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Partos na rua? "Só quem sabe o que está a fazer é que pode ajudar"

Luana Augusto 14 de agosto de 2025 às 07:00

À SÁBADO duas especialistas em enfermagem obstétrica deixam alguns conselhos que devem ser tidos em conta caso uma grávida entre em trabalho de parto e o socorro não chegue.

Podia ser uma exceção, mas ao invés disso este cenário tornou-se cada vez mais recorrente em Portugal. Na terça-feira, o Correio da Manhã avançou que uma jovem de 28 anos . A chegada tardia dos meios de socorro, que em parte se deveu ao facto da primeira ambulância enviada ter o pneu furado - fez com que os pais tivessem de ajudar a gestante no trabalho de parto. No entanto, à SÁBADO a presidente da mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica defende que neste tipo de situações os acompanhantes não devem fazer nada até à chegada das autoridades ao local.
Ligar para o 112 decide hospital para grávidas
"Só quem sabe o que está a fazer é que pode ajudar. Por isso, é deixar a natureza atuar e não mexer", aconselha Alexandrina Cardoso ao alertar que a tentativa de ajuda "pode causar lesões na mulher e no bebé".  A falta de acompanhamento profissional pode, assim, aumentar "os riscos de hemorragia, sofrimento fetal não identificado, dificuldades na saída da placenta, complicações respiratórias no recém-nascido e infeções", elenca  a vice-presidente da Associação Portuguesa dos Enfermeiros Obstetras (APEO), Isabel Ferreira. Caso a grávida entre em trabalho de parto, a primeira reação deverá ser ligar para o 112. Só caso os acompanhantes recebam indicações por parte dos profissionais de saúde é que podem ajudar a gestante. "Se estiverem a falar com um profissional de saúde eles podem ir descrevendo o que é que devem fazer", diz Alexandrina Cardoso. E adiantou já algumas dicas: "Imaginemos que a cabeça do bebé está exteriorizada, então aí a mulher deve ser colocada numa posição confortável, o mais perto possível do chão, porque se o bebé cair o crânio do recém nascido poderá sofrer uma fratura." Depois, deve-se "colocar roupa por baixo da grávida para a proteger e deixá-la mais confortável". E caso o bebé não esteja na posição correta? Isabel Ferreira, explica: "Sem essa formação, a recomendação é não tentar manobras e assegurar transporte o mais rápido possível para uma unidade com assistência qualificada." Após o nascimento do bebé, o recém-nascido "deve ser protegido do frio e limpo com a peça de roupa mais limpa possível" que há no local. "Tem de ser garantido o aquecimento do bebé - o ideal é até colocá-lo pele com pele com a mãe - e a cabeça deve ser protegida." Outro pormenor importante está em "não arrancar o cordão umbilical". "Manter o cordão intacto e o bebé junto da mãe é fundamental, pois o cordão continua a fornecer oxigénio e nutrientes nos minutos após o nascimento. O corte deve ser feito apenas por profissionais, em ambiente seguro e com material esterilizado", esclarece Isabel Ferreira. Os acompanhantes devem também ajudar a grávida a acalmar-se, a partir do momento em que esta começa a ter contrações. "Se a grávida estiver, por exemplo, num passeio ela vai-se sentir num ambiente ameaçador, onde não se sente segura, e neste momento mais do que dizer 'tem calma' é respirar com ela sem dizer 'respira comigo'". Segundo Alexandrina Cardoso, a inspiração deve ser profunda e a expiração lenta. Além disso, aconselha também que os acompanhantes lhe toquem, por exemplo, na mão para a acalmar e não "num sítio íntimo, porque se assim for irá sentir-se ameaçada". Dizer "já chamámos gente também pode trazer tranquilidade". Em declarações à SÁBADO, a vice-presidente da APEO classificou a mais recente notícia do CM como uma "situação lamentável e evitável". "Portugal dispõe de enfermeiras obstetras e parteiras altamente qualificadas para assistir partos normais com segurança. Não é admissível que, por falta de médicos obstetras, se encerrem serviços de parto e se deixe grávidas sem assistência, sujeitando-as a dar à luz em condições indignas e inseguras. Os serviços devem manter-se abertos sempre que haja enfermeiros obstetras/parteiras disponíveis, encaminhando apenas as situações de risco que justifiquem outro nível de cuidados." Anteriormente, também o bastonário da Ordem dos Enfermeiros já havia lamentado este episódio e deixado críticas ao Governo. "Não percebo, em vez de se tomarem as decisões certas e de as grávidas serem acompanhadas por enfermeiras especialistas, o País prefere assistir ao nascimento de bebés em ambulâncias", referiu em declarações à SÁBADO.
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