Secções
Entrar

Austrália nomeia mediadores para negociar fronteira marítima com Timor-Leste

02 de maio de 2016 às 12:08

O Governo australiano nomeou hoje dois mediadores para se juntarem a dois nomeados por Timor-Leste no âmbito do Procedimento de Conciliação Obrigatória na ONU

O Governo australiano nomeou esta segunda-feira, último dia do prazo, dois mediadores para se juntarem a dois nomeados por Timor-Leste no âmbito do Procedimento de Conciliação Obrigatória (PCO) nas Nações Unidas para negociar as fronteiras marítimas dos dois países.

Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros australiano confirmou à Lusa a nomeação dos dois mediadores, no âmbito do processo sem precedentes iniciado por Timor-Leste para obrigar Camberra a sentar-se à meda das negociações.

"A Austrália respondeu hoje à notificação de conciliação de Timor-Leste", refere um comentário do porta-voz australiano remetido poremail em resposta a várias questões colocadas pela Lusa sobre esta matéria.


Em comunicado, o Governo timorense considera que o processo de conciliação obrigatória poderia ter sido evitado com "compromisso" do Governo australiano.

"Devido às constantes recusas da Austrália em negociar uma fronteira marítima permanente, Timor-Leste iniciou o processo ao abrigo das disposições da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, para viabilizar um acordo com a Austrália sobre esta matéria", refere o comunicado do gabinete do porta-voz do Governo, o ministro de Estado Agio Pereira.

"Timor-Leste está pronto a comprometer-se totalmente com a Comissão, que visa ajudar os dois países a chegarem a um acordo amigável. No entanto, tudo isto seria desnecessário entre dois países amigos", frisou.

Os quatro mediadores nomeados pelos dois países - cujas identidades não foram ainda reveladas publicamente - decidirão agora entre si na nomeação de um quinto, formando a comissão de conciliação que ouvirá a posição de cada um dos Estados e, caso não haja acordo, a comissão apresentará ao secretário-geral da ONU um relatório a recomendar apoio na resolução.

Camberra e Díli seriam então obrigadas a negociar em boa-fé, com base no relatório da comissão.

Recorde-se que Timor-Leste desencadeou a 11 de Abril o Procedimento de Conciliação Obrigatória (PCO) nas Nações Unidas por considerar que apesar dos acordos temporários de partilha dos recursos do Mar de Timor continua a não haver fronteiras permanentes entre os dois países.

Díli sustenta que o facto da Austrália se retirar dos procedimentos de resolução internacionais o que, insiste Díli, limita "os meios de Timor-Leste fazer cumprir os seus direitos ao abrigo do direito internacional".

A conciliação obrigatória é um processo previsto na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNDUM) e obriga a Austrália a participar num processo formal conduzido por um painel independente de peritos denominado "comissão de conciliação".

O procedimento pode ser usado em casos em que as partes não chegam a acordo ou um dos Estados tomou a decisão de se excluir da jurisdição das instituições internacionais dedicadas a mediar em conflitos sobre fronteiras marítimas.

Questionado sobre a crítica timorense de que a Austrália não quer negociar de acordo com a lei do mar com Timor-Leste apesar de insistir nessas negociações para disputas, por exemplo, no Mar do Sul da China, o porta-voz australiano disse que as duas posturas são "consistentes".

"O ênfase australiano na importância da aplicação da lei no Mar do Sul da China é consistente com a nossa relação com Timor-Leste no que toca a reivindicações sobre fronteiras marítimas. A Austrália apela aos governos com reivindicações territoriais no Mar do Sul da China para resolver as disputas pacificamente de acordo com alei internacional", referiu o porta-voz.

"Foi isso que a Austrália e Timor-Leste fizeram no Mar de Timor - tratados para gerir as nossas reivindicações sobrepostas. O Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de Timor (CMATS ) que vigora desde 2007 é completamente consistente com o espírito e a letra da lei internacional, incluindo a CNDUM", sublinha.

Questionado sobre o impacto negativo que o assunto está a ter nas relações bilaterais a mesma fonte considerou que o relacionamento entre os dois países "é mais do que só o Mar de Timor" e que os ambos partilham o objectivo de "construir uma nação pacifica e prospera" em Timor-Leste.

"A Austrália é o maior parceiro de desenvolvimento em Timor-Leste e fornecerá assistência no valor de 95,3 milhões de dólares australianos em 2015-16. É também o maior parceiro de Timor-Leste em defesa e segurança", concluiu.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela