Secções
Entrar

Violência contra as mulheres em 90% da pornografia. França quer processar criadores

Débora Calheiros Lourenço 28 de setembro de 2023 às 10:39

Parte do conteúdo foi até considerado equivalente a tortura.

Cerca de 90% do conteúdo pornográfico disponível online contém cenas de violência verbal, física e sexual contra mulheres e uma parte significativa desta violência é punível pelo código penal francês, concluiu umrelatório do órgão de vigilância nomeado pelo governo.

Cofina Media

O Conselho Superior para Igualdade entre Mulheres e Homens entregou na quarta-feira um relatório onde descreve várias práticas ilegais da indústria pornográfica e pede ao governo francês que altere a lei de forma a processar os criadores de pornografia e conseguir retirar os conteúdos da internet, para proteger as vítimas.

A equipa responsável pelo relatório passou 18 meses a analisar milhões de vídeos dos maiores sites internacionais de pornografia e a entrevistar participantes para poder concluir que "mulheres, caricaturadas com os piores estereótipos sexistas e racistas, são humilhadas, objetificadas, desumanizadas, agredidas, torturadas, submetidas a um tratamento contrário à dignidade humana e à lei francesa".

Uma quantidade significativa deste conteúdo foi até considerado equivalente a tortura, pelo que mesmo que existisse qualquer tipo de contrato seria nulo em termos legais, já que não podem permitir tortura, exploração e tráfico sexual. "As mulheres são reais, os atos sexuais e a violência são reais, o sofrimento é muitas vezes perfeitamente visível e ao mesmo tempo erotizado", considera o relatório.

É ainda condenada a "inação" do Estado e das autoridades francesas contra as décadas delobbyda indústria pornográfica que afirma que defende a liberdade de expressão e por isso o relatório aponta que é preciso acabar com a "cegueira e negação" e punir os autores de violência filmados e ilegais, acabando com a "total impunidade da indústria".

Segundo a Arcom, regulador audiovisual francês, 51% dos rapazes de 12 anos veem pornografia pelo menos uma vez por mês o que o Conselho Superior para Igualdade entre Mulheres e Homens também considera perigoso já que "o consumo massivo de pornografia desde tenra idade reforça a cultura da violação".

Atualmente já existem alguns casos em tribunais franceses contra produtores de pornografia. Num deles 17 homens estão a ser julgados por violação, violação em grupo e tráfico de seres humanos para exploração sexual que gerou pelo menos 40 vítimas.

Ainda assim o relatório considera que os poucos processos legais existentes são muito longos: "Para as poucas dezenas de vítimas cuja voz é ouvida pelo sistema judicial, existem milhões de vídeos publicados sem controlo, que prosperam na violência misógina, no ódio e até na indiferença".

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela