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O que é a Kick, a plataforma que transmitiu a morte de um streamer francês?

Luana Augusto 20 de agosto de 2025 às 19:45

Kick tem acolhido influenciadores banidos da Twitch e é conhecida pela sua política mais liberal. Além das polémicas de que é alvo, enfrenta vários processos judiciais nos EUA e é proibida em alguns países europeus.

Raphaël Graven, mais conhecido como Jeanpormanove, foi na segunda-feira, numa casa em Contes, a norte de Nice. Durante vários anos, Raphaël foi submetido a desafios extremos - a que a secretária de Estado francesa para a Inteligência Artificial e os Assuntos Digitais, Clara Chappaz, classificou como um "absoluto terror" e humilhação". Agora, a sua morte ficou registada numa transmissão em direto para a plataforma Kick e as autoridades francesas dizem estar a investigar o caso para determinar as causas que levaram à sua morte.
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Esta tragédia veio agora trazer algum destaque a esta plataforma, que até então era pouco conhecida, assim como às suas políticas de moderação particularmente brandas. Afinal, o que é a Kick?

O que é a Kick?

A Kick é uma plataforma de streaming semelhante à Twitch. Lançada em 2022, foi fundada na Austrália e pouco se sabe acerca dos seus investidores - apenas que os seus dois cofundadores são Bijan Tehrani e Ed Craven. Tal como acontece na Twitch, na Kick os visualizadores têm de pagar para subscrever um canal e desbloquear benefícios especiais. Em agosto, a plataforma reportou uma audiência mensal de 817 mil pessoas - o que significa menos de um terço que na Twitch, que no mesmo período obteve uma audiência mensal de 2,1 milhões de pessoas, de acordo com o site StreamCharts.

No que esta plataforma difere das outras?

A Kich destaca-se principalmente pelo seu sistema de pagamento altamente atraente para os criadores de conteúdo. A plataforma retém apenas 5% do dinheiro pago pelos utilizadores que assinam os canais. Este valor difere bastante quando comparado, por exemplo, com a Twitch, que retém entre 30% a 50% do valor. A segunda vantagem prende-se com a política da plataforma que é muito mais permissiva. A Kick permite que certas atividades proibidas na Twitch, como cenas sexualmente sugestivas ou conteúdos que envolvam humilhação ou violência, sejam transmitidos sem sanções automáticas.

Kick acolhe streamers banidos de outras plataformas

A Kick tem vindo a aproveitar-se da sua reputação mais liberal para atrair influenciadores banidos de outras plataformas. Chegou a acolher, por exemplo, Kaitlyn “Amouranth” - uma criadora de contéúdos norte-americana que foi temporariamente suspensa da Twitch pelos seus vídeos considerados excessivamente sexualizados. O mesmo aconteceu com o influenciador pró-Trump, Adin Rosse, que é conhecido pelos seus ideais homofóbicos e racistas. Juntou-se à Kick depois de ter sido banido da Twitch em 2023. Apesar dos influenciadores da Kick serem maioritáriamente anglófonos, também existem vários francófonos que foram banidos de outros serviços de streaming. É o caso do youtuber Marvel Fitness, que chegou a ser condenado em 2021 por assédio moral.

As polémicas da Kick

A Kick tem sido regularmente alvo de controvérsias. Em setembro de 2023, por exemplo, uma profissional do sexo foi detida no apartamento do streamer Ice Poseidon, cujo nome verdadeiro é Paul Denino. O episódio foi transmitido ao vivo nesta plataforma e enquanto ela era detida o CEO da plataforma comentava a detenção e ria-se. Um ano depois, outros dois influenciadores americanos - Jack Doherty e Sam Pepper - foram banidos da Kick. Doherty foi removido por ter filmado o seu acidente de carro e Pepper por ter enganado uma sem-abrigo num evento encenado. Já Ross, chegou a fazer transmissões ao vivo com o influenciador Andrew Tate.

Quais as ligações da Kick aos casinos online?

A Kick está diretamente ligada a um importante site de apostas - o Stake - que foi criado pelos mesmos fundadores da Kick. A plataforma exibe, por isso, frequentemente anúncios deste casino online. O Stake é ilegal em França e também está bloqueado em vários países europeus. A plataforma havia obtido uma licença para operar legalmente no Reino Unido, no entanto, a empresa anunciou em fevereiro que iria deixar o país após um escândalo: acontece que o Stake lançou uma campanha publicitaria com a imagem de uma estrela pornográfica para promover o seu serviço de apostas online - o que levou as autoridades competentes a investigarem o caso. Além disso, a empresa enfrenta também vários processos judiciais nos Estados Unidos. O Stake afirma que as suas operações são legais, mas vários estados norte-americanos alegam que a empresa viola as leis americanas.
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