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Violência armada em Moçambique é o principal desafio para Nyusi

26 de dezembro de 2019 às 09:23

Em causa está a violência armada em Cabo Delgado, Sofala e Manica, onde grupos armados têm protagonizado ataques armados contra viaturas civis, autoridades e aldeias.

Analistas apontam a violência armada no centro e norte do país como o principal desafio de Filipe Nyusi no próximo mandato, considerando que o atual chefe Estado ainda não conseguiu deixar a sua marca na governação do país.

"Estes dois [a violência armada no centro e norte de Moçambique] são definitivamente os principais desafios, na medida em que, além de danos à economia, causam mortes", disse o analista moçambicano Fernando Lima.

Em causa está a violência armada em alguns pontos do norte e centro de Moçambique, especificamente em Cabo Delgado, Sofala e Manica, onde grupos armados têm protagonizado ataques armados contra viaturas civis, autoridades e aldeias.

Os ataques de grupos armados na província de Cabo Delgado eclodiram há dois anos e já provocaram pelo menos 300 pessoas, além de cerca de 60.000 afetadas ou obrigadas a abandonar as suas terras e locais de residência, de acordo com a mais recente revisão do plano global de ajuda humanitária das Nações Unidas.

Por outro lado, em Sofala e Manica, centro de Moçambique, pelo menos 21 pessoas morreram deste agosto como resultados de ataques armados a viaturas nas principais estradas da região e as autoridades têm responsabilizado os guerrilheiros do principal partido de oposição (Renamo), que, por sua vez, nega envolvimento nos episódios.

Para o analista moçambicano, além da violência armado no centro e norte de Moçambique, Filipe Nyusi, reeleito para um novo mandato com 73% dos votos no escrutínio de 15 de outubro em Moçambique, tem também o desafio de vencer as diferenças sociais, cada vez mais notáveis em Moçambique.

"Não há ainda uma estratégia clara sobre o desenvolvimento de Moçambique. Não há uma estratégia que faça que haja menos diferenças sociais e a ausência de uma matriz clara para o desenvolvimento propicia violência e conflitos", declarou Fernando Lima.

Lima entende ainda que ainda não está clara a marca do chefe de Estado moçambicano, considerando que a estatísticas mostram assimetrias entre a sociedade moçambicana muito profundas.

"Há crescimento, mas não há desenvolvimento", declarou o também jornalista moçambicano, acrescentando que os níveis de pobreza continuam altos e a riqueza continua concentrada num grupo minoritário.

Por sua vez, Juma Aiuba, também analista moçambicano, entende que conter a violência no centro e norte de Moçambique será um dos principais desafios do executivo de Filipe Nyusi, considerando que o mandato anterior do Presidente moçambicano foi turbulento.

"No mandato passado não havia como cumprir nada, houve promessa feitas, mas depois apareceram novos elementos que mudaram o foco do Governo e do presidente Nyusi", declarou o analista.

Por outro lado, acrescentou Juma Aiuba, os novos desenvolvimentos do caso das dívidas ocultas mancharam a atuação de Filipe Nyusi, que foi referenciado no julgamento das dívidas ocultas, em Nova Iorque, por alegadamente ter recebido um milhão de dólares da Privinvest para a sua campanha presidencial de 2014.

O seu antecessor, Armando Guebuza, e a Frelimo também surgiram em testemunhos e documentos de transferências do estaleiro naval acusado de corrupção para montar empresas marítimas e contrair dívidas ocultas, garantidas pelo Estado moçambicano, no valor de 2,2 mil milhões de dólares, entre 2013 e 2014.

"Eu acho que vai ser uma coisa muito difícil de gerir e de limpar a imagem do Governo. A única saída que existe para que o Governo e o Presidente estejam distantes desta situação é que a justiça funcione de uma forma muito plena. Que os responsáveis sejam punidos exemplarmente e haja ações concretas da justiça moçambicana e interesse de responsabilizar os culpados", declarou Juma Aiuba.

Os resultados eleitorais do escrutínio de 15 de outubro em Moçambique foram proclamados na segunda-feira pelo Conselho Constitucional, confirmando a reeleição de Filipe Nyusi, à primeira volta, para um segundo mandato, com 73% dos votos, e a maioria absoluta da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) nas três eleições em todos os círculos eleitorais - 11 no país, mais dois no estrangeiro (África e Resto do Mundo).

No parlamento, a Frelimo reforça a maioria e vai passar a ter mais de dois terços dos lugares, cabendo-lhe 184 dos 250 deputados, ou seja, 73,6% dos lugares, restando 60 (24%) para a Renamo e seis assentos (2,4%) para o Movimento Democrático de Moçambique (MDM).

Filipe Nyusi tem a tomada de posse marcada para o dia 15 de janeiro.

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