Secções
Entrar

Quase 15% culpam a mulher se for vítima de abuso sexual enquanto alcoolizada

Lusa 25 de fevereiro de 2025 às 09:36

O mesmo estudo europeu revela que quase 60% dos homens responsabilizam as mulheres que partilham conteúdos íntimos pela publicação dessas imagens.

Quase 15% das pessoas em Portugal culpam a mulher se for vítima de abuso sexual e estiver alcoolizada e quase 60% dos homens responsabilizam as mulheres que partilham conteúdos íntimos pela publicação dessas imagens, revela um estudo europeu.

Bruno Colaço / Correio da Manhã

A análise é feita pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE, na sigla em inglês), com base nos dados constantes do Índice da Igualdade de Género 2024, no qual Portugal ocupava a 15.ª posição, com 68,6 pontos em 100, e que baseava-se em dados estatísticos de 2022 na sua maior parte.

Esta análise temática focou-se nos dados relativos ao combate à violência contra as mulheres e às desigualdades de género e, no caso de Portugal, constata, por exemplo, que 13% dos homens, mas também 14% das mulheres, tendem a concordar ou concordam totalmente que, se uma mulher for vítima de abusos ou violência sexual enquanto está alcoolizada, ela é, pelo menos, parcialmente responsável.

Por outro lado, 27% dos homens e 18% das mulheres concordam que as mulheres frequentemente inventam ou exageram quando se queixam por abusos sexuais ou violação.

O estudo conclui também que 57% dos homens e 51% das mulheres consideram que, se uma mulher partilha conteúdo pessoal íntimo com alguém, é pelo menos parcialmente responsável se essas imagens forem partilhadas com terceiros.

Cerca de 35% dos homens e 20% das mulheres em Portugal entendem que é aceitável o homem controlar as finanças da mulher, e 8% dos homens e 4% das mulheres defendem que a violência doméstica é um assunto privado que deve ser tratado na intimidade da família.

Duas em cada dez mulheres de entre 18 e 74 anos admitiram ter sofrido violência física ou psicológica a partir dos 15 anos e 28% disseram ter ficado com consequências severas por causa disso. Cerca de 53% afirmaram ter tido consequências na saúde por causa dos abusos.

Em média, cerca de um terço das mulheres (31%) na UE indicou ter sido vítima de violência física e/ou sexual por qualquer agressor desde os 15 anos.

No que diz respeito às agressões e ao sofrimento sobre mulheres particularmente marginalizadas e vulneráveis, como as mulheres com deficiência ou da comunidade LGBTI, o EIGE salienta que o problema "continua a ser ignorado" e refere mesmo que "os indivíduos trans são mais suscetíveis de sofrer incidentes de discriminação, assédio e violência do que os indivíduos cisgénero LGB [lésbicas, gays ou bissexuais] na Alemanha, em Portugal e no Reino Unido".

"Isto é particularmente verdade para as mulheres trans de cor, que são desproporcionadamente afetadas pela violência racializada contra as mulheres", lê-se no documento.

Portugal é também mencionado quando o tema é mutilação genital feminina (MGF), mas aqui de forma positiva: o país é apontado com um dos que classificam a MGF como crime autónomo, a par da Dinamarca, Grécia, França ou Luxemburgo.

"Portugal deu grandes passos na área da MGF através de três programas de ação consecutivos, que o tornaram um pioneiro nesta área", refere o EIGE.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela