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Fundação Amália Rodrigues tem "de se abrir à sociedade"

10 de abril de 2019 às 16:24

Vicente Rodrigues reconhece que a FAR está "um bocadinho adormecida", "com um património inegável, porque está ali a vida de Amália", e com "a necessidade de se abrir à sociedade".

O atual presidente da FundaçãoAmália Rodrigues(FAR), Vicente Rodrigues, afirmou que a instituição tem "necessidade de se abrir à sociedade, de fazer pontes" e de "interagir com o meio artístico, cultural e o fado".

Vicente Rodrigues, professor noISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, tomou posse há um mês como presidente do Conselho de Administração da fundação, e falou à agência Lusa, no âmbito da apresentação do projeto "Amar Amália - 20 anos de Saudade", um espetáculo que acontece no próximo dia 05 de outubro, na Altice Arena, emLisboa, e nos dias 08 e 16 de novembro, respetivamente, em Guimarães e noPorto.

O responsável reconheceu que encontrou a FAR "um bocadinho adormecida", "com um património inegável, porque está ali a vida de Amália", e com "a necessidade de se abrir à sociedade, de fazer pontes, interagir com o meio artístico, cultural e o fado" à altura da "figura emblemática que Amália era".

Vicente Rodrigues, que se encontra acompanhado na administração, entre outros, por Luís Andrade, ex-presidente da Fundação Portuguesa das Comunicações, Fernando Moura e Francisco Velez Roxo, afirmou que um dos objetivos é "recuperar os Prémios Amália", sem adiantar qual o modelo.

Os Prémios Amália foram criados pela FAR, em 2005, para distinguir a excelência da produção fadista, e interrompidos em 2015, quando se optou por distinguir apenas uma personalidade, tendo na ocasião sido distinguido o historiador Vítor Pavão dos Santos, autor de várias obras sobre a fadista e ex-diretor do Museu Nacional do Teatro.

O objetivo primordial desta nova equipa "é cumprir o legado de Amália, e a razão pela qual ela criou a FAR: "apoiar pessoas desfavorecias e instituições como a Casa do Artista [em Lisboa], ou o Centro Social do Brejão", no concelho de Odemira, no Baixo Alentejo, um objetivo que nos últimos 20 anos "não se conseguiu cumprir".

Vicente Rodrigues disse à Lusa que tal "não foi cumprido porque os custos [da FAR] têm sido sempre superiores às receitas" e advogou que há que "pôr a Fundação a dar lucros, pois, sem eles, não há distribuição de rendimentos", impondo-se assim a necessidade de "elencar um conjunto de iniciativas", que se escusou a adiantar.

Tendo tomado posse há cerca de um mês, o responsável considerou "prematuro" adiantar pormenores, e ressalvou "que ninguém tem uma varinha mágica e põe tudo a funcionar", reconhecendo a "necessidade de captar financiamentos", que "são difíceis de conseguir para a área cultural".

Os espetáculos "Amar Amália" são uma iniciativa de um parceiro externo, que foi mérito da anterior administração, realçou, dos quais a FAR recebe "uma receita". "Mas, por si próprios não chega", afirmou.

"Temos de pôr a FAR a dar lucro, para que possa efetivamente desenvolver as atividades necessárias para cumprir a missão para a qual foi criada. Se não o conseguirmos, a FAR não tem razão de existir. E no nosso ponto de vista tem [de existir], desde logo pela vontade de querermos honrar a memória da fundadora", afirmou Vicente Rodrigues, professor universitário na área de gestão.

Outro projeto é a "preservação do património de Amália", designadamente os muitos documentos da fadista, desde fotografias a cartas, recortes de imprensa, etc.. A criação de um centro de documentação está na mira da nova administração, mas, mais uma vez, Vicente Rodrigues reconhece que "é necessário financiamento".

O presidente da FAR quer também fazer "circular o património 'amaliano'" e criar exposições itinerantes, "até tirando partido das possibilidades da multimédia", assim como estabelecer parcerias com outras entidades.

A "requalificação" da Casa-Museu de Amália, em Lisboa, na Rua de S. Bento, em Lisboa, é outra prioridade.

o espetáculo "Amar Amália" estreou-se no passado dia 16 de fevereiro, na Altice Arena, em Lisboa, com direção artística de Diogo Clemente e Tiago Pais Dias, e a participação de Dulce Pontes, Paulo de Carvalho, Marco Rodrigues, Vanessa da Mata, Amor Electro, Maria Emília e Sara Correia.

O espetáculo regressa no próximo dia 05 de outubro, à Altice, com Dulce Pontes, Simone de Oliveira, que não participou na estreia por razões de saúde, Paulo de Carvalho, Marco Rodrigues, Amor Electro, Aurea e Jorge Palma.

No dia 08 de novembro, o espetáculo sobe ao palco do Multiusos de Guimarães, com Dulce Pontes, Simone de Oliveira, Paulo de Carvalho, Marco Rodrigues, Cuca Roseta, Amor Electro e Auria, e, no dia 16 de novembro, "estreia-se no Porto, em sala ainda a anunciar, com os artistas que estarão em Guimarães", segundo a FAR.

Amália Rodrigues, uma das mais internacionais vozes portuguesas, nasceu em 23 de julho de 1920, e morreu há 20 anos, em 06 de outubro de 1999, em Lisboa, tendo instituído em testamento a constituição de Fundação com o seu nome, com objetivos de solidariedade social.

Para a preparação das comemorações do centenário do nascimento de Amália, a assinalar no próximo ano, os ministérios da Cultura e das Finanças criaram um grupo de trabalho, presidido pelo musicólogo Rui Vieira Nery, segundo despacho publicado hoje em Diário da República.

Além do também professor da Universidade Nova de Lisboa, o grupo de trabalho vai ser constituído pela diretora do Museu do Fado, Sara Pereira, pela etnomusicóloga Salwa Castelo-Branco e, em representação do Ministério da Cultura, pela técnica especialista Rita Jerónimo.

O despacho, assinado em 15 de março pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, e duas semanas depois pelo ministro das Finanças, Mário Centeno, indica que este grupo tem por objetivo "elaborar uma proposta de programa oficial das comemorações de dimensão nacional e internacional, acompanhada de plano de atividades, cronograma e orçamento, para apresentar ao membro do Governo responsável pela área da cultura até 06 de outubro de 2019", quando passam 20 anos sobre a morte da fadista.

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