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Portugal integra operação da UE e está disponível para receber refugiados afegãos

16 de agosto de 2021 às 07:24

O número de refugiados a receber em Portugal ainda está a ser avaliado. Ministro da Defesa disse não ter conhecimento de cidadãos portugueses no Afeganistão neste momento.

Portugal vai integrar a operação da União Europeia e da NATO para proteger cidadãos no Afeganistão e está disponível para receber afegãos, disse hoje o ministro da Defesa, sublinhando que o Governo acompanha a situação "com grande preocupação" .

"Acompanhamos com grande preocupação" a situação no Afeganistão, onde os talibãs estão prestes a retomar o poder, disse João Gomes Cravinho à RTP.

"O nosso objetivo imediato é apoiar, criar condições para que possam sair do país em segurança os funcionários que trabalharam com a NATO, com a UE, com as Nações Unidas e, nessa matéria, Portugal participará evidentemente num esforço coletivo que se está agora a desenhar", disse o ministro.

João Gomes Cravinho disse também que, "neste primeiro momento", o Governo português está "a dar conta às autoridades da UE, da NATO e das Nações Unidas" da sua "disponibilidade para apoiar, para receber afegãos em território português".

O número de refugiados a receber em Portugal ainda está a ser avaliado mas, segundo disse, "em relação aos funcionários do aeroporto" em Cabul da força portuguesa destacada no país nos últimos anos, "há 243 funcionários afegãos, mais as suas famílias, o que dá cerca de mil pessoas que precisarão de sair do país".

Sobre os refugiados, Portugal receberá cidadãos afegãos "a partir de um país europeu, possivelmente a Turquia", uma vez que não tem meios para ir buscá-los a Cabul, explicou Gomes Cravinho.

O ministro da Defesa disse não ter conhecimento de cidadãos portugueses no Afeganistão neste momento, mas indicou que essa informação só poderá ser confirmada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, com quem a Lusa já tentou o contacto, mas ainda não foi possível.

João Gomes Cravinho salientou que a situação no Afeganistão é uma matéria em que Portugal "estará muito ativamente empenhado, com os estados membros da União Europeia, na procura de uma posição comum europeia e com os países da NATO" e que "não terá uma iniciativa própria, nem isolada".

Sobre o regresso dos talibãs ao poder e o futuro regime no Afeganistão, o ministro defendeu que é preciso "ver até que ponto é possível dialogar com as novas autoridades".

"Mais do que as suas palavras e mais do que a sua reputação, que é muito preocupante, importa saber como se vão comportar e a nossa expectativa é que o futuro regime no Afeganistão se comporte de acordo com todas as normas internacionais, seja no seu diálogo externo, seja na forma como trata a sua população", realçou.

Segundo defendeu, "o fundamental é o respeito pelos direitos humanos, muito em particular os direitos das mulheres e das raparigas que sofreram abusos terríveis entre 1996 e 2001 quando os talibãs estiveram no poder".

"A expectativa é de que agora o comportamento seja diferente. Isso naturalmente será uma ponte para um diálogo com a comunidade internacional. Não havendo essa ponte, será extremamente difícil haver um dialogo produtivo com o regime talibã", afirmou Gomes Cravinho.

Segundo o ministro, neste momento ainda há um controlo por parte de forças internacionais no aeroporto de Cabul que pode ser utilizada para apoiar a saída dos afegãos.

Neste momento, a União Europeia não tem forças nacionais no terreno, disse.

João Gomes Cravinho fez duras críticas ao acordo assinado entre os Estados Unidos e os talibãs em fevereiro de 2020 sobre a retirada de tropas estrangeiras do Afeganistão.

"Depois desse acordo, aquilo que se está hoje a passar iria acontecer em algum momento e, infelizmente, esse acordo entre os Estados Unidos e os talibãs foi feito de uma forma extremamente imperfeita, foi feito com um calendário de retirada das tropas estrangeiras negociado unilateralmente pelos Estados Unidos e não pela NATO", disse o ministro.

O governante reforçou que "este desfecho tornou-se inevitável" e que "era uma questão de mais uns meses ou menos uns meses" para que acontecesse.

"Há muitas lições a retirar deste processo, que é um processo profundamente infeliz, do qual os países ocidentais não se podem orgulhar", frisou o ministro da Defesa.

O Presidente afegão, Ashraf Ghani, que hoje abandonou o Afeganistão quando os talibãs estavam às portas da capital, reconheceu esta noite que "os talibãs ganharam" e declarou ter fugido do país para "evitar um banho de sangue".

"Os talibãs ganharam [...] e são agora responsáveis pela honra, a posse e a autopreservação do seu país", referiu, numa mensagem publicada na rede social Facebook.

Os talibãs entraram hoje na capital afegã, após uma ofensiva militar-relâmpago. Três dos seus altos responsáveis declararam que os rebeldes se apoderaram do palácio presidencial e estão a realizar um conselho de segurança.

Entretanto, a estação televisiva Al-Jazira está a divulgar imagens de um grande grupo de combatentes talibãs dentro do palácio presidencial, na capital afegã.

Espera-se agora que anunciem a tomada do poder a partir do palácio, renomeando o país como "Emirado Islâmico do Afeganistão".

Um porta-voz do movimento islâmico radical, que governou no Afeganistão entre 1996 e 2001, disse hoje à BBC que os talibãs pretendem assumir o poder no Afeganistão "nos próximos dias", através de uma "transição pacífica", 20 anos após terem sido derrubados por uma coligação liderada pelos Estados Unidos, pela sua recusa em entregar o líder da Al-Qaida, Usama bin Laden, após os atentados de 11 de Setembro de 2001.

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