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Associações de imigrantes querem campo de críquete em Lisboa perante aumento de sul-asiáticos

Lusa 28 de setembro de 2024 às 14:48

"Só temos um campo no Cartaxo e temos 28 equipas na liga portuguesa", revela Jitesh Kumar, 56 anos, que está desde os anos 1980 em Portugal, país que já representou na modalidade.

Associações de imigrantes de origem sul-asiática reclamam a construção na Grande Lisboa de um campo de críquete, modalidade desportiva que tem aumentado com os milhares de indianos, nepaleses, bengalis e paquistaneses que têm chegado ao país.

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Foto: António Cotrim/Lusa
Foto: António Cotrim/Lusa
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Foto: António Cotrim/Lusa

"Só temos um campo no Cartaxo e temos 28 equipas na liga portuguesa", afirmou à Lusa Jitesh Kumar, 56 anos, que está desde os anos 1980 em Portugal, país que já representou na modalidade.

"Nós lutámos pela nossa bandeira, que é Portugal", e, "neste momento o críquete está a crescer bastante", mas "faltam campos" para treinar e jogar.

Nas ruas da capital portuguesa são frequentes os jogos improvisados de críquete, do Martim Moniz ao Parque das Nações.

Hoje, foi a vez de a Alameda Afonso Henriques ser palco de um jogo de demonstração, integrado no Festival Gandhi, organizado pela associação Casa da Índia.

O críquete é "um desporto que está em segundo lugar em número de praticantes, em termos mundiais" e a construção de um campo oficial na Grande Lisboa seria "uma ajuda grande para o nosso país", até por razões turísticas, afirmou Jitesh Kumar.

Opinião semelhante tem o presidente da associação Casa da Índia, Shiv Kumar Singh, considerando que a prática desportiva também é uma forma de integrar os imigrantes que escolheram Portugal para construir a sua vida.

"Nem todos querem jogar de modo profissional" e é importante "espaços de desporto", explicou o dirigente, embora salientando que a integração de muitos imigrantes sul-asiáticos pode constituir uma oportunidade para Portugal.

"Esta comunidade poderá representar Portugal na modalidade de críquete", como já sucede nalguns países europeus como os Países Baixos ou a França, explicou, salientando que isso seria um orgulho para muitos imigrantes, como forma de retribuir o acolhimento.

"Queremos que a bandeira de Portugal esteja presente também na modalidade", disse.

A prática do críquete causa estranheza em muitos portugueses, mas Shiv Kumar Singh considera que todos podem beneficiar. "Quanto mais multicultural for o mundo, melhor será o mundo", salientou.

"Os imigrantes estão cá para ficar cá, com os filhos nas escolas" e o desporto ajudaria nesse caminho de convivência conjunto.

"Não podemos negar o conforto que os imigrantes têm" em Portugal, porque "o povo português é simpático" e, "mesmo não falando a bem língua portuguesa, as pessoas conseguem fazer-se entender", afirmou, minimizando o impacto das atitudes xenófobas por parte de alguns grupos e movimentos políticos.

"Não acho que a maioria dos portugueses pense assim" e "os empresários precisam dos trabalhadores", salientou.

O dirigente associativo considera que "há muitas coisas" que é preciso melhorar nas políticas de imigração em Portugal, mas reconhece isso não acontece "de um dia para o outro".

Reconhecendo que existem problemas estruturais em áreas como a Educação ou a Saúde, Singh sublinhou que "não são só os imigrantes que estão a criar problemas" e é "preciso compreensão de todos", porque os estrangeiros contribuem para as receitas do Estado.

"É importante que os portugueses conheçam mais a comunidade sul-asiática", que se quer integrar de um modo saudável na sociedade.

"A lei está acima de todos nós, todos temos de respeitar a lei", seja a "comunidade portuguesa ou a comunidade migratória", afirmou, rejeitando a ligação feita por movimentos políticos, como o Chega, entre os imigrantes e a criminalidade.

"Por casos singulares, não podem apontar [o dedo a] toda a comunidade", até porque "Portugal tem sido um dos países mais seguros do mundo e nós queremos que isto continue", disse o dirigente, apelando ao consenso.

"Os problemas de Portugal são problemas dos imigrantes e os problemas dos imigrantes são problemas de Portugal. E juntos vamos encontrar uma solução", resumiu.

Quer as autoridades nacionais quer o governo têm alegado que não há qualquer relação entre a criminalidade e os imigrantes, rejeitando que existam dados que apontem para mais insegurança.

Na apresentação do Plano de Ação para as Migrações, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, voltou a rejeitar "qualquer ligação direta" entre a "capacidade de acolher imigrantes e aumentos de índices de criminalidade".

No relatório da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), em 2023, tinham residência em Portugal mais de 115 mil sul-asiáticos, com os indianos a serem a maior comunidade (44.051), seguidos do Nepal (29.972), Bangladesh (25.666) e Paquistão (17.148), países que têm no críquete a sua principal modalidade. 

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