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Bullying: "Apenas 8,9% das testemunhas de agressões na escola defenderam a vítima"

Susana Lúcio 06 de fevereiro de 2025 às 11:22

Mafalda Ferreira, responsável pelo Observatório Nacional do Bullying, considera necessário investir na educação emocional das crianças para que episódios como a agressão na Escola Básica Fragata do Tejo, na Moita, não voltem a acontecer.

A agressão de um rapaz contra um colega com autismo na Escola Básica Fragata do Tejo, na Moita, chocou o país. Para além da violência exercida, impressionou a passividade dos colegas que assistiram ao ataque, filmaram até, e nunca interviram, nem mesmo quando a vítima já chorava sozinha no chão. 

Mafalda Ferreira, criminóloga, presidente da Associação Plano I para a Igualdade e Inclusão, responsável pelo Observatório Nacional do Bullying, considera que a banalização da violência e a falta de informação sobre como agir em caso de violência podem explicar o comportamento das crianças. 

Quantas denúncias recebeu o Observatório do Bullying desde que foi criado? 

O Observatório Nacional do Bullying recebeu 666 denúncias desde sua criação em 2020, das quais apenas 661 foram objeto de análise considerando o não consentimento para análise e tratamento dos dados. O número de denúncias por ano é variável, contudo constatamos que o número de denúncias tende a aumentar em períodos de maior divulgação do Observatório (e.g., media, redes sociais, ações de formação ou sensibilização, eventos científicos) e após a divulgação de situações mediáticas desta natureza.

 

Das denúncias, quantas são de agressão física?

53.1% dos casos envolvem agressão física. Não obstante, é importante ressalvar que a violência psicológica continua a ser mais prevalente, sendo reportada em 89.3% dos casos e sendo a tipologia que impacta de forma mais significativa as vítimas.

 

Quais são os principais motivos do bullying nas escolas? O ser diferente é uma das justificações?

As principais motivações reportadas para a prática do bullying são o aspeto físico da vítima (51,9%), os seus resultados académicos (34,9%), a sua idade (17,5%), sexo (13,8%) e outros fatores como identidade de género, etnia e orientação sexual.

 

Qual é o local na escola onde mais ocorre o bullying? A presença de mais auxiliares de educação pode evitar incidentes?

O recreio é o local mais frequente para a prática de bullying. A presença de mais auxiliares de ação educativa/ assistentes operacionais poderá prevenir este flagelo através da observação atenta do comportamento dos/as estudantes, identificando sinais de alerta como o isolamento social, lesões de natureza física, baixa autoestima, entre outros e, intervindo de forma precoce em articulação com a direção escolar, psicológo/a escolar e/ou corpo docente. O seu papel é fundamental na promoção de um ambiente seguro e inclusivo, incentivando o respeito e a empatia entre as crianças e jovens. Além disso, a implementação de programas de prevenção e combate ao bullying em contexto escolar, bem como da promoção de valores como a empatia, gestão emocional, entre outros.

Quais são as consequências psicológicas para as vitimas e para os agressores?

Os principais impactos para as vítimas resultam em sentimentos de ansiedade (89,6%), tristeza (88,2%), vergonha (72,6%), concentração (72,3%) e dificuldades de sono (71,6%). As pessoas agressoras podem experienciar impactos ao nível do seu rendimento escolar, desenvolvimento de comportamentos violentos, maior risco de envolvimento em atos delinquentes e impactos na sua vida pessoal e social, bem como sentimentos de culpa, vergonha e ansiedade, entre outros.

A impulsividade inerente à adolescência pode justificar estes casos de agressão física?

O bullying é um ato repetitivo e intencional, com o objetivo de humilhar, intimidar ou prejudicar a vítima, existindo consciência e intenção do dano causado. Por outro lado, a falta de empatia, o desequilíbrio de poder, a influência dos pares e a existência de ambientes permissivos que promovam a impunidade da pessoa agressora, podem justificar estes comportamentos.

No caso da agressão na escola da Moita, como se explica a passividade das crianças que assistem à agressão?

De acordo com os resultados do Observatório, apenas 8,9% das testemunhas defenderam a vítima no momento da agressão. O medo de represálias, a banalização da violência e a falta de informação sobre como agir, podem justificar a passividade dos/as bystanders [espetadores]. Estes/as desempenham um papel crucial na dinâmica do bullying, podendo tanto perpetuar quanto interromper esse comportamento através da tomada de uma atitude proativa, podem reduzir significativamente a frequência e o impacto das agressões.

Considera haver menor empatia nas gerações mais novas?

Não há evidências diretas no relatório acerca da diminuição da empatia, mas a baixa intervenção ativa em defesa das vítimas pode sugerir uma menor sensibilização para o problema. Contudo, outros fatores como a influência dos pares e das redes sociais, a falta de educação emocional, entre outros fatores podem comprometer a empatia das crianças e jovens. No entanto, a empatia pode ser desenvolvida através do diálogo, da partilha de experiências alheias, da gestão emocional e do respeito.

 

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