Secções
Entrar

Governo de Montenegro enfrenta moção de censura com chumbo garantido

Lusa 21 de fevereiro de 2025 às 08:01

André Ventura admitiu retirar a moção, caso o primeiro-ministro preste esclarecimentos ou faça chegar documentação ao parlamento.

O Governo PSD/CDS-PP liderado por Luís Montenegro enfrenta hoje a sua primeira moção de censura, menos de 11 meses depois de tomar posse, apresentada pelo Chega e com rejeição garantida pelo parlamento.

Rodrigo Antunes/Lusa

A moção, com debate marcado para as 15:00, tem por título "Pelo fim de um Governo sem integridade, liderado por um primeiro-ministro sob suspeita grave", e tem na origem a situação da empresa da qual Luís Montenegro foi sócio até junho de 2022 e que agora pertence à sua mulher e aos filhos de ambos.

Na quinta-feira, o líder do Chega, André Ventura, admitiu retirar a moção, caso o primeiro-ministro preste esclarecimentos ou faça chegar documentação ao parlamento.

De acordo com o Regimento, uma moção de censura pode ser retirada até ao termo do debate. Se for a votos e for rejeitada, os signatários não poderão apresentar outra durante a mesma sessão legislativa. A sua aprovação implicaria a demissão do Governo.

A abertura do debate - com duração prevista de três horas - cabe ao líder do Chega durante 12 minutos, seguindo-se idêntico tempo para o primeiro-ministro, que tem remetido para a moção de censura todos os esclarecimentos sobre o caso.

Depois, haverá 134 minutos para pedidos de esclarecimentos dos partidos ao Governo -- por ordem de inscrição -, dispondo cada bancada de cinco minutos para a primeira pergunta.

O encerramento, com dez minutos para o Governo e outros dez para o Chega, antecede a votação do documento, que tem 'chumbo' garantido, com a restante oposição a acusar o partido de Ventura de querer desviar a atenção dos seus próprios casos judiciais internos.

Na quarta-feira, ainda no Brasil onde esteve para a 14.ª cimeira bilateral, Luís Montenegro referiu-se pela primeira vez ao caso, de viva voz.

" Prestarei todos os esclarecimentos na Assembleia da República (...) Estou muito tranquilo, farei aquilo que é a minha obrigação, com toda a tranquilidade de quem honrou sempre a sua vida pessoal, profissional e política por critérios de honestidade, de tolerância e de respeito por toda a gente", afirmou.

O Correio da Manhã noticiou no sábado que a empresa Spinumviva da família de Luís Montenegro "poderá beneficiar com a alteração à lei dos solos aprovada pelo Governo" e que, sendo o primeiro-ministro "casado em comunhão de adquiridos com a principal sócia da firma", isso o deixará "numa situação de potencial conflito de interesses".

Em resposta por escrito ao jornal, o primeiro-ministro defendeu que não existe qualquer conflito de interesses, afirmou que desde 30 de junho de 2022 não é sócio dessa empresa, de que foi fundador e gerente, e que "nunca foi, não é e não será objeto da atividade da empresa qualquer negócio imobiliário ligado à alteração legislativa" da lei dos solos.

Luís Montenegro acrescentou que, do vasto objeto social dessa empresa, apenas teve execução a prestação de consultoria no âmbito da proteção de dados pessoais e assegurou que esta não teve contratos "nem nenhuma relação com qualquer entidade pública".

Entretanto, o Correio da Manhã noticiou que a alegada venda da quota de Luís Montenegro à mulher na empresa da família é nula, por ser proibida pelo Código Civil esse tipo de transmissão entre cônjuges.

Este jornal e outros órgãos de comunicação social foram acrescentando outros dados sobre a empresa: entre 2021 e 2023, teve uma faturação total de 718 mil euros e um lucro total de 345 mil euros, sendo o total de gastos com pessoal de 92 mil euros.

No domingo, o presidente do Chega, André Ventura, ameaçou apresentar uma moção de censura ao Governo PSD/CDS-PP se o primeiro-ministro não desse explicações ao país sobre este assunto, o que concretizou na terça-feira.

Embora demarcando-se da moção de censura, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, considerou que este caso é "muito semelhante" ao que levou à demissão do secretário de Estado Hernâni Dias e instou também Luís Montenegro a dar explicações "o quanto antes".

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela