Secções
Entrar

Covid-19: Movimento cívico exige "liberdade" para as crianças

11 de outubro de 2020 às 19:08

As escolas estão a limitar as crianças "no ato fisiológico de respirar" e no "movimento de brincadeiras, criando bolhas, seja por turmas, seja por anos", dizem manifestantes.

O movimento cívico Covid-19 com Ciência organizou este domingo uma concentração, em frente à Assembleia da República, para exigir "liberdade" para as crianças e contestar as medidas sanitárias nas escolas, no contexto da pandemia de Covid-19.

Cerca de duas centenas de pessoas - crianças e adultos - juntaram-se na base da escadaria do Parlamento, empunhando cartazes onde se lia "Pelas crianças, pela saúde", "Abram os parques infantis, deixem as crianças brincar" e "Infância há só uma".

Sandra Oliveira, do Covid-19 com Ciência, disse à Lusa que o objetivo da concentração, também apoiada pelo movimento de cidadãos Verdade Inconveniente, foi "pôr as pessoas a pensar, a refletir" na forma como as autoridades sanitárias estão a tratar as crianças.

A resposta à pandemia de Covid-19 "está a ser tratada de uma forma política sem a base daquilo que é essencial, que é a ciência e a medicina", considera.

"Muitas das orientações sanitárias que estão a ser emitidas, seja para as escolas, seja a nível do nosso sistema nacional de saúde, não estão alinhadas com aquilo que sabemos existir como fundamentos científicos", alega.

Na opinião de Sandra Oliveira, as escolas estão a limitar as crianças "no ato fisiológico de respirar" e no "movimento de brincadeiras, criando bolhas, seja por turmas, seja por anos".

O movimento critica a atuação da Direção-Geral da Saúde (DGS), numa altura em que os novos casos de infeção com Covid-19 em Portugal ultrapassam o milhar diário pelo quarto dia consecutivo.

"Queremos transparência. Queremos saber quem é a equipa da DGS que está a fazer com que estas orientações saiam, porque elas não estão, muitas vezes, sequer alinhadas com a Organização Mundial da Saúde [OMS]", contesta Sandra Oliveira.

Opinião corroborada pela médica anestesista Margarida Oliveira, que esteve na concentração e que, em nome do grupo Médicos pela Verdade, disse à Lusa não compreender em que se baseiam as decisões da DGS, que considera um "oráculo de especialistas sem rosto e sem nome".

As autoridades sanitárias portuguesas estão a ir "para além do que a OMS recomenda" e "cada autarquia e cada agrupamento escolar está a fazer medidas de autor", avalia a médica, falando na criação de "um ambiente de medo, que vai ter seguramente repercussões" no futuro.

Sublinhando que os Médicos pela Verdade não desvalorizam a doença, que já matou mais de um milhão e setenta e quatro mil pessoas em todo o mundo, entre as quais mais de dois mil portugueses, Margarida Oliveira contesta as câmaras de desinfeção e a desinfeção permanente com álcool gel nas escolas e a imposição de máscaras entre crianças do 1.º ciclo.

"Eu sou anestesista, eu ando lá, eu vejo doentes com Covid, eu anestesio doentes com Covid. Não tem nada a ver com isso [desvalorizar a pandemia]. Tem a ver com a desproporção", diferencia.

"Isto é um vírus respiratório que, em algumas pessoas, com particularidades específicas de vulnerabilidade, pela idade ou patologia associada, estão particularmente suscetíveis de desenvolver doença grave. Mas essa percentagem é ínfima e essa percentagem tem como ser tratada, tem como ser controlada e está devidamente assegurada. Não se pode, em nome de uma minoria, cortar a liberdade de uma sociedade inteira, por um vírus que é respiratório", sustenta.

A Associação Nacional de Espaços Infantis e Recreativos associou-se também à concentração, que juntou cerca de duas centenas de pessoas, poucas usando máscara (que não é obrigatória no espaço público) e nem sempre cumprindo o distanciamento social.

"Há sete meses que fecharam os parques infantis e até hoje ainda não houve qualquer espécie de luz ao fundo do túnel para podermos retomar a atividade. Não só nós, que temos estes negócios, não podemos trabalhar, como temos as famílias e as crianças que não podem celebrar aniversários, divertir-se, utilizar os nossos espaços", reclama André Resende, da Associação Nacional de Espaços Infantis e Recreativos.

Os cerca de 500 espaços infantis e recreativos privados existentes no país empregam "cerca de três mil trabalhadores, diretos e indiretos", que estão suspensos desde março, explicou à Lusa.

Assegurando que, no caso de uma reabertura, os espaços infantis e recreativos teriam "todas as condições" de segurança e higiene necessárias, André Resende realça que as autoridades ainda estão "um passo atrás", porque "nem sequer existe abertura ao diálogo" para ouvir a associação e "trabalhar numa solução" para a retoma da atividade.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela