Secções
Entrar

Coronavírus: Recolha de dados já vem tarde, dizem especialistas

01 de abril de 2020 às 10:28

Comissão Europeia quer avançar com a monitorização de dados pessoais anónimos para analisar os padrões de mobilidade, incluindo o impacto das medidas de confinamento.

Especialistas na área digital consideraram hoje que o rastreamento de informações pessoais anónimas poderá ajudar a conter a propagação da pandemia na União Europeia (UE), mas afirmaram que a medida chega tarde, pedindo ainda proteção destes dados.

"Esta crise e as medidas de confinamento adotadas não têm precedentes. O que também é inédito é a quantidade de dados disponíveis, que podem ajudar a entender melhor a crise, a disseminação do vírus, o comportamento individual e como os Estados-membros podem responder melhor, aprimorando as medidas já implementadas", afirma em declarações à agência Lusa Andreas Aktoudianakis, analista de política digital do grupo de reflexão European Policy Centre.

Numa altura em que a Comissão Europeia quer avançar com a monitorização de dados pessoais anónimos (obtidos por uma operadora em cada Estado-membro) para, desta forma, analisar os padrões de mobilidade, incluindo o impacto das medidas de confinamento e, portanto, os riscos de propagação da covid-19, o especialista diz à Lusa que tal medida "poderá ajudar a obter uma leitura mais clara do impacto das medidas adotadas pelos Estados-membros".

"Isso é crucial para delinear o fornecimento de equipamentos médicos e antecipar a disseminação da covid-19 e o seu pico em cada país", aponta Andreas Aktoudianakis.

Contudo, por só não ter sido logo adotada aquando do início do surto, esta coleta poderá "não atingir todo o seu potencial, dado ser uma medida de emergência com planeamento e aplicação reativos", sustenta o analista.

Para Andreas Aktoudianakis poderá, ainda assim, estar em causa uma "boa notícia", de que esta medida se traduz num "exercício muito útil que pode acelerar o diálogo e a criação das ferramentas necessárias que permitirão à UE e aos Estados-membros estarem melhor preparados para lidar com ameaças semelhantes no futuro".

Também em declarações à Lusa, o analista Dharmendra Kanani, do grupo de reflexão Friends of Europe, vinca que "os dados são reis na luta contra a covid-19".

"Todos beneficiam com a obtenção de dados como a taxa de infeção, a taxa de mortalidade, a taxa de recuperação, as vacinas e os seus testes, as capacidades hospitalares, os equipamentos médicos, o total de profissionais de saúde e os resultados do isolamento social ou dos bloqueios para conter a transmissão desse vírus", precisa.

Porém, para este responsável, para haver uma "partilha desses dados em toda a UE era essencial que existisse uma abordagem europeia [à pandemia], que infelizmente está ausente".

Para Dharmendra Kanani, "o principal dilema moral" prende-se agora com a necessidade de "proteger a privacidade e os direitos humanos enquanto se recolhem dados em bloco".

"Será importante que a Comissão Europeia demonstre, com ações e evidências, que ambos os objetivos podem ser alcançados", vinca o especialista.

Já no que respeita à legislação comunitária para proteção dos dados, Dharmendra Kanani assinala que esta medida "não compromete os seus princípios, desde que garanta o anonimato [das informações pessoais] e que as salvaguarde".

"Em tempos de emergência, sabemos que certas regras e regulamentos podem ser adaptados e usados de maneira diferente", acrescenta.

Outra preocupação manifestada por este analista prende-se com a criação de uma "mega base de dados" detida por Bruxelas.

"Para que isso seja bem-sucedido, a UE tem de criar uma campanha que permita às pessoas entender por que isto é importante e o que oferecerá em termos de benefícios potenciais à saúde e de retorno à vida normal a médio prazo", adianta Dharmendra Kanani.

Ainda não existe data para o projeto avançar, mas Bruxelas quer que aconteça o mais rapidamente possível, sendo que isso também depende das operadoras.

Em causa está um modelo estatístico que analisará os padrões de mobilidade dos cidadãos (fazendo comparação dia e noite) e os correlacionará com a propagação do novo coronavírus.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 828 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 41 mil.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela