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A Rainha que nunca vai abdicar do trono

24 de outubro de 2021 às 07:00

A monarquia é para Isabel II uma missão divina, diz o antigo embaixador Bouza Serrano. A SÁBADO traz-lhe uma nova biografia da soberana.

Acasa em que Isabel II nasceu já não existe, muitos dos seus mais de 30 cães já morreram – tem, hoje, três –, mas a Rainha continua a desempenhar o papel que assumiu quando tinha apenas 25 anos. Em 2022, celebra 70 anos de reinado. Um legado com muitas vitórias, mas também muitas dores de cabeça, provocadas por quase toda a família real – filhos, netos, noras, irmã, marido. Com 95 anos, as pessoas em quem confia para repartir funções são o filho Carlos e o neto William, muito próximos da monarca.

Abdicar, uma palavra proibida
A palavra abdicar é uma expressão que a Rainha considera “quase indigna”. De acordo com a Vanity Fair, terá mesmo proibido que fosse usada à sua frente. Para o antigo embaixador e ex-chefe de Protocolo do Estado, José Bouza Serrano, Isabel II nunca vai abdicar, porque encara a monarquia como uma missão divina – na Grã-Bretanha, os Reis são ungidos, recebem do arcebispo da Cantuária óleos sagrados na cabeça, mãos e peito, num compromisso com Deus. “Na altura da coroação houve uma discussão sobre se esta devia ser transmitida ou não pela televisão. O [então primeiro-ministro britânico] Winston Churchill achava que não, mas a Rainha queria. A única parte que não se viu foi a altura em que são postos os óleos e é feita a unção, mas ela aconteceu”, explica à SÁBADO o também autor do livro As Famílias Reais dos Nossos Tempos.

“É a única monarquia em que os monarcas são ungidos. É uma ligação ao direito divino”, acrescenta. Para o diplomata, a Rainha vai continuar a trabalhar até ao fim dos seus dias – a prova é que mesmo depois da perda do marido, o príncipe Filipe, continua a presidir às cerimónias mais importantes, como a Abertura do Parlamento.

O escândalo do príncipe André
Aos 61 anos, o terceiro filho da Rainha teve sempre um lugar especial no coração da monarca. Mesmo depois de, em 2019, ter anunciado que se ia afastar das funções reais, na sequência da amizade com Jeffrey Epstein, o multimilionário norte-americano condenado por abuso de menores e encontrado morto na cadeia nesse ano. Mais recentemente, André foi mesmo acusado de violar menores nas mansões de Epstein.

“É uma situação de grande fragilidade e, para a Rainha, que para o ano tem o jubileu de platina, será uma grande preocupação. Pode assombrar as celebrações”, considera José Bouza Serrano. O príncipe, que se divorciou em 1996 de Sarah Ferguson mas que voltou a viver com a ex-mulher, viu ser suspensa a sua promoção a almirante da Marinha Real Britânica. Segundo o diplomata, a Rainha contratou uma equipa de advogados para analisar o processo. No mês passado, André foi notificado pelo tribunal norte-americano de Manhattan no processo de agressão sexual e tem 21 dias para responder.

A fuga de Harry e Meghan
Em 2020, Harry, o neto que se assume ser o preferido da Rainha, mudou-se para os Estados Unidos com a família depois de acusar a Casa Real Britânica de não apoiar a mulher, Meghan Markle. A ex-atriz norte-americana chegou a acusar um dos membros da família de tecer comentários racistas. “Acho que não existiram. A família foi impecável com ela. No dia do casamento, o príncipe Carlos acompanhou Meghan até ao altar”, diz Bouza Serrano. Além disso, “a Rainha é a chefe da Common- wealth [comunidade de países que pertenceram ao Império Britânico], e lá existem pessoas de todas as cores e etnias. Ela preocupou-se com a situação de Nelson Mandela e do Apartheid, não pode ser acusada disso. Eles próprios disseram que não tinha sido a Rainha.”

A partida de Harry não terá sido fácil para Isabel II e José Bouza Serrano acredita que a monarca gostaria de resolver a situação. “Acho que ela continua a adorar o neto e está angustiada.” Meghan e Harry têm dois filhos, Archie e Lilibeth Diana (Lilibeth é uma homenagem à Rainha: é assim que os mais próximos a tratam). A menina já nasceu nos EUA e Harry ambicionava que fosse batizada em Inglaterra, como o irmão. Mas, segundo o antigo embaixador, não será possível – a família real terá dito que é contra.

As emoções da Rainha
Isabel II não mostra as suas emoções em público. Uma característica tipicamente britânica, segundo o diplomata José Bouza Serrano. “A Rainha gere muito as emoções, mas é afetuosa com os netos.” Esta frieza desencadeou duras críticas em dois momentos da sua vida. Em outubro de 1966, 116 crianças e 28 adultos morreram soterrados em Aberfan, uma aldeia no País de Gales. A Rainha esperou oito dias para visitar o local e a demora foi um dos seus maiores arrependimentos. Trinta anos depois, também não reagiu de imediato à morte da princesa Diana, em 1997. “No caso das crianças, ela não percebeu que o drama humano era tão grande. E quando a princesa Diana morreu não estava à espera que as pessoas reagissem daquela maneira. Demorou muito tempo a voltar para Buckingham.”

Carlos, o príncipe herdeiro
Apesar das especulações que apontam para a entrega do trono ao herdeiro mais popular, o neto William, José Bouza Serrano acredita que o próximo Rei de Inglaterra será o primogénito, Carlos. “Mas não vai conseguir aquilo que a Rainha conseguiu num reinado de quase 70 anos. Não vai acumular todo o conhecimento que Isabel II acumulou: ela conheceu vários Presidentes dos EUA, por exemplo.” Aos 72 anos, Carlos preocupa-se com a ecologia e instalou 400 painéis solares na sua propriedade da Cornualha, onde faz agricultura orgânica. “Uma das alterações que deverá fazer será reduzir o número dos membros da família real, para reduzir o orçamento real.” Camila Parker-Bowles será Rainha consorte, um papel aceite por Isabel II, mas pouco popular entre os britânicos. “Ganhou o lugar dela nos últimos anos, mas a série The Crown está a reacender o ódio contra Camila.”

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Foto: getty images
Foto: Bruno Colaço

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