A elite política nacional habituou-se a viver no ar condicionado. Já não reconhece o cheiro da poluição nas ruas.
Vive num ambiente limpo, onde só cresce o vírus da inveja. Vive para as suas cumplicidades e equilibra-se num complexo jogo de favores mútuos. Confrontada com a realidade, não a reconhece. A elite política nacional é hoje inócua. Não tem ideias, porque não vê, não lê e não ouve. Seria dispensável se não fosse necessário alguém para assinar leis e para nos representar em encontros internacionais. Como é insignificante ficará incólume à chegada, ou não, do FMI. Este, compreensivelmente, não mexerá nela. A elite apenas terá de não abrir a boca e fazer o que o fiador dos nossos credores pedir. A crise política, se chegar, ou virá da pressão social, porque as panelas de vapor rebentam, ou das movimentações no ar condicionado depois das presidenciais. Depois desta crise o que poderá é mudar a relação dos portugueses com a sua elite. A crise política poderá, por isso, ser apenas um dano colateral da falta de financiamento ao ambiente de facilitismo e consumo que vivemos depois da adesão à União Europeia. Julgava-se que os euros nasciam como cogumelos. Descobrimos que precisam de ser regados para crescer. A paralisia da nossa elite é secular, porque é incapaz de pensar e de criar. Habituou-se a viver num condomínio à parte do resto do País. A crise financeira poderá trazer, como bónus, a crise política. Aí os líderes poderão transformar-se em heróis ou vilãos desta pobre história. A próxima crise política não mudará o País. Mas poderá pô-lo a pensar.
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O Estado português falha. Os sucessivos governos do país, falham (ainda) mais, numa constante abstração e desnorte, alicerçados em estratégias de efeito superficial, improvisando sem planear.
A chave ainda funcionava perfeitamente. Entraram na cozinha onde tinham tomado milhares de pequenos-almoços, onde tinham discutido problemas dos filhos, onde tinham planeado férias que já pareciam de outras vidas.