e se esgote em mais um dos erros em que Emmanuel Macron é useiro e vezeiro.
Brigitte e Emmanuel nada têm a ganhar com este processo que empestará ainda mais a atmosfera tóxica que rodeia o presidente, condenado às agruras políticas de um deplorável fim de mandato
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