Secções
Entrar

Covid-19: Polícia guineense força a "longa caminhada" quem andar sem máscara na rua

04 de março de 2021 às 11:27

As pessoas são levadas até 20 quilómetros de distância para depois, voltarem para trás a pé como castigo.

A polícia da Guiné-Bissau está a levar pessoas apanhadas na rua sem máscara, no âmbito do combate à covid-19, para longe da sua zona de residência para depois terem de voltar a pé, disseram à Lusa várias fontes.

Nos últimos dias, com o aumento de casos de infeção pela covid-19, a polícia intensificou o controlo da exigência do uso de máscara e quem for apanhado é 'convidado' a subir para a viatura para ser transportado para fora da sua zona de residência.

É normal uma pessoa ser apanhada num bairro de Bissau e ser levada até perto de Quinhamel, Prabis ou Safim, localidades a mais de 20 quilómetros da capital para de lá regressar à pé, contou à Lusa Nico Yé, um jovem do bairro de Calequir, que há três dias "quase" foi levado até Quinhamel.

Nico escapou-se do castigo que seria ter de andar a pé uma distância de cerca de 40 quilómetros, porque tinha dinheiro para apanhar 'toca-toca' (transporte interbairros) para regressar do Bairro Militar para Calequir.

O argumento da polícia é que quem não tem máscara não pode estar na via pública, disse à Lusa fonte do Ministério do Interior, sublinhando não existir ordem expressa nesse sentido, mas que seria uma "tática para sensibilizar" as pessoas pelo uso daquela peça protetora.

O Presidente guineense promulgou em 24 de fevereiro o decreto de estado de calamidade no país por mais um mês devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus e que obriga à utilização de máscara na rua.

O ritual da polícia começa pela abordagem à pessoa encontrada na via pública sem máscara a quem convida a usar em caso de a ter guardada no bolso, na mala, na mochila ou no carro.

Se a pessoa disser que não a tem é convidada a comprar no posto de venda mais perto ou num vendedor ambulante.

Se a pessoa não tiver dinheiro (100 francos CFA [0,15 euros] por cada máscara) é logo obrigada pela polícia a subir para a carrinha de caixa aberta para ser transportada para um lugar distante.

Logo que a pandemia foi declarada na Guiné-Bissau, em março de 2020, a polícia foi acusada por vários setores da sociedade de maus-tratos aos cidadãos aos quais infligiu açoites, obrigação de flexões na via pública ou pagamento de coimas por falta de uso de máscaras.

Mesmo com a tática da polícia de transportar pessoas para zonas distantes da sua área de residência, alguns guineenses continuam a considerar que a covid-19 não é motivo para preocupação.

Alguns consideram que a doença "só apanha quem toma sopa", "quem vem da terra dos brancos" ou mesmo "quem nunca teve paludismo na vida".

O paludismo, ou a malária, é uma doença endémica na Guiné-Bissau.

O Alto-Comissariado para a Covid-19 na Guiné-Bissau tem multiplicado os apelos para a obrigatoriedade do uso de máscara e para o cumprimento das restantes medidas de proteção, incluindo o respeito pelo distanciamento e a lavagem constante das mãos.

Desde que foram detetados os primeiros casos de covid-19 no país, em 25 de março de 2020, a Guiné-Bissau registou um total acumulado de 3.282 casos e 48 vítimas mortais.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela