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Cerca de 14% dos adultos são viciados em alimentos ultraprocessados  

Débora Calheiros Lourenço 10 de outubro de 2023 às 11:27

Os responsáveis pelo estudo sugerem que alguns destes alimentos deviam ser oficialmente classificados como "viciantes".

Um em cada sete adultos e uma em cada oito crianças são viciados em alimentos ultraprocessados. Estas são as conclusões de uma recente análise liderada pela Universidade do Michigan, EUA, que também alerta para a necessidade de alguns produtos serem rotulados como viciantes.

Getty Images

O consumo excessivo de gelados, bebidas gaseificadas, bolachas ou refeições prontas já foi várias vezes associado a problemas de saúde, incluindo um maior risco de cancro, excesso de peso e doenças cardíacas. No entanto, o consumo de alimentos ultraprocessados continua a aumentar e já representa mais de metade das calorias consumidas diariamente na dieta dos habitantes do Reino Unido e Estados Unidos.

Agora, os investigadores entenderam que a forma como parte da população consome este tipo de alimentos pode ser equiparada "aos critérios para o diagnóstico de transtorno por uso de substâncias".

Algumas das parecenças identificadas foram: desejos intensos, sintomas de abstinência, menor controlo sobre a ingestão e utilização de forma contínua. Todos estes fatores se mantêm apesar de os consumidores terem consciência das possíveis consequências de uma alimentação pouco saudável, sejam elas a obesidade, transtorno de compulsão alimentar, pior saúde física e mental e até menor qualidade de vida.

A análise teve por base 281 estudos feitos em 36 países publicados narevista científica BMJ, uma das publicações mais influentes e conceituadas na área da medicina, e concluiu que a "dependência de alimentos ultraprocessados" é verificada em 14% dos adultos e 12% das crianças.

Assim sendo, os investigadores sugerem que alguns destes alimentos devem ser oficialmente classificados como "viciantes", demonstrando uma mudança nas políticas sociais e de saúde pública.

Ashley Gearhardt, uma das autoras do artigo e professora de psicologia na Universidade de Michigan, Estados Unidos, acredita que "existe um apoio convergente e consistente para a relevância clínica da dependência alimentar" mas ainda é preciso serem adotadas mais medidas. Estas devem passar pelo reconhecimento de que "certos tipos de alimentos processados têm propriedades de substâncias viciantes".

O relatório também aponta que os "carboidratos ou as gorduras refinadas evocam níveis semelhantes de dopamina extracelular no cérebro do que as substâncias viciantes, como a nicotina e o álcool".

O vício pode ser um resultado da velocidade com que estes alimentos fornecem hidratos de carbono e gorduras ao intestino mas também aos aditivos que existem na maior parte deles. Estes aditivos, utilizados na maior parte das vezes para melhor o sabor e "a sensação na boca", não têm a capacidade de causar dependência só por si mas "tornam-se poderosos reforços dos efeitos das calorias no intestino"

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